Japão calcula 300 mil mortes: por que é tão difícil prever um terremoto?

Ler resumo da notícia
O terremoto em Mianmar e na Tailândia, no fim do mês passado, causou centenas de mortes, deixou milhares de feridos e destruiu prédios. No Japão, um alerta de autoridades indica que quase 300 mil pessoas podem morrer se um megaterremoto seguido de um tsunami acontecer.
Mas por que não conseguimos prever antecipadamente quando e onde um evento desse tipo vai acontecer?
O que é um terremoto e como ele é provocado?
Terremotos são vibrações provocadas pela liberação repentina de energia no interior da Terra. "O terremoto é a propagação de uma onda de vibração de partículas", explica Fábio Reis, professor titular do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Unesp de Rio Claro a Tilt.
Essa energia se acumula ao longo de falhas geológicas, onde blocos rochosos se movimentam. "Ele é gerado a partir da liberação da energia de atrito entre dois blocos rochosos", afirma o especialista.
A Terra está dividida em grandes placas tectônicas, que se movimentam constantemente. "Essas placas são como grandes blocos que se deslocam lentamente, e o atrito entre elas pode gerar terremotos", detalha Reis.
O ponto onde essa energia é liberada recebe o nome de epicentro. "Ela se propaga a partir de um ponto em todas as direções, em três dimensões", diz o geólogo.

O papel do sismógrafo
Sismógrafos são equipamentos que detectam e registram as vibrações causadas por terremotos. "Ele mede a propagação da onda, essa vibração de partículas", explica Reis.
O sismógrafo não prevê o terremoto, apenas monitora sua ocorrência. "Ele não prevê, ele acompanha o processo de propagação do terremoto", diz o especialista.
Há sismógrafos espalhados em pontos estratégicos ao redor do mundo. "Esses equipamentos registram a vibração em todos os sentidos, conforme a onda sísmica se espalha", complementa Reis.
Mas por que é tão difícil prever um terremoto?

Sabemos onde a energia se acumula, mas não quando ela será liberada. "A grande questão é quando essa energia vai ser liberada", afirma Reis.
As falhas geológicas são estruturas profundas e extensas, o que dificulta a instalação de sensores. "Muitos terremotos acontecem a 50 km de profundidade, e o furo mais profundo da crosta só chegou a 12 km", explica o professor.
Há desafios técnicos para medir o comportamento das rochas em grandes profundidades. "Tem esse desafio tecnológico de colocar sensores em uma profundidade que a gente não consegue nem furar ainda", diz Reis.
A energia pode ser liberada de forma gradual ou abrupta, o que torna a previsão ainda mais complexa. "Pode ser eliminada em sismos pequenos ou liberada de uma vez só em um sismo grande", analisa o geólogo.
O tipo de solo e a profundidade do epicentro também afetam o impacto. "Um sismo mais próximo da superfície tende a causar mais danos", afirma Reis.
A preparação das cidades faz diferença nos efeitos sentidos pela população. "Algumas cidades no Japão estão extremamente preparadas para aguentar mais essa vibração", diz o especialista.
Tecnologia e prevenção
Os estudos sobre terremotos estão mais avançados em países com histórico de grandes abalos. "Tem vários estudos sendo testados no Japão e na Califórnia", diz Reis.
A escala Richter mede a magnitude do tremor, enquanto a intensidade avalia os danos causados. "A magnitude é a energia propagada, e a intensidade está associada ao dano causado pelo terremoto", explica o professor da Unesp.
Países como Mianmar são mais vulneráveis por terem menos preparação e construções frágeis. "Mianmar tem muitos locais com solo muito mole, o que facilita a vibração e movimentação."
O Japão se destaca pela longa tradição em políticas de prevenção a desastres naturais, que inclui uma série de ações que ajudam a mitigar os efeitos, como barreiras e treinamentos para emergência. "A lei japonesa de desastres naturais tem mais de 100 anos", afirma o especialista.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.