Dilma e Zuckerberg: como foto selou a vitória (fugaz) do Facebook no Brasil

Enquanto a Meta opera uma aproximação junto a Donald Trump, ex-funcionários revelam os bastidores de uma época em que a companhia, ainda chamada de Facebook, corria atrás de outros líderes mundiais para convencê-los de seu poder para promover inclusão digital.

Até agora, os esforços da vez surtiram pouco efeito —corre sem sobressaltos a ação judicial movida por agência do governo norte-americano que pode 'quebrar' a Meta. Mas, no passado, deram resultado. Um dos souvenirs dessa era de sucesso acaba de completar dez anos. É uma foto. Nela, Dilma Rousseff, então presidenta do Brasil, veste um blusão do Facebook. Posa ao lado de Mark Zuckerberg, CEO da empresa. Sorridentes, os dois selam a paz entre a rede social e o governo brasileiro e anunciam um programa para levar internet a áreas remotas.

A vitória, no entanto, durou pouco, relata um ex-funcionário, que conversou com Radar Big Tech em condição de anonimato por não ser autorizado a falar em nome da empresa. E a tremenda dor de cabeça que se seguiu segue até os dias de hoje.

O que rolou?

Dilma e Zuckerberg se encontraram na Cúpula das Américas de 2015, no Panamá. Foi histórico. Não pela presença do Facebook. Era a primeira vez que Cuba ia à reunião, realizada desde 1994 para congregar países da OEA (Organização dos Estados Americanos). Todos aguardavam a foto final, que coloca na mesma cena incluiria Barack Obama, dos EUA, e Raúl Castro, de Cuba, mas:

  • Zuckerberg tinha sua própria agenda. Foi para lá a contragosto e após convite garimpado por Sarah Wynn-Williams. É a ex-diretora de políticas públicas do Facebook que conta a história nas primeiras páginas de "Careless People", livro que virou best-seller nos EUA após a Meta proibir a autora de divulgá-lo. Toda a cena é embaraçosa, porque...
  • ... No coquetel de abertura, o CEO do Facebook foi posicionado longe dos chefes de Estado, numa mesa de parentes do presidente anfitrião. Só que?
  • ... Sarah tentou contornar a situação: escondeu a plaquinha de Mark na bolsa para trocá-la com a de um presidente - ela omite o nome, mas o chama de "menor". Não dá certo: a troca é desfeita. Ela tenta a manobra de novo, mas desiste. O cerimonial já havia captado suas intenções. Enquanto isso...
  • ... Outro funcionário brinca: Mark quer sentar com Castro. Sarah afasta a ideia e busca líderes para falar com o CEO, escanteado na festa. O climão não para, já que...
  • ... Ao abordar Stephen Harper, então primeiro-ministro do Canadá, ouve um sonoro "não", testemunhado por Zuckerberg, que se aproximava. A busca continua -em vão- por uma hora, até que...
  • ... Um constrangido Zuckerberg, não acostumado "a ser ignorado" e sempre "cercado por gente que acredita que ele é a pessoa mais interessante da sala", decide sair de fininho, mas...
  • ... O constrangimento de serem flagrados pela imprensa os impede. Só conseguem fugir por um túnel escuro onde disputam espaço com cavalos. Poucos dias depois...
  • ... Zuckerberg se encontra com uma entusiasmada Dilma Rousseff, e o Facebook fecha um acordo com o maior país latinoamericano para implantar seu ambicioso projeto de internet.

"Agora, a Meta está de joelhos pro Trump. Na época, o grande objetivo do Facebook era se aproximar dos políticos "tier 1" no Brasil."
Ex-funcionário do Facebook

Por que é importante

"O encontro do Mark com a Dilma em 2015 foi a coroação de esforços de aproximação de anos. Ela colocar o moletom que ganhou dele na Cúpula do Panamá e comprar o discurso de esforços conjuntos em prol de acesso à internet colocava o Facebook no caminho exato que a empresa queria"
Ex-funcionário do Facebook

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Obviamente, não foi trocando plaquinhas de identificação em coquetéis de luxo ou correndo com cavalos que os executivos da rede social se aproximaram do governo brasileiro. Até porque a força de atração era nula por parte do comissariado.

