'Tem 200 mil me seguindo': família de Liz Macedo lida com fama repentina

Fenômeno adolescente

Filha de duas pessoas até então anônimas —uma administradora e um engenheiro—, Liz é uma adolescente como as outras: frequenta a escola, tem dificuldades com as matérias de exatas, gosta de produtos de autocuidado, provoca o irmão mais velho, tem um namorado e faz dancinhas coreografadas com as amigas.

A adolescente cresceu com celular, ganhou o primeiro aos 7 anos. Na época, ainda sem chip ou acesso às redes sociais. Depois de um tempo, os pais cederam. Mas eles afirmam que o conteúdo consumido pela Liz e o irmão Luiz sempre foi filtrado.

Hoje, assim como muitas meninas, ela filma tudo o que vive e compartilha no TikTok. Mas o que ela retrata não é uma suposta vida perfeita: Liz não tem vergonha de aparecer de pijama, com adesivos cobrindo espinhas e touca de cetim no cabelo. Ela mostra a unha inflamada e pede dicas para conseguir ir ao banheiro.

Seus vídeos, em poucos minutos, batem milhares de visualizações. A identificação dos seguidores é instantânea. O pai dela, o engenheiro Fernando Paganini Macedo, 46, acredita que mostrar essa realidade cria a conexão autêntica da filha com os seguidores.

"A gente sabe que o adolescente passa por esses problemas, que o adulto passa por esses problemas. É uma condição real de vida", avalia ele. A mãe, a administradora Vanessa Paganini Macedo, 47, concorda. "O adolescente é envergonhado. E ela não tem vergonha de absolutamente nada, pelo menos não na câmera."

De repente... famosa

Demorou um pouco para a família entender o alcance da jovem. Apesar de terem noção dos altos números, foi apenas em uma viagem em família para Gramado (RS) que eles notaram que as coisas estavam saindo do controle.

"Quando a gente se deu conta que a gente precisava mudar os hábitos, principalmente no aspecto de segurança, foi em Gramado. Uma menina chegou na hospedagem que estávamos. Aquilo deu um estalo na gente", lembra a mãe Vanessa.

Hoje, Liz já não posta mais fotos com uniforme e evita falar em que cidade mora. Os pais não a deixam andar de carro de aplicativo sozinha, preferem levá-la e buscá-la em festas. Por ser menor de idade, os pais sempre a acompanham nos compromissos profissionais.

A família sempre gostou de frequentar praça de alimentação, mas hoje não consegue mais. Quando Liz vai ao shopping com amigas anônimas, se preocupa em avisar que talvez alguém a aborde e saber se está tudo bem para quem a acompanha.

"Também penso em sair nos dias em que minha bateria social está boa, porque sei que hoje em dia eu não posso mais ficar com a cara fechada", conta Liz ao UOL. "E às vezes é só uma TPM, ela é uma adolescente", completa a mãe.

Mas a profissão tem seu lado positivo. Recentemente, ela participou do clipe de Bota um Funk ao lado de Anitta e Pedro Sampaio.

Vida escolar é prioridade

Liz estuda em uma escola particular e cursa o 1º ano do ensino médio. Desde o início do ano ela tem aula em período integral, então precisa fazer um malabarismo para conciliar a rotina de estudo com o trabalho de influenciadora.

"O pior para mim não é estudar. Eu gosto de estudar, gosto de estar na escola. Mas é não surtar de cansaço, muita coisa na cabeça ao mesmo tempo. Neste ano tenho mais provas e mais simulados", revela Liz.

O colégio está ciente de sua profissão e rotina. Assim como todos os adolescentes, a partir deste ano, ela não pode mais usar o celular dentro da escola —e ela não foge à regra por ser influenciadora. Dentro do espaço, Liz é apenas mais uma adolescente de 15 anos.

Fernando e Vanessa tentam conversar com a instituição para que Liz seja transferida para uma sala de alunos de alto rendimento —como são chamados os estudantes que têm uma rotina mais puxada por serem atletas federados. Com isso, ela não teria aulas à tarde.

Mesmo com a rotina puxada, as notas dela são boas. E, quando olha para o futuro, não se vê trabalhando apenas com a internet. "Nem que eu faça uma faculdade por hobby. Para mim, que gosta de estudar, não fazer faculdade é como largar tudo no meio do caminho."

E a vida dos pais?

Vanessa é administradora de empresas e estuda psicologia. Fernando é engenheiro e trabalha em uma empresa de tecnologia, de forma híbrida. Nos compromissos profissionais de Liz, os dois se revezam para acompanhá-la.

"A gente teve que adaptar as nossas vidas", assume a mãe. "A faculdade era o meu lugar de ser só Vanessa. Lá eu não era a mãe da Liz. Era o único lugar que eu não era mãe de ninguém. Agora, me reconhecem como mãe da Liz."

Isso também acontece com o pai dela. "Eu sou CLT. Muitas vezes, meus amigos do trabalham pedem: 'será que a Liz consegue mandar um vídeo para a minha sobrinha?'. Então, passamos a ser reconhecidos como pais da Liz."

Em janeiro de 2025, Liz passou um mês nos Estados Unidos em um intercâmbio. Por lá, ela não foi reconhecida.

"Foi um pouco reconfortante, sabe? Acho que já tenho muito problema para fazer amizade aqui no Brasil, por medo de me machucar. Das pessoas esperarem uma coisa de mim e eu ser outra. Lá as pessoas não esperavam nada de mim."