'Alibaba sabe mais que a Amazon': como Big Tech chinesas incomodam a China
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(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts. Nesta semana, o assunto é: A nova cartada da China na IA não virá do DeepSeek; Alibaba x China; Caos x harmonia: a censura na internet chinesa)
Produtos chineses deixaram de ser bugigangas de qualidade duvidosa para virar alguns dos mais sofisticados do mundo. As responsáveis por essa revolução são empresas de tecnologia com uma atuação tão ampla a ponto de possuir mais poder do que o Partido Comunista gostaria. É o caso do Alibaba, dono de uma das maiores lojas de comércio digital do mundo, do maior meio de pagamento chinês e de uma grande plataforma de computação em nuvem.
O governo vem tomando algumas ações já há muito tempo, e ele é forte e proativo o suficiente para fazer isso. Existe um controle maior sobre esse grandes oligopólios ou até monopólios
In Hsieh, consultor de negócios Brasil-China e fundador do Chinnovation
Por algum tempo, a sigla BAT (Baidu, Alibaba e Tencent) representou grande fatia do mercado. Isso levou o governo a contestar e querer dividir essas empresas, explicou In Hsieh, consultor de negócios Brasil-China e fundador do Chinnovation, em entrevista ao Deu Tilt, podcast do UOLpara os humanos por trás das máquinas.
Segundo o consultor, é quase um senso comum de que na China o Jack Ma, fundador do Alibaba, conhece tudo de todos os chineses.
Você compra nele [Alibaba] e usa o meio de pagamento dele para comprar no concorrente. Isso nem a Amazon faz. O Jeff Bezos sabe que você comprou um parafuso dentro da Amazon. Quando você compra usando o meio de pagamento do Alibaba no concorrente, ele sabe tudo o que você está fazendo virtualmente
In Hsieh
Essa prática cria um oligopólio de informações e controle de dados, explica Hsieh. A resposta do governo foi a aplicação de multas pesadas e impedir a abertura de capital da Alipay, o meio de pagamento do Alibaba. Para se livrar do imbróglio, o próprio grupo fragmentou a iniciativa.
Do ponto de vista empresarial, é sensacional, mas, do ponto de vista do consumidor, é um pavor. É o limite de privacidade e do seu controle próprio da vida
In Hsieh
Um mercado muito grande e em expansão
Impulsionado por uma crescente classe média, o mercado chinês está aquecido. No lugar das bugigangas e produtos sem marca, há um crescimento no número de empresas que investem em produtos voltados ao mercado de luxo.
O mercado chinês já não demanda mais tanto isso. Ou seja, não compra [produtos de baixa qualidade]. Porque já tem mais dinheiro para comprar produtos melhores e está acostumado a comprar produtos internacionais. O mercado chinês é um dos maiores para marcas internacionais, inclusive para o mercado de luxo
In Hsieh
Em um país com 1,4 bilhão de pessoas e províncias que podem ter o mesmo número de cidadãos de alguns continentes como a Europa, o mercado consumidor se tornou tão grande que, mesmo dentro da China, é possível nunca ter visto uma empresa grande, mas de uma região distante.
São mercados suficientemente grandes, com capital e estrutura. A China tem muitas empresas médias e grandes que a gente não conhece porque talvez elas realmente nunca vão se internacionalizar. Só que quando elas saem, já saem com todo esse porte. A fase mais recente é de empresas que surgem para ser internacionais. Alguns só estão no mercado internacional
In Hsieh
Um exemplo é a Shein, famosa no Brasil, mas que não possui operações em seu país de origem.
Há ainda companhias que crescem no mercado interno antes de se lançar para fora da China.
As empresas chinesas que saem têm mercados internos robustos que financiam a internacionalização. Só que obviamente cada país tem suas características. O Brasil não é fácil. Eu diria que a maior parte das empresas chinesas que vieram para o Brasil não tiveram sucesso
In Hsieh
As empresas de tecnologia são uma exceção.
Elas já tem um DNA mais internacional, estão na internet, tem app e o mundo todo tá baixando
In Hsieh
'Existem regras do jogo': como é construir um negócio sob a censura da China?
Para criar um negócio da China, é preciso dançar conforme a música. A internet no país é o projeto de censura mais bem acabado do mundo: o Partido Comunista chinês decide o que se pode falar, como, com que tom e com qual frequência.
Estar sujeito a essas regras, porém, depende do setor em que a empresa está inserida.
As companhias de setores estratégicos como telecomunicações e internet, como as de redes sociais, são acompanhadas de perto pela presença do governo, conta In Hsieh, consultor de negócios Brasil-China e fundador do Chinnovation.
Esqueça o DeepSeek: as estrelas na China são os dragões e tigres da IA
O DeepSeek chamou a atenção do ocidente por executar muito bem o que outras ferramentas de inteligência artificial consumiram muito mais dinheiro para realizar. Pouca gente sabe, porém, que a startup é surpresa também na China.
Por lá, são alvo das atenções um grupo seleto de empresas. São os "dragões da IA" e os "tigres da IA".
Com províncias que poderiam facilmente conter a população de continentes inteiros, a China abriga um mercado de tecnologia muito maior do que o noticiado pela mídia internacional, explica In Hsieh.
DEU TILT
Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.
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