Topo

10 m, dentes enormes: fóssil mostra que 'crocodilo do terror' caçava dinos

Fóssil do Deinosuchus exposto no Museu de História Natural de Utah (EUA) Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons

Colaboração para Tilt

28/04/2025 05h30

Com a contribuição de uma brasileira, um novo estudo revelou que o Deinosuchus, um predador pré-histórico, contava uma vantagem importante em relação aos jacarés modernos, fazendo parte de um novo grupo dentro dos crocodilianos.

O que aconteceu

Um grupo de cientistas descobriu alguns dos segredos de um réptil enorme e extinto em uma nova pesquisa. Analisando fósseis do Deinosuchus, que viveu no período conhecido como Cretáceo Superior, os especialistas concluíram que o predador atacava presas ainda maiores do que ele, tinha um focinho largo e era capaz de tolerar a água salgada.

A pesquisa foi divulgada na última quarta-feira na revista científica Communications Biology. O estudo foi conduzido por especialistas da Universidade de Torino, na Itália; da Universidade de Tubinga, na Alemanha; da USP (Universidade de São Paulo); da Universidade de Lyon, na França; e da Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha. Ana Laura S. Paiva, do Laboratório de Paleontologia da USP de Ribeirão Preto, foi a representante do Brasil no estudo.

As descobertas da pesquisa

Para definir um provável tamanho do réptil, os especialistas analisaram a história evolutiva da classe em que o Deinosuchus estaria inserido. Na nova análise, os pesquisadores compararam dados de crocodilianos extintos que não haviam sido inseridas nas árvores genealógicas anteriores. "Estimativas filogenéticas do tamanho corporal fornecem resultados que levam em consideração as proporções conhecidas ou reconstruídas de parentes próximos existentes", explica a pesquisa.

O Deinosuchus é considerado um dos maiores crocodilianos da história. Podendo ultrapassar os dez metros de comprimento, o animal tinha dentes enormes, usados para dilacerar suas presas. "Espécimes do crocodilo Deinosuchus adquiriram tamanhos gigantescos", diz o estudo. "Ninguém estava seguro [...] quando o Deinosuchus estava por perto. Estamos falando de um animal absolutamente monstruoso" declarou o Dr. Márton Rabi, professor do Instituto de Geociências da Universidade de Tubinga e um dos autores do estudo, à rede norte-americana CNN.

Por conta de sua aparência fisica, o Deinosuchus é comumente chamado de "jacaré maior" ou "crocodilo do terror". No entanto, a pesquisa indica que o Deinosuchus pertence a uma parte diferente da árvore genealógica dos crocodilianos, chamada de "grupo-tronco".

Segundo o estudo, o Deinosuchus era tolerante à água salgada. Essa característica se deve à preservação de glândulas de sal presentes na língua do animal, o que também acontece com o moderno crocodilo-de-água-salgada (Crocodylus porosus).

A partir dessas glândulas, o animal consegue eliminar o excesso do sal do corpo ao navegar no mar, por exemplo. Essa capacidade possibilitou que o Deinosuchus conseguisse atravessar o Western Interior Seaway (Mar Interior Ocidental, em tradução livre), que dividia a América do Norte. Ao navegá-las, o Deinosuchus conseguiu superar desafios climáticos e se espalhar pelo continente.

Diferentemente dos crocodilos, os jacarés atuais não têm as glândulas de sal, vivendo em água doce. De acordo com os especialistas, essa diferença comprova que o Deinosuchus não tem relação genética com os jacarés. "Nossa análise descobriu que a tolerância à água salgada é uma característica bastante antiga de muitos crocodilianos, e foi secundariamente perdida nos aligatoroides [família da qual o jacaré faz parte]", relatou Rabi à CNN.

Além do tamanho, o animal é único também por conta de seus hábitos de caça. "Evidências de marcas de mordida sugerem que a dieta [do Deinosuchus] incluía até mesmo grandes dinossauros", diz o estudo.

A partir dos fósseis, os especialistas conseguiram identificar também onde o enorme réptil vivia. A análise de amostras de esmalte dentário do Deinosuchus sugere que o animal consumia água do mar e presas marinhas. A presença deste tipo de presa na dieta é reforçada por evidências de marcas de mordidas do Deinosuchus encontradas em tartarugas marinhas próximas à costa, segundo a pesquisa.

O animal habitava uma "megazona úmida marginal" ao longo do Oceano Atlântico. A presença do Deinosuchus na região tinha alto impacto no ecossistema local, já que os hábitos do réptil sustentavam outras espécies da fauna que vivia ali.

O desaparecimento simultâneo de Deinosuchus do registro fóssil (suposta extinção) com a drenagem de megapântanos ao longo das costas do Oceano Atlântico e do Oceano Atlântico (incluindo o recuo completo do primeiro) mais tarde durante o [período] Cretáceo é consistente com um estilo de vida ligado a habitats costeiros
Trecho oficial do estudo

Fósseis do Deinosuchus podem ser vistos no Museu de História Natural de Utah, nos Estados Unidos.

Confira abaixo algumas imagens do réptil gigante que, segundo o museu, poderia ter o tamanho de um "ônibus escolar" (em inglês):

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

10 m, dentes enormes: fóssil mostra que 'crocodilo do terror' caçava dinos - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Ciência