Pagaria R$ 1 mi para ressuscitar? Empresa que congela corpos já tem procura

A start-up alemã Tomorrow.Bio, cofundada pelo engenheiro brasileiro Fernando Azevedo Pinheiro, congela pessoas mortas por R$ 1,2 milhão à espera de que elas possam ser ressuscitadas no futuro.

O que é a criopreservação?

Técnica utiliza nitrogênio líquido para resfriar o corpo humano até -196ºC. A empresa, que tem o primeiro laboratório de criônica da Europa, possui três ambulâncias adaptadas. Quando um médico confirma que um paciente cadastrado pela Tomorrow.Bio está chegando ao fim da vida, a empresa é contatada e envia o veículo ao local para aguardar até que o paciente seja declarado morto.

Procedimento é iniciado ainda no veículo. A pessoa é resfriada a temperaturas abaixo de zero e "abastecida" com um fluido crioprotetor que substitui toda a água do corpo e evita a formação de cristais de gelo que destruiriam os tecidos, esclareceu um dos sócios da start-up, o pesquisador Emil Kendziorra, à BBC britânica.

Agente crioprotetor é uma mistura de componentes como o dimetilsulfóxido (DMSO) e o etilenoglicol. Este último é utilizado em produtos como anticongelantes. O congelamento então é acelerado até atingir -125ºC e aprofundado, mais lentamente, até chegar aos -196ºC após dez dias.

Paciente é transferido para uma unidade de armazenamento na Suíça. O corpo é guardado em um contêiner isolado a vácuo de 3,2 metros de altura cheio de nitrogênio líquido, de acordo com reportagem do jornal britânico Daily Mail. Não é necessária eletricidade para manter a unidade gelada e, por isso, a empresa alega que é possível manter o corpo resfriado indefinidamente, desde que o nitrogênio seja completado de tempos em tempos.

Até o momento, empresa congelou "três ou quatro pessoas" e cinco animais de estimação. Segundo levantamento da BBC publicado nesta quarta (22), há ainda quase 700 cadastrados para serem criopreservados no futuro e este número deve crescer durante o ano, quando a start-up estenderá sua operação para todo o território dos EUA. Ninguém jamais foi ressuscitado após a criopreservação.

Pessoas podem "acordar" do congelamento?

O congelamento é descrito como "completa pausa biológica" pela Tomorrow.Bio. Em seu site, a empresa esclarece que seu propósito é preservar as pessoas até que a tecnologia da medicina avance o suficiente para tratar a causa da sua morte e trazê-los de volta à vida.

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Ressuscitação poderia resultar em vida, sim, mas de "zumbis" (com graves danos cerebrais). É o que acreditam estudiosos críticos da criônica, como Clive Coen, professor de neurociência da Universidade King's College London, no Reino Unido, que chamou o conceito de "absurdo" à BBC. Para ele, não há prova alguma atualmente de que organismos com estruturas cerebrais complexas como os seres humanos possam ser revividos com sucesso.

Quando um coração para de bater, as células começam a se decompor, o que causa enormes danos. Quando o corpo é reaquecido depois de criopreservado, "toda a decomposição que estava ocorrendo durante a fase inicial após a morte vai começar novamente", segundo professor. Ou seja, seria muito mais complexo garantir a integridade de um organismo inteiro. Já a criogenia seria mais interessante porque apenas preservaria materiais, como tecidos e órgãos, para que pudessem ser usados posteriormente — como uma espécie de banco de doadores.

Cientistas ainda são céticos em relação à criônica
Cientistas ainda são céticos em relação à criônica Imagem: Getty Images/iStock

Proposta da empresa foi inspirada em casos reais de "ressuscitação após resfriamento". Este é um procedimento médico conhecido como "animação suspensa", em que pacientes que chegam ao pronto-socorro com trauma agudo (como um tiro, por exemplo) e têm estado delicado demais para serem submetidos a uma cirurgia são resfriados a uma temperatura entre 10ºC e 15ºC com a ajuda de uma solução salina gelada que substitui o sangue. A atividade cerebral para durante a cirurgia, que deve durar no máximo duas horas, quando a pessoa deve ser reaquecida.

Esperança está em roedores. Em 2023, pesquisadores da Universidade de Minnesota Twin Cities armazenaram criogenicamente rins de ratos por até cem dias antes de reaquecê-los e retirá-los dos fluidos crioprotetores. Transplante aconteceu após cinco dias e a função dos órgãos foi restaurada em um mês.

Preservar a estrutura neural da memória do falecido é a próxima meta. A empresa quer, dentro de um ano, ser capaz de "congelar a identidade e personalidade". "Muitos clientes estão fascinados pelas possibilidades de tecnologias e experiências futuras, como viagens espaciais. Para alguns, a motivação primária é o medo de morrer. A criopreservação oferece a eles esperança e uma sensação de segurança, fornecendo um caminho potencial para estender suas vidas", contou Pinheiro ao Mail.

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