Desde que se estabeleceu no Brasil em 2011, a empresa enfrentava críticas por não ser ágil para tirar do ar conteúdos criminosos, com venda de armas, pornografia infantil e propaganda neonazista. Até chegava a recusar. Tanto que, durante as eleições de 2012, a Justiça Eleitoral ameaçou fechar o escritório dela no Brasil e prender seus executivos. No mesmo ano, a empresa foi convocada a depor na CPI da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, da Câmara dos Deputados.

O caldo entornou em 2013, quando ex-agente da CIA Edward Snowden revelou que os EUA usavam as empresas norte-americanas de tecnologia -Facebook entre elas- para espionar líderes globais, como a própria Dilma. As aquisições de Instagram, em 2012, e WhatsApp, em 2014, só reforçaram a impressão de que a empresa estava disposta a tudo para conservar seu poder.

O azedume só arrefeceu —um pouquinho— quando a empresa começou a capacitar pequenas empresas e a instalar laboratórios de inovação dentro de favelas, conta o ex-funcionário do Facebook.

"Distribuição de renda e tecnologia eram pautas importantíssimas no governo Dilma. A reputação começou a melhorar. Éramos a plataforma que democratizava o espaço publicitário, antes acessível só a grandes anunciantes. Nossa narrativa era: 'antes, apenas grandes redes de hotéis chegavam a hóspedes em potencial. Hoje, o albergue Rocinha Guest House pode ocupar o mesmo espaço no feed que o Sheraton Rio'"
Ex-funcionário do Facebook

Anunciado em abril de 2015, o projeto Internet.org seria lançado de fato em junho a partir de uma iniciativa que já funcionava em Heliópolis, a maior favela de São Paulo. Por um lado, levaria conexão a áreas remotas, com drones e satélites. Por outro, ofereceria conexão gratuita à Wikipedia, a serviços do governo e às redes sociais do grupo.

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"O objetivo fundamental é a inclusão digital, mas não é a inclusão digital pela inclusão digital, é a inclusão digital que pode garantir acesso a educação, saúde, cultura e tecnologias"
Dilma Rousseff, presidente do Brasil (2011-2016)

Não é bem assim, mas tá quase lá

O gostinho da vitória durou pouco. O Brasil completava 20 anos de internet comercial e tinha sancionado no ano anterior o Marco Civil da Internet, uma lei pioneira em escala mundial, seja pela forma como foi construído, seja pela abrangência. Com poder e visibilidade de sobra, a comunidade da internet fustigou as lacunas do projeto.

O CGI (Comitê Gestor da Internet) questionou o acordo em três pontos:

  • por que haveria limitação de acesso a determinados conteúdos?
  • o que estaria associado à oferta de internet e como ficaria a privacidade dos usuários?
  • quem preoveria a infraestruturas utilizada?

Acompanhada de mais de 30 entidades, a Proteste bateu diretamente na porta da Presidência da República. Nem executivos do alto escalão do Facebook sabiam direito os objetivos do projeto. "Nós nunca soubemos o real interesse por trás do 'Internet.org' ou como se 'monetizaria'. Mas, sem dúvida, ter nas mãos a informação do que, quando e como as pessoas acessam seria uma ferramenta poderosíssima", diz o ex-funcionário.

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Seria. Mas não foi. Um app para internet lenta até chegou a ser lançado, mas os drones foram engavetados em 2018. Ainda em 2015 a lua de mel entre Brasil e Facebook desandou de vez. No fim daquele ano, o WhatsApp foi bloqueado por não cumprir decisões judiciais. Em março do ano seguinte, Diego Dzodan, vice-presidente do Facebook na América Latina, foi preso no meio da rua ao ter o carro interceptado pela PF quando ia para o trabalho no Itaim Bibi, região nobre de São Paulo. Motivada pelas constantes negativas da empresa a interceptar mensagens do app recém-adquirido, a cena, digna de filme, selou de vez o fim da fugaz vitória do Facebook.

