Cercado de água salgada: por que é tão difícil náufrago sobreviver no mar

Que o mar é perigoso, todo mundo sabe. Ondas gigantes, tempestades, animais ameaçadores... tudo pode acontecer quando você está à deriva. Mas existe também o risco grave de desidratação —e ela pode acontecer rapidamente.

O corpo humano tem 70% de água em sua composição, e a manutenção desse percentual é fundamental para a permanência da vida.

Um corpo desidratado tem uma proporção de água menor do que o ideal, causando um desequilíbrio de alguns eletrólitos, como sódio e potássio.

Já a água do mar tem uma concentração de sais dissolvidos maior do que a que existe no nosso corpo. É o que quimicamente é conhecido como uma solução hipertônica.

Logo, ao ingerir a água do mar, acontece um processo chamado osmose. Ela "rouba" a água presente nas células do nosso corpo, numa tentativa de equilibrar a concentração de sal de dentro e de fora das células, desidratando rapidamente o corpo.

Tomar água salgada pode levar à morte em um ou dois dias, dependendo da quantidade de água ingerida.

Você "murcha", até que o funcionamento dos rins fique prejudicado.

Mas dá para filtrar a água com facilidade?

É absolutamente impossível filtrar a água do mar usando a roupa, por exemplo, pois o sal dissolvido na água está na forma de íons, que possuem o tamanho de átomos.

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Os íons passam pelos orifícios da roupa junto com as moléculas de água.

Para beber água sem sal, um náufrago teria de evaporar a água do mar em algum recipiente (como um saco plástico), coletar o vapor e beber a água condensada.

Esse processo, chamado de destilação, separa a água do sal porque o sal não evapora junto à água.

Evaporar água salgada e coletá-la com algum suporte é forma mais simples de dessalinização
Evaporar água salgada e coletá-la com algum suporte é forma mais simples de dessalinização Imagem: Getty Images

Há outros processos de dessalinização, como a osmose reversa (espécie de filtragem), mas que requer aparelhos arrojados. Há ainda tecnologias que empregam micro-organismos ou óxido de grafeno, todas complexas e caras — nada que um náufrago teria no bolso.

Outras formas de conseguir água potável são torcendo por uma chuva — e para que ela não seja tão forte a ponto de virar o barco que mate o náufrago boiando —, ou comendo bastante.

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Boa parte da água que a gente ingere vem dos alimentos, mas uma dieta sem líquidos, apenas à base de alimentos sólidos, pode não ser suficiente para garantir a hidratação.

Fontes: professor de química João Pitoscio Filho. professora de química Fabíola Campos e químico Carlos Cerqueira.

*Com reportagem de junho de 2023

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