Como o governo Lula calcula que data center pode atrair R$ 2 tri ao Brasil?

(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts. Nesta semana, o assunto é: WhatsApp lendo suas mensagens?; R$ 2 trilhões para data centers; IA contra marasmo das redes; ChatGPT puxa-saco

Em viagem aos Estados Unidos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mostrou a grandes empresas de tecnologia um plano para facilitar a instalação de data centers no Brasil. Nos cálculos internos da pasta, a ação pode atrair R$ 2 trilhões em investimentos. Como?

Grande demais, o número é considerado um potencial de investimentos e calculado com base em premissas consideradas conservadoras na pasta, segundo fontes consultadas por Deu Tilt. Sustentam os cálculos os anúncios de aportes feitos por diversas empresas.

Segundo apuração de Deu Tilt, R$ 2 trilhões não chega a ser uma quantia desproporcional, considerando os valores aplicados na área.

A potência dos data centers é medida em megawatts (MW). Nas estimativas do Ministério da Fazenda, para cada megawatt são necessários investimentos em torno de US$ 10 milhões para a construção e entre US$ 20 milhões e US$ 40 milhões para a compra de equipamento. Considerando um valor médio para as máquinas e somando-o à quantia base para infraestrutura, chega-se a US$ 40 milhões.

Ainda que o cálculo seja complexo, os levantamentos apontam que o Brasil possui entre 700 MW a 800 MW instalados. Mas cerca de 60% da demanda interna de processamento de dados são feitas no exterior, já que os preços locais são mais altos.

Nos cálculos da pasta de Haddad, apenas para dar conta da demanda interna, o país precisaria no mínimo dobrar a capacidade instalada, para 1,5 mil MW. Para rodar aplicações de inteligência artificial, que consomem mais energia do que serviços conectados tradicionais, a expectativa é que sejam necessários 5 mil MW. Se a intenção for exportar processamento de dados, como sinalizam muitas empresas, a capacidade precisa subir para 10 mil MW. O último componente é a conversão do dólar, fixado em R$ 5, ou seja, abaixo da cotação atual.

Para um data center se instalar, é preciso fazer um pedido de consumo de energia, e no operador nacional do sistema elétrico brasileiro já existem pedidos de fornecimento de energia de 12 mil MW. Ou seja, o cálculo dele [do governo] é para lá de conservador. Se você multiplicar os US$ 40 milhões para cada megawatts - desde os 700 que temos até os 10 mil [necessários] vai chegar nessa conta de R$ 2 trilhões"
Helton Simões Gomes

O governo aguarda o retorno do presidente Lula, que está em viagem à China, para enviar a primeira parte do Plano Nacional de Data Centers ao Congresso Nacional. Essa fatia será apenas o Redata, regime especial tributário que antecipa para a cadeia dos data centers os efeitos da reforma tributária. Ou seja, desonera os tributos federais para os investimentos na área.

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Contrapartidas

O que torna o Brasil uma boa opção de instalação de data centers é, sobretudo, sua localização e abundância de energia renovável.

Entre as contrapartidas, estará a exigência do uso de 100% de energia limpa e renovável, assim como zero consumo de água e de emissão de carbono.

O Redata também prevê que 2% do faturamento desses data centers sejam direcionados para o Fundo Nacional de Desenvolvimento em Tecnologia e Desenvolvimento Industrial, que reverterá os recursos para pesquisa e desenvolvimento de tecnologia relacionada às centrais de dados.

O governo está pensando em uma forma de tentar direcionar esse recurso para a finalidade que ele tem, mas ainda não está claro como vai acontecer
Helton Simões Gomes

Além disso, os data centers instalados em solo brasileiro deverão disponibilizar 10% de sua capacidade computacional para consumidores locais, sejam eles institutos de pesquisa ou empresas.

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Investimentos anunciados no setor

Já existem projetos de data centers no Brasil com números altos de investimentos. Em São Paulo, a Elea - que possui 9 data centers - anunciou R$ 1,7 bilhão para ampliar os data centers que já possui e fazer outras melhorias na área. A Tec.to também pretende investir R$ 5,7 bilhões em data centers, um em Fortaleza e outro em São Paulo, até 2027.

Além dessas, a Escala, no Rio Grande do Sul, anunciou um data center de 54 megawatts que vai custar R$ 3 bilhões, com possibilidade de ampliação para 4.750 megawatts e injeção de R$ 500 bilhões.

IA do WhatsApp vai ler suas conversas

Durante a última LlamaCon, a conferência da Meta, a empresa divulgou uma nova funcionalidade para o Whatsapp, disponível, por enquanto, apenas nos EUA: o resumo de conversas. A proposta é boa e capaz de facilitar a vida dos usuários, mas levanta questões relacionadas à privacidade e à segurança. Para minimizar riscos, a Meta pretende usar uma abordagem chamada de "processamento privado", que prevê o envio de mensagens criptografadas para um servidor que executa a função de IA e devolve a mensagem para o celular, deixando o conteúdo "fora" do aparelho pelo menor período de tempo possível. O sistema está disponível para pesquisadores e auditores fazerem testes de vulnerabilidade - uma abertura inédita por parte da Meta - mas vale lembrar que tanto a criptografia de ponta a ponta, quanto conversas que não passam pelos servidores do Whatsapp sempre foram paradigmas do aplicativo, que agora serão colocados em xeque.

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Meta quer usar IA para dar novo gás às redes sociais; vai funcionar?

A impressão geral é que existe um ranço crescente com as redes sociais por parte dos usuários que reclamam, sobretudo, do excesso de conteúdo publicitário em redes como o Instagram. Mas a inteligência artificial pode ajudar a reverter esse cenário. A Meta saiu na frente com o Meta IA, um aplicativo disponível, por enquanto, somente nos EUA e Canadá, que gera conteúdos e imagens por IA e possibilita que os usuários publiquem e compartilhem os resultados de seus pedidos. Esse pode ser um próximo passo em direção ao futuro que aponta para uma rede social cada vez mais baseada em inteligência artificial.

ChatGPT puxa-saco: ótimo para o ego e o terror do meio ambiente

Os feedbacks excessivamente bajuladores do ChatGPT 4.1 provocaram reclamações, ao ponto da Open IA fazer um recall da versão para torná-la menos condescendente. Mas, para além do incômodo dos usuários, a tendência da IA em agradar gera custos energéticos, consome recursos naturais e causa prejuízos.

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DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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