Núcleo da Terra muda de forma e está desacelerando, afetando dias e clima
Colaboração para Tilt
25/03/2025 05h30
O núcleo da Terra vem mudando de forma e se tornando mais lento ao mesmo tempo, descobriram cientistas da USC (Universidade do Sul da Califórnia).
O que aconteceu
Transformação pode alterar a duração dos dias e tem potencial de afetar o clima e a vida na superfície. O estudo foi publicado na revista Nature Geoscience.
O núcleo interno da Terra, localizado a cerca de 5.100 km da superfície, é ancorado pela gravidade dentro do líquido em fusão no núcleo externo. Até então, os cientistas acreditavam que esta porção do planeta fosse uma esfera totalmente sólida, já que ele é composto por metais sólidos como ferro e níquel. Mas estudos anteriores se limitavam a analisar a rotação do núcleo, não a sua natureza física.
O achado foi acidental. O objetivo do time da USC era mapear a evidente desaceleração do núcleo interno. "Mas enquanto eu analisava múltiplas décadas de sismogramas, um grupo de dados de ondas sísmicas curiosamente se destacou do resto. Posteriormente, percebi que estava olhando para provas de que o núcleo interno não é sólido", afirmou o autor principal do estudo, John Vidale, professor de ciências da Terra da USC, em comunicado.
Estudo usou dados de ondas sísmicas de 121 terremotos que se repetiram em 42 locais das Ilhas Sandwich do Sul, na Antártida, entre 1991 e 2024. Foi investigado como estas ondas "viajaram" e foram captadas nos entornos de Fairbanks, no estado americano do Alasca, e de Yellowknife, nos Territórios do Noroeste do Canadá. Os registros deste último local apresentavam propriedades que o time nunca tinha visto antes —atividade física adicional no núcleo interno.
Os cientistas notaram que as formas das ondas e alguns dos sinais sísmicos mudaram entre 2004 e 2008. Estas mudanças ocorreram porque as ondas brevemente penetraram o núcleo interno da Terra. Assim, eles concluíram que era justamente o cerne do planeta que estava se deformando.
A superfície do núcleo interno passa por uma "deformação viscosa", detalha o estudo. Ele muda de forma, alterando a fronteira mais superficial que separa o núcleo interno do externo. Aliás, os cientistas acreditam que é justamente a interação entre as duas camadas do núcleo que resultam na deformação.
O núcleo externo derretido é amplamente conhecido como turbulento, mas sua turbulência ainda não tinha sido observada perturbando o vizinho, o núcleo interno, em uma escala de tempo humana. O que estamos observando neste estudo pela primeira vez é, provavelmente, o núcleo externo 'despedaçando' o núcleo interno. John Vidale
Um estudo anterior da mesma equipe, publicado na Nature em junho de 2024, apontava que o núcleo já estava se tornando mais lento. Ele afirmava que o núcleo interno passa por ciclos em que gira mais depressa e, em outros, mais devagar do que a superfície da Terra. Parte da comunidade científica rejeitou a ideia, afirmando que possíveis flutuações no formato do núcleo interno explicariam os dados encontrados.
Neste novo estudo, o time da USC concluiu que os dois fenômenos estão acontecendo ao mesmo tempo. A desaceleração é responsável mudar a duração do dia em alguns minutos, os cientistas já verificaram. Mas eles acreditam que estes processos possam também influenciar os campos térmicos e eletromagnéticos da Terra e, possivelmente, os rumos de eventos na superfície, como fenômenos meteorológicos.
Mais dados são geralmente o melhor caminho para entender melhor as novas alegações. O núcleo interno, se continuar a girar na direção em que tem rotacionado pelos últimos 15 anos, logo retornará para onde estava por volta do ano 2000, quando pode ter feito algumas coisas interessantes. Os próximos anos serão esclarecedores. John Vidale, adiantando a próxima fase dos estudos