'Como uma bola de boliche': sonda soviética deve cair na Terra nesta semana

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Lançada em uma missão no início da década de 1970, a sonda Cosmos 482 deve voltar à atmosfera terrestre nos próximos dias, segundo uma previsão da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos. De acordo com os especialistas, é possível que os destroços caiam em qualquer lugar entre as latitudes de 52 graus norte e sul da linha do Equador.
O que pode acontecer
A nave espacial foi lançada em março de 1972 e partes dela orbitam a Terra desde então. Segundo a Nasa, a órbita da Cosmos 482 —ou Kosmos 482— está diminuindo, e a previsão indica que uma porção do equipamento volte à atmosfera da Terra no próximo sábado pesando 495 quilos.
A Cosmos 482 foi projetada para suportar a entrada na atmosfera de Vênus, que é 90 vezes mais densa do que a da Terra. Graças a sua estrutura resistente, os cientistas acreditam que a sonda consiga suportar a volta à Terra, alcançando a superfície terrestre e permanecendo intacta.
Com a possibilidade da queda do objeto, os cientistas tentam prever o estrago que a sonda faria ao colidir com a Terra. Segundo Marlon Sorge, especialista em detritos espaciais do grupo de pesquisa The Aerospace Corporation, a sonda é "bastante densa". "Portanto, é claramente como uma bola de boliche", explicou Sorge à rede norte-americana CNN.
Segundo os cálculos da The Aerospace Corporation, o risco de a Cosmos 482 causar danos fatais é de aproximadamente 1 em 25 mil. Para Sorge, este valor indica um risco muito menor do que o potencial de outros detritos espaciais. Peças de foguetes inoperantes, por exemplo, voltam à atmosfera terrestre todos os anos, e muitas delas representam um risco maior de "catástrofes". A maioria dos detritos espaciais se desintegra graças ao atrito e à pressão ao atingir a atmosfera terrestre, viajando a centenas de quilômetros por hora.
Mesmo apresentando um risco considerado mínimo, a Cosmos 482 tem mobilizado especialistas em todo o mundo. Segundo Marco Langbroek, professor e especialista em tráfego espacial da Universidade Técnica de Delft, na Holanda, a sonda deve cair em uma área que abrange países populosos. "[A área engloba] toda a África, América do Sul, Austrália, EUA, partes do Canadá, partes da Europa e partes da Ásia", disse à CNN.
Mas, como 70% do nosso planeta é água, há boas chances de que a sonda acabe [caindo] em algum oceano [...] Existe um risco, mas é pequeno. Você corre um risco maior de ser atingido por um raio uma vez na vida. Marco Langbroek à CNN
A sonda Cosmos 482
O módulo que deve cair na Terra fazia parte da nave lançada pela então União Soviética. A sonda Cosmos 482 tinha um projeto e um plano de missão idênticos à sonda atmosférica Venera 8. Os equipamentos faziam parte de um programa soviético das décadas de 1970 e 1980, quando o país buscava se tornar o principal concorrente dos Estados Unidos no desenvolvimento espacial e visava realizar medições científicas da atmosfera e da superfície de Vênus.
A missão era uma tentativa de alcançar o planeta Vênus, mas o equipamento falhou ao tentar sair da órbita terrestre. A camada superior da nave seria ejetada para abrir o paraquedas e liberar tanto a antena quanto os instrumentos. Ao atingir a região conhecida como LEO (sigla em inglês para Órbita Terrestre Baixa), a espaçonave fez uma tentativa de transferência para Vênus. Segundo a Nasa, nesse momento a nave se desintegrou em quatro pedaços, sendo que dois permaneceram na LEO e decaíram em 48 horas.
Os outros dois pedaços —a sonda de pouso e a unidade de motor do estágio superior— entraram em uma órbita mais alta e lá permaneceram. Os cientistas acreditam que o objeto a caminho da Terra seja justamente a sonda de pouso.
Acredita-se que um mau funcionamento resultou na queima de um motor que não atingiu velocidade suficiente para a transferência para Vênus e deixou a carga útil nesta órbita elíptica da Terra. Nasa, sobre a nave da qual a sonda Cosmos 482 faz parte
Desde então, o equipamento era considerado como lixo espacial. Devido à falha, a sonda não conseguiu coletar dados que seriam transferidos como resultados da missão.
Desde 1962, o termo "Cosmos" passou a identificar as naves espaciais soviéticas que permaneciam na órbita da Terra, como a 482. De acordo com a Nasa, as missões soviéticas eram inicialmente colocadas na região LEO como uma plataforma de lançamento, com um motor de foguete e uma sonda acoplada. "As sondas eram então lançadas em direção aos seus alvos com uma queima do motor com duração de aproximadamente quatro minutos. Se o motor falhasse ou a queima não fosse concluída, as sondas seriam deixadas na órbita da Terra e receberiam a designação Cosmos", explica a agência em seu portal oficial.
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