Os supercontinentes misteriosos que explicam o que acontece sob a terra

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Novas descobertas sobre a estrutura do manto terrestre indicam a presença de "supercontinentes" enterrados a milhares de quilômetros abaixo da crosta da Terra. Eles impactam a atividade de placas tectônicas e influenciam acontecimentos na superfície da Terra, como o comportamento de vulcões e terremotos.
O que aconteceu
Uma nova pesquisa revela que os dois "supercontinentes" estão a mais de dois mil quilômetros abaixo da superfície da Terra. Em um estudo publicado na revista Nature em 22 de janeiro, os cientistas relatam que um desses "supercontinentes" está localizado sob a África, enquanto o outro está sob o Oceano Pacífico.
As enormes "ilhas subterrâneas" descobertas seriam ainda mais antigas do que se pensava. Liderado por especialistas da Universidade de Utrecht, na Holanda, e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), o estudo revela que as regiões identificadas não são apenas mais quentes do que a maior parte das placas tectônicas, mas também mais velhas: os "supercontinentes" teriam pelo menos meio bilhão de anos, podendo ser ainda mais antigos.
Essas duas grandes ilhas são cercadas por um cemitério de placas tectônicas que foram transportadas para lá por um processo chamado 'subducção', em que uma placa tectônica mergulha abaixo de outra placa e afunda desde a superfície da Terra até uma profundidade de quase três mil quilômetros
Arwen Deuss, sismólogo e professor do Departamento de Ciências Terrestres, ao portal da Universidade de Utrecht
Segundo os cientistas, a idade das ilhas subterrâneas pode revolucionar os estudos sobre a dinâmica e o fluxo no manto terrestre. A teoria que indica que o manto é "bem misturado e de fluxo rápido" está sendo cada vez mais questionada, conforme os responsáveis pela pesquisa. "Há menos fluxo no manto da Terra do que normalmente se pensa", afirma o estudo. "Ninguém sabia o que eram [os "supercontinentes"] e se eram apenas um fenômeno temporário ou se estavam ali há milhões ou talvez até bilhões de anos", disse o professor Deuss.
Os cientistas analisaram, também, as ondas sísmicas encontradas nas ilhas subterrâneas. Segundo os especialistas, a atividade das ondas sísmicas diminui nos "supercontinentes", fazendo com que essas estruturas sejam definidas como "Grandes Províncias de Baixa Velocidade Sísmica" (Large Low Seismic Velocity Provinces ou LLSVPs em inglês). "As ondas desaceleram porque os LLSVPs estão quentes [...] Adicionamos novas informações, o chamado 'amortecimento' das ondas sísmicas, que é a quantidade de energia que as ondas perdem quando viajam pela Terra", explicou Deuss ao portal da universidade.

O impacto dos 'supercontinentes' na superfície
O conhecimento do manto, segundo os pesquisadores, é essencial para compreender a evolução do nosso planeta. Além de fornecer informações sobre a Terra, os detalhes sobre o manto podem ajudar os especialistas a compreender outros acontecimentos na superfície terrestre, como o vulcanismo e o surgimento de montanhas.
O manto da Terra é o motor que impulsiona todos esses fenômenos. Tomemos, por exemplo, as plumas do manto, que são grandes bolhas de material quente que sobem do interior profundo da Terra como numa lâmpada de lava. Quando finalmente chegam à superfície, causam os vulcões, como no Havaí. Pensamos que essas plumas do manto se originam nas bordas dos LLSVPs
Professor Deuss
Grandes terremotos fazem toda a Terra "tocar como um sino com tons diferentes, como um instrumento musical". Os sismólogos estudam o interior profundo da Terra investigando até que ponto estes tons estão "desafinados", já que oscilações inteiras da Terra soarão "desafinadas" ou menos altas quando encontrarem anomalias ou obstáculos em seu caminho. "Desta forma, os sismólogos poderão fazer imagens do interior do nosso planeta, tal como um médico de hospital pode 'ver' através do seu corpo com o raio-x", diz o comunicado no portal da Universidade de Utrecht.
As oscilações no manto causadas nos terremotos, chamados também de "tons", são descritas matematicamente para que os cientistas possam "ler" o amortecimento no local. Ao identificar quão alta é determinada oscilação, os pesquisadores conseguem separar este valor da velocidade da onda e verificar quão fora de "sintonia" estão os tons na região. "O amortecimento do sinal é apenas um décimo da quantidade total de informação que podemos desvendar a partir dessas oscilações", explica o professor, ressaltando que as pesquisas sobre o tema costumam reunir dados de diferentes acontecimentos, como terremotos anteriores. "Podemos voltar a 1975, porque a partir desse ano os sismógrafos tornaram-se bons o suficiente para nos fornecer dados de alta qualidade."
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