Sobrou a foto.

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Imagem: ARTE/UOL

Para pesquisar "qualquer coisa"... incorporando capacidades do Gemini 2.5, o Modo IA do Google inaugura, nas buscas, uma interação parecida com a de chats de IA generativa. No lançamento da última terça (20), a Big Tech prometeu "habilidade de interpretar profundamente as perguntas complementares" e desafiou o usuário: "faça perguntas simples. Faça perguntas mais longas. Com até 10 perguntas em uma. Pergunte qualquer coisa". Para trazer contexto pessoal à busca, também haverá conexão com outros apps, como o Gmail. Com as novas possibilidades de customização para o usuário, vale ficar olho em como o Google vai garantir a proteção de dados pessoais em países com leis avançadas, como o Brasil e o bloco europeu.

Impacto no monopólio... o vice-presidente global do Google Ads, Dan Taylor, também confirmou que anúncios serão incorporados às buscas no Modo IA. A empreitada pode até deixar os magistrados norte-americanos mais cabreiros com o que vem por aí, no julgamento dos recursos contra decisões que condenaram a Big Tech por monopólio nos mercados de buscas e de publicidade online. Mas, dificilmente, mudará o rumo das ações antitruste já em andamento. Mesmo assim, não vão faltar frentes de combate no tema da IA para o Google. Danielle Coffey, presidente da News/Media Alliance, que representa editoras e jornais americanos, já reclamou que o Modo IA "simplesmente pega o conteúdo à força e o utiliza sem dar nada em troca - a definição de roubo", segundo ela.

Primeiros insights... Por enquanto, o Modo IA chegará só para usuários dos EUA, onde novidades como visualizações dinâmicas e personalizadas já estavam disponíveis para teste no Google Labs. Em abril, o de Produtos do Google para Buscas, Robby Stein, divulgou que o AI Mode tem sido usado para perguntas abertas e complexas, com o dobro do tamanho das queries na busca tradicional, em média. A possibilidade de usar fotos e vídeos para buscar informações também deve gerar grande impacto e o Google promete a compreensão de toda a cena retratada, inclusive de materiais, cores, formas e disposição dos objetos.

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E por falar em Gemini... o Google liberou a versão mais avançada de seu chat de IA generativa, o Gemini 2.5 Pro, para estudantes (inclusive brasileiros), que tenham email com o domínio oficial da instituição de ensino. A oferta também inclui armazenamento de 2 TB no Google Drive, Gmail e Google Photos. O benefício vale para alunos de todos os níveis, inclusive pós-graduação, que terão acesso gratuito por 15 meses. A solicitação deve ser feita até 30 de junho de 2025, no site do Gemini.

Mudando de assunto... o trabalho de entregadores de aplicativos será discutido em duas comissões da Câmara dos Deputados nesta semana. Hoje (26), a Comissão de Legislação Participativa receberá representantes de entregadores, além do iFood, Rappi, Uber e dos Ministérios da Saúde e do Trabalho e Emprego, para debater a "luta por Direitos e Dignidade para os Entregadores de Aplicativos". Amanhã (27), a discussão será na Comissão de Desenvolvimento Urbano, com foco nos "desafios e regulamentação do transporte de aplicativos por motos", e a presença da Procuradoria-Geral do Município de São Paulo e representantes do iFood, 99App e Uber, entre outros.

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Imagem: Divulgação/Anatel

Brasil na UIT...
A Anatel anunciou, na quinta-feira (22), a candidatura do Brasil a Estado-membro do Conselho da União Internacional de Telecomunicações (UIT), e do Presidente Executivo da Agência, Carlos Manuel Baigorri, a Secretário-Geral Adjunto do órgão. As eleições ocorrerão em novembro de 2026 para escolher os mandatários de 2027 a 2030. A UIT é um dos braços mais importantes da ONU, especializado em telecomunicações e TICs, e o cargo de Secretário-Geral Adjunto é uma espécie de braço direito do Secretário-Geral, posto mais alto na organização. A última vez que o Brasil ocupou a posição foi em 1999, com Roberto Blois.

