Afinal, Albert Einstein detonou mesmo o Brasil quando visitou o Rio?

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Era 21 de março de 1925 quando o físico alemão Albert Einstein pisou em solo brasileiro pela primeira vez, mais especificamente no Rio de Janeiro. Foi apenas uma escala, porque depois de um breve passeio pelo Jardim Botânico e almoço no Copacabana Palace, ele embarcou para uma viagem a Buenos Aires, na Argentina, e Montevidéu, no Uruguai. Mais tarde, em 5 de maio, voltou para ficar uma semana na cidade carioca.
Ao mesmo tempo em que o Nobel da Física ajudou a estimular a atividade científica por aqui, ele também reclamou dos políticos, do barulho e do calor, como ficou claro no volume 14 da coletânea de correspondências e diários do físico "The Berlin Years: Writings & Correspondence".
Como foi visita de Einstein ao Brasil
Einstein, então com 46 anos, fez a viagem a contragosto. Ele tinha um roteiro para visitar Argentina, Uruguai e Brasil, mas sem muito interesse. "Não tenho vontade de encontrar índios (sic) semi-aculturados usando smoking", escreveu ele numa carta a um amigo.
Comunidades judaicas da América do Sul tiveram papel importante na vinda dele. Elas fizeram os primeiros convites ao cientista e queriam mostrar que havia judeus intelectuais por aqui, não só comerciantes, visto que a maioria judaica no país à época era imigrante e trabalhava no comércio.
Ele fez comentários polêmicos. "Aqui sou uma espécie de elefante branco para eles, e eles são macacos para mim", escreveu em um de seus diários. O mesmo termo foi usado para falar de Aloysio de Castro, então chefe da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. A impressão ficou pelo alarde feito por políticos e militares diante de sua presença no país.
Mas o termo não tinha a mesma conotação de hoje. Em entrevista à Folha de S.Paulo, Alfredo Tolmasquim, autor do livro "Einstein: O Viajante da Relatividade na América do Sul", disse que a palavra "tinha relação com uma atitude boba, tola, de macaquice". Mas o racismo científico era presente, e ele tinha preconceitos com povos latinos. Na época, a maioria dos europeus acreditava que o clima quente e úmido dos trópicos era prejudicial ao intelecto.
O barulho o incomodou. "Sua primeira palestra pública sobre a relatividade foi proferida no Clube de Engenharia e contou com a presença de embaixadores, militares de alta patente, ministros, prefeito, engenheiros proeminentes e médicos. Aparentemente, as janelas foram deixadas abertas e o barulho da rua era ensurdecedor. Portanto, a palestra fez 'pouco sentido científico'", destacam documentos. Einstein demonstrou seu "desejo irresistível de sossego longe de tantas pessoas desconhecidas", segundo os relatos, e começou a contar os dias para retornar à Europa.
Na gastronomia, negou feijoada, mas comeu vatapá. Einstein provou goiaba no café da manhã e gostou, curtiu tanto beber pinga que repetiu alguns copos, rejeitou experimentar a feijoada brasileira —porque tem carne de porco, alimento que não é consumido por judeus—, mas aproveitou vatapá com pimenta, algo que foi noticiado pelo O Jornal.
Einstein também elogiou o Brasil
Um dia antes de partir, o cientista assistiu a um filme sobre o trabalho de Cândido Rondon com populações indígenas. Sobre ele, escreveu: "Permitam-me chamar a atenção para as atividades do general Rondon porque minha visita ao Brasil me deu a impressão de que este homem é altamente merecedor do Prêmio Nobel da Paz".
Ele escreveu que teve uma "impressão majestosa das bizarras rochas gigantes." Também afirmou que "o Jardim Botânico e a vida vegetal, em geral, superam os sonhos de 1001 noites" e que "a mistura de povos nas ruas é deliciosa". Resumindo, teve "uma riqueza indescritível de impressões em apenas algumas horas" em sua primeira passagem pelo Rio de Janeiro.
*Com reportagem de agosto de 2023
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