'Existem regras do jogo': como é criar um negócio sob a censura da China?

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(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts. Nesta semana, o assunto é: A nova cartada da China na IA não virá do DeepSeek; Alibaba x China; Caos x harmonia: a censura na internet chinesa)
Para criar um negócio da China, é preciso dançar conforme a música. A internet no país é o projeto de censura mais bem acabado do mundo: o Partido Comunista chinês decide o que se pode falar, como, com que tom e com qual frequência.
Estar sujeito a essas regras, porém, depende do setor em que a empresa está inserida.
As companhias de setores estratégicos como telecomunicações e internet, como as de redes sociais, são acompanhadas de perto pela presença do governo, conta In Hsieh, consultor de negócios Brasil-China e fundador do Chinnovation.
Essa postura é o que levanta teorias como as sustentadas para o banimento do TikTok nos EUA. Parlamentares e governo norte-americano afirmam que a chinesa ByteDance coleta dados para repassar ao governo chinês.
O acesso aos dados precisa ser esclarecido: não é que o cara vai baixar suas informações. Existem regras do jogo e são específicas daquele país. Quando o Google e o Facebook saíram da China, eles não foram banidos, eles não aceitaram as regras, o que, de certa forma, está acontecendo com o TikTok. Se eles não aceitarem, vão ter que sair [dos Estados Unidos]
In Hsieh, consultor de negócios Brasil-China e fundador do Chinnovation
Para ele, essas regras, que são do conhecimento de todos, fazem da postura do governo mais previsível. Hsieh também aponta que a contraposição da defesa da liberdade de expressão feita pelos EUA e o cenário chinês tende a vilanizar a China, sempre colocada no espectro de censora.
Na China, você sabe que existem regras. No ocidente, essas regras são impostas e às vezes acontecem à revelia das empresas e empreendedores. O [Donald] Trump foi banido pelo Zuckerberg. Não foi uma lei, foi uma decisão da empresa, uma decisão unilateral
In Hsieh
O especialista pontua que, no mercado chinês, as empresas dificilmente farão algo similar a banir um ex-presidente por conta própria.
Certamente existem limitações. O que é importante é a clareza das regras do jogo. A dificuldade agora é que quando a gente fala de internet, esse é um negócio global, as áreas então ficam um pouco cinzas.
In Hsieh
'Alibaba sabe mais que a Amazon': Big Tech chinesas incomodam o Partido Comunista da China
Produtos chineses deixaram de ser bugigangas de qualidade duvidosa para virar alguns dos mais sofisticados do mundo. As responsáveis por essa revolução são empresas de tecnologia com uma atuação tão ampla a ponto de possuir mais poder do que o Partido Comunista gostaria. É o caso do Alibaba, dono de uma das maiores lojas de comércio digital do mundo, do maior meio de pagamento chinês e de uma grande plataforma de computação em nuvem.
O governo vem tomando algumas ações já há muito tempo, e ele é forte e proativo o suficiente para fazer isso. Existe um controle maior sobre esse grandes oligopólios ou até monopólios
In Hsieh
Por algum tempo, a sigla BAT, que corresponde às iniciais de Baidu, Alibaba e Tencent -três das maiores empresas chinesas de tecnologia— representou uma grande fatia do mercado. Isso levou o governo a contestar e querer dividir essas empresas, explicou In Hsieh, consultor de negócios Brasil-China e fundador do Chinnovation, em entrevista ao Deu Tilt, podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas.
Esqueça o DeepSeek: as estrelas na China são os dragões e tigres da IA
O DeepSeek chamou a atenção do ocidente por executar muito bem o que outras ferramentas de inteligência artificial consumiram muito mais dinheiro para realizar. Pouca gente sabe, porém, que a startup é surpresa também na China.
Por lá, são alvo das atenções um grupo seleto de empresas. São os "dragões da IA" e os "tigres da IA".
Com províncias que poderiam facilmente conter a população de continentes inteiros, a China abriga um mercado de tecnologia muito maior do que o noticiado pela mídia internacional, explica In Hsieh, consultor de negócios Brasil-China e fundador do Chinnovation, a Deu Tilt, o podcast do UOL para humanos por trás das máquinas.
DEU TILT
Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.
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