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Imagem: Reprodução/Reddit/Midjourney

Fora deepfakes...
A Secom da Presidência criou um grupo de trabalho para avaliar o impacto de conteúdos sintéticos (criados ou manipulados por IA) e propor diretrizes regulatórias para mitigar o problema. O grupo deve desenvolver medidas efetivas para proteger Direitos Fundamentais e conter o crescente fluxo de fraudes e golpes usando deepfakes. Além de membros da Secretaria de Direitos Digitais da Secom, o GT reúne figurinhas tarimbadas no debate regulatório brasileiro, como Laura Schertel, Francisco Brito Cruz, Tarcízio Silva, Mariana Valente e o colunista do Tilt UOL, Diogo Cortiz.

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Imagem: Justin Sullivan/Getty Images North America/AFP

Todos querem data center...
O tema foi pauta de Comissão Permanente do Senado, na quarta (21), em audiência pública sobre o PL 3.018/2024, que propõe um marco regulatório para data centers de IA. Os convidados lembraram que é curta a janela para atrair empresas como a Nvidia ? em torno de 2 ou 3 anos ? antes que elas se instalem em outro país da América do Sul. Já o Coordenador-Geral de Inovação Digital do MCTI, Rubens Caetano, enfatizou que um marco regulatório deste tipo pode fomentar o ?setor de geração de energia limpa e adensar a cadeia produtiva de data centers sustentáveis? no país.

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Imagem: Justin Sullivan/Getty Images North America/AFP

Todos querem data center...
O tema foi pauta de Comissão Permanente do Senado, na quarta (21), em audiência pública sobre o PL 3.018/2024, que propõe um marco regulatório para data centers de IA. Os convidados lembraram que é curta a janela para atrair empresas como a Nvidia ? em torno de 2 ou 3 anos ? antes que elas se instalem em outro país da América do Sul. Já o Coordenador-Geral de Inovação Digital do MCTI, Rubens Caetano, enfatizou que um marco regulatório deste tipo pode fomentar o ?setor de geração de energia limpa e adensar a cadeia produtiva de data centers sustentáveis? no país.

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Imagem: Brasil Escola

Goiás sai na frente...
Para se consolidar como polo estratégico de inovação, o Estado aprova a primeira lei do Brasil de Fomento à Inovação em IA, que prevê atrair investimento internacional para infraestrutura digital, inclusive para data centers. Um ponto de atenção é a vedação a ?qualquer tipo de presunção de riscos em relação às tecnologias com propósitos lícitos?, limitando a ação do Estado a casos excepcionais. Isso deve desagradar outros atores no debate nacional sobre IA, que apoiam restringir usos (ainda) legais, mas que trazem potenciais riscos à garantia de Direitos Fundamentais.

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Imagem: Sebasten Bozon/AFP

Um olho nos cabos...
A Meta e a v.Tal ampliarão a infraestrutura de conexão no Brasil, levando o cabo submarino Malbec até o Sul do país. Será o primeiro cabo internacional na região, chegando a Balneário Pinhal, no Norte do Rio Grande do Sul, e seguindo por terra até Porto Alegre, para ampliar a conectividade com Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai. O novo trecho terá 280 km e será lançado até 2027, com capacidade de até 20 Tbps por par de fibra. O governo do Rio Grande do Sul espera que o Malbec atraia data centers para o Estado e amplie a capacidade de resposta a catástrofes climáticas.

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Imagem: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Outro olho no Congresso...
A instalação da Comissão Especial sobre Inteligência Artificial para debater o Projeto de Lei 2.338/23 vinha se arrastando há semanas na Câmara dos Deputados, mas finalmente foi finalizada. A deputada Luisa Canziani (PSD-PR) foi confirmada como presidente da comissão e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), como relator. A novidade ficou por conta do PT, que conseguiu emplacar Reginaldo Lopes (PT-MG) como 2º vice-presidente, enquanto os representantes da Direita Adriana Ventura (Novo-SP) e Gustavo Gayer (PL-GO) assumirão, respectivamente, a 1ª e a 3ª vice-presidência.

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