Planeta 9 pode realmente existir, aponta estudo liderado por brasileiro

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O Planeta 9, um corpo celeste que cientistas suspeitam que exista desde 1846, mas até hoje não foi encontrado, pode realmente existir. A conclusão é de um estudo internacional liderado pelo físico Rafael Ribeiro de Sousa, da Unesp, recém-publicado na revista científica Icarus.
O que aconteceu
Cientistas encontraram indícios da existência do Planeta 9 após a órbita de Netuno. Ele estaria situado além do Cinturão de Kuiper, o disco de asteroides cometas e planetas anões que abriga Plutão, em uma região externa, fria e escura do Sistema Solar. Sua órbita pode estar 600 vezes mais distante do Sol do que a Terra.
Como o Planeta 9 nunca foi visto em telescópio, estudiosos procuravam pistas de sua presença. Entre elas estão a influência gravitacional que exerceria sobre outros corpos menores e conhecidos, a trajetória de sua órbita e evidências de quanto tempo ele teria demorado para percorrê-la. Ao encontrar o caminho que ele realiza no espaço, os astrônomos e astrofísicos poderiam futuramente orientar equipamentos para fotografá-lo de uma vez por todas.
A hipótese do Planeta 9 ganhou força nas últimas duas décadas. Seis objetos transnetunianos foram identificados entre 2004 e 2013 graças à evolução de técnicas e tecnologias de observação. Eles são os mais distantes já encontrados no Sistema Solar. Ao analisar a órbita de cada um destes corpos, cientistas descobriram um alinhamento em comum - todas apontam para a mesma direção, como se sentissem os efeitos gravitacionais de um mesmo objeto.
A ideia é que esse planeta forneceria uma força gravitacional forte o suficiente para alinhar esses objetos. Esse tipo de fenômeno ajudou a descobrir outros planetas do Sistema Solar, como Netuno e Urano, porque a influência gravitacional entre planetas, cometas e asteroides é algo que conhecemos bem dentro da física. Por isso, conseguimos fazer previsões bastante refinadas. Rafael Ribeiro de Sousa, pesquisador da Unesp, em anúncio divulgado pela universidade
No entanto, sua órbita seria extremamente longa: 10 mil anos seriam necessários para fazer uma volta ao redor do Sol, estimam os físicos. Por isso, os pesquisadores buscavam mais pontos de referência "brilhantes" vizinhos, capazes de refletir a luz solar e guiar melhor para onde apontar os telescópios na escuridão.
Grupo de cientistas liderado por Sousa conduziu um experimento. Eles criaram uma simulação que monitorava a evolução do comportamento de corpos celestes no Sistema Solar em um período equivalente a 4,5 bilhões de anos. Os resultados mostraram que a existência do Planeta 9 afetaria dois reservatórios de cometas próximos a Plutão: a área expandida do Cinturão de Kuiper e a Nuvem de Oort.
Se o Planeta 9 influencia a órbita dos seis objetos transnetunianos já encontrados, é possível que tenha efeito também sobre os cometas que saem daquela região, acreditam os especialistas. De acordo com o modelo calculado pela equipe de Sousa, um disco de planetesimais - corpos rochosos e gelados remanescentes da formação de asteroides e cometas - teria se dispersado após a órbita de Netuno graças a influências gravitacionais e formado justamente o que conhecemos hoje: o Cinturão de Kuiper e a Nuvem de Oort.
O modelo demonstrou, matematicamente, que o acréscimo de um hipotético Planeta 9 na região resultava na formação das duas estruturas. No entanto, uma segunda nuvem deveria ser criada se houver o Planeta 9, na região expandida do cinturão. Ela estaria alinhada à órbita do planeta e funcionaria como um reservatório adicional de cometas.
Para checar se o reservatório existe, os pesquisadores calcularam as trajetórias de cometas conhecidos que surgiriam nesta região. Eles olharam mais cuidadosamente para um grupo de quatro cometas que de fato existem no Sistema Solar, mas que também foram "previstos" pelo modelo. Eles medem mais de 10 km de diâmetro e levam menos de 20 anos para completar suas órbitas, que já foram bem mapeadas e poderiam servir de comparação.
Descobrimos que houve um 'match', uma coincidência. Nossas simulações foram consistentes com as observações das órbitas dos cometas. Produzimos uma estimativa sobre o número de cometas com mais de 10 km de diâmetro que seriam produzidos, e comparamos com os cerca de quatro já observados. Sem a presença do Planeta 9 na simulação, o número não chega a um [cometa]. Com ele, pode chegar a 3,6 — o que é muito mais próximo da realidade. Rafael Ribeiro de Sousa
Planeta 9 também pode ser bem menor do que imaginavam os cientistas. Até então, pesquisas apontavam para um planeta com cerca de 15 vezes a massa da Terra, um valor próximo a Urano. No entanto, para que seja consistente com a evolução do Sistema Solar e da órbita dos cometas, o time de Sousa descobriu que ele deva ter cerca de 7,5 vezes a massa terrestre.
Próximo passo do brasileiro deve ser refinar a simulação. Serão estudados os cometas de longo período, que levam milhares de anos para completar uma volta ao redor do Sol. Eles são originários da Nuvem de Oort e podem entregar mais pistas sobre o "planeta invisível".
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