Primeiros dinossauros podem ter surgido em solo brasileiro, aponta estudo

Os primeiros dinossauros podem ter surgido no Deserto do Saara e na Floresta Amazônica, apontou um estudo liderado por pesquisadores da University College London (UCL), no Reino Unido, e publicado na revista científica Current Biology em 23 de janeiro.

Até o momento, a comunidade científica acreditava que as espécies eram originárias do extremo sul da África e da América do Sul.

O que aconteceu

Pesquisadores revisaram fósseis já encontrados no antigo supercontinente de Gonduana. A formação inclui hoje América do Sul, África, Índia, Austrália, Nova Zelândia, Oriente Médio e Antártica. No entanto, os restos mortais dos dinossauros são achados com maior frequência na região mais ao sul, que inclui o nosso continente e o extremo da África.

Fósseis encontrados recorrentemente no sul do Brasil, da Argentina e do Zimbábue indicam que os dinossauros viveram por aqui durante a metade do período Triássico, entre 251,9 milhões a 201,3 milhões de anos atrás. Os mais antigos dinossauros já descobertos viveram há cerca de 230 milhões de anos e estas informações foram úteis para criar uma linha do tempo de espécies e as respectivas localidades onde viveram.

Estudiosos simularam a distribuição dos primeiros dinossauros pelo território utilizando um modelo computacional que levou em consideração a localização destes fósseis. Além disso, eles incorporaram aos cálculos as relações evolucionárias conhecidas entre os primeiros grupos de dinossauros, barreiras climáticas e geográficas que pudessem ter bloqueado a movimentação das espécies.

Também foram inclusas no estudo até as áreas onde nunca foram achados ossos. Elas foram estudadas como "hiatos" nas informações, em vez de se presumir que nunca houve dinossauros ali, como em trabalhos anteriores.

Os resultados do modelo computacional demonstraram que os primeiros dinossauros provavelmente surgiram nas regiões equatoriais de Gonduana. São elas a Amazônia, a bacia do Congo e o deserto do Saara por suas condições climáticas e ambientais únicas. Estes dinossauros teriam sido muito menores do que seus descendentes, do tamanho de cães ou galinhas.

Nosso modelo sugere que os primeiros dinossauros tenham surgido em áreas ocidentais de baixa latitude na Gonduana. É um ambiente mais seco e quente do que se imaginava anteriormente, composto por áreas de deserto e savana. Joel Heath, doutorando em ciências da Terra da UCL, em comunicado à imprensa.

Presumir que os dinossauros só existiram nas regiões onde fósseis já foram achados não é uma boa ideia, apontou ainda Heath. Enormes porções do globo terrestre ainda não possuem sinais da presença destes animais, o que torna improvável que todas elas não tenham sido habitats deles. Além disso, as regiões apontadas pelo modelo da universidade como berço dos dinossauros são bastante inacessíveis e frequentemente ignoradas em escavações, justificou.

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Um dos tais dinossauros mais velho do mundo, nascido há 230 milhões atrás, era um velociraptor do tamanho de uma galinha encontrado nos EUA. Sua descoberta foi anunciada em janeiro por pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison e é consistente com a conclusão dos cientistas britânicos. Paleontólogos antigamente acreditavam que os dinossauros, especialmente os mais antigos, tinham vivido apenas no hemisfério Sul. Por exemplo, uma equipe da Universidade Federal de Santa Maria localizou um fóssil em julho, após as chuvas no RS, que pode ter 233 milhões de anos.

Com o dinossauro americano e o brasileiro de idades tão próximas e vivendo tão distantes, a região do Equador não poderia estar "fechada" para eles. "Eles devem ter [sido capazes] de cruzar aquela região", comentou ainda Heath à revista New Scientist.

Diferenças encontradas nos ossos dos animais também apontam preferências distintas entre as espécies. "Dos três principais grupos de dinossauros, um grupo, os saurópodes — que inclui os brontossauros e os diplódocos — parecia manter a preferência por um clima quente", observou o co-autor do estudo e professor de paleobiologia da UCL, Philip Mannion, em comunicado.

Os outros dois grupos (terópodes e ornitísquios) podem ter desenvolvido a habilidade de gerar o próprio calor corporal com o tempo. Em algum momento do Triássico, esta capacidade permitiu a eles migraram para regiões mais próximas aos polos.

Por isso, os pesquisadores ressaltam que é preciso reforçar as pesquisas — e as buscas — pelos dinossauros e seu elo perdido. E eles podem estar escondidos na nossa Amazônia, no coração do Brasil.

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