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Gero o prompt e desisto: IA nos deixa mais burros e sem criatividade?

Colunistas de Tilt e Colaboração para Tilt

03/06/2025 05h30

(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts. Nesta semana, os assuntos são: O uso disseminado de ferramentas de IA generativa está comprometendo nosso senso crítico e nossa criatividade?; Novas estratégias do Governo Federal para regular as redes; 'Morde e assopra' entre Google e Apple; A nova guerra dos browsers.)

O surgimento de Chatbots como o ChatGPT, Perplexity e Google Gemini é algo relativamente recente. Essas ferramentas de Inteligência Artificial estão cada vez mais populares e, com o uso cada vez mais intenso, já há indícios de que podem estar contribuindo para uma queda cognitiva entre os seres humanos — pelo menos é o que algumas pesquisas vêm sugerindo.

No novo episódio de Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, o professor e pesquisador Diogo Cortiz destacou que, embora ainda não exista um consenso entre os especialistas, há hipóteses que apontam para um "efeito Flynn" ao contrário.

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O conceito citado por Cortiz foi formulado pelo psicólogo e filósofo James Flynn em 1982. Na época, ele percebeu que os testes de QI nos Estados Unidos eram revisados a cada 25 anos e, curiosamente, pareciam mais fáceis para as novas gerações — ou seja, quanto mais antigo o teste, mais fácil ele parecia ser.

Só que algumas pesquisas mostram que o 'efeito Flynn' pode estar estagnado. Ou pior, pode estar acontecendo o reverso, ou seja, as próximas gerações podem apresentar quedas do QI
Diogo Cortiz

Algumas hipóteses apontam o uso excessivo de inteligência artificial e redes sociais como possíveis responsáveis por esse declínio. O pesquisador Michael Gerlich, da Swiss Business School, conduziu um estudo com 666 pessoas no Reino Unido e identificou uma correlação entre o uso frequente de IA e a diminuição do pensamento crítico.

O jornalista Helton Simões Gomes, que apresenta o Deu Tilt ao lado de Cortiz, reforça que, diante da ausência de consenso, é essencial analisar os dados com cautela.

Outro estudo, desenvolvido pela Universidade Carnegie Mellon em parceria com a Microsoft, revelou que, quanto mais os participantes — 319 profissionais que trabalham com dados e informações — dependiam da IA para realizar tarefas, menor era sua capacidade de pensamento crítico. O oposto também foi observado: aqueles que recorriam menos à tecnologia mantinham melhor desempenho cognitivo.

Os apresentadores apontam que o uso da IA vem carregado de uma promessa de eficiência. No entanto, essa narrativa pode ser ilusória — e até perigosa.

O discurso que se cria é que se você gastava dez horas para fazer uma atividade e agora você gasta uma, vai ter nove horas liberadas para fazer algo mais criativo, ou desempenhar uma atividade de lazer? É uma promessa muito boa, adoraria que fosse o caso, mas não é assim que a banda toca
Diogo Cortiz

Segundo Cortiz, o modo como a sociedade está organizada tende a ocupar esse "tempo livre" com ainda mais trabalho, ao invés de liberar espaço para a criatividade ou o lazer. Ele também chama atenção para o impacto dos vídeos curtos e da velocidade dos algoritmos nas redes sociais, que dificultam a organização e a apreensão de ideias mais complexas.

Se o uso excessivo da IA vai tornar as pessoas mais "burras", ainda é algo a ser aprofundado. Para Cortiz, tudo depende da forma como essas ferramentas são utilizadas.

Quando você faz uma pergunta para a IA e reflete sobre aquela resposta de maneira crítica, você vai se desenvolver cognitivamente. Agora, se a galera vai usar na preguiça, vai pedir o prompt, pegar e vai embora? vai emburrecer, porque não está trabalhando o músculo. Se não trabalha, ele (o cérebro) vai atrofiar
Diogo Cortiz

Governo tenta apagar derrota do PL das fake news

O PL 2630/2020, conhecido como "PL das Fake News", que inicialmente visava criar normas para redes sociais e aplicativos de mensagens privadas, foi sendo alterado ao longo do tempo. O que começou como um esforço para conter a disseminação de desinformação acabou sendo visto pela oposição como uma tentativa do governo de censurar a internet. Com a polêmica, o projeto acabou perdendo força.

A paralisação do PL é vista como uma derrota para o atual governo, que agora busca novas alternativas para retomar a discussão sobre a regulação das redes em outras bases.

O governo desenvolve um projeto dentro do Ministério da Fazenda que vai dar mais poder ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A visão do governo é que o Cade tem poucas ferramentas para lidar com o setor tecnológico. As empresas são tão grandes e dominam tantos mercados que, quando elas mudam alguma coisa, o regulador só vai perceber quando é tarde demais
Helton Simões Gomes

Além deste projeto, há outras iniciativas em curso que pretendem abordar o tema da regulação das redes a partir de outras estratégias. Uma delas é pauta a questão a partir do viés da proteção dos direitos das crianças e adolescentes, e outra é o questionamento ao modelo de negócio das Big Techs.

Apple e Google: amigos ou inimigos?

Não é apenas a Meta que enfrenta acusações de monopólio. O Google também está sendo julgado pelo Departamento de Justiça dos EUA por monopolizar o mercado de buscas online. Agora, a discussão gira em torno das possíveis soluções para o caso. Uma das propostas mais radicais é a obrigatoriedade da venda do navegador Google Chrome.

A gente está numa fase do julgamento em que são convidados grandes nomes da tecnologia. Um deles é parceiro do Google, foi peça chave na acusação de monopólio e de alguma forma é rival também
Helton Simões Gomes

O parceiro citado por Gomes é a Apple, com quem o Google mantém uma relação para lá de confusa. Em alguns momentos, as duas gigantes da tecnologia se configuram como parceiros, em outros, são francos concorrentes.

Uma nova guerra dos browsers no horizonte?

Em 2010, a revista norte-americana Wired estampou em sua capa: "The Web is Dead" ("A web está morta"), sugerindo que a navegação tradicional estava com os dias contados. Apesar disso, e a julgar pelo interesse das Big Techs, os navegadores — ou browsers — parecem estar mais vivos do que nunca.

No novo episódio do Deu Tilt, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes comentam o crescente interesse de grandes empresas na aquisição de navegadores, uma tecnologia que parecia ultrapassada.

Para Cortiz, essa mudança de foco está diretamente ligada à transformação dos hábitos de consumo. Ele destaca que empresas como a Perplexity — focada em IA e que já tentou comprar o TikTok — e até o Yahoo! demonstraram interesse em comprar o navegador do Google, mesmo que ele ainda não esteja à venda.

O browser acaba se tornando a próxima grande interface da nova onda de IA
Diogo Cortiz

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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