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Afinal, substância química dedura ou não quem faz xixi na piscina?

Cena do filme Gente Grande (2010) - Reprodução
Cena do filme Gente Grande (2010) Imagem: Reprodução

Abinoan Santiago

Colaboração para Tilt, em Florianópolis

26/11/2022 04h00Atualizada em 28/11/2022 08h37

Com o verão chegando, as piscinas de parques aquáticos e de condomínios viram atrações. E não é incomum ver placas com o alerta de que a área possui "dedurador" de xixi, substância que promete deixar a água com coloração azul ou vermelha ao redor de quem urina na água.

Mas qual é a ciência por trás disso? Será que funciona mesmo? É o que Tilt foi investigar com especialistas depois que um vídeo viralizou recentemente no Instagram. Nas imagens, a água ao redor de uma mulher é tomada aos poucos por uma coloração azul-escuro, deixando-a visivelmente constrangida.


A cena lembrou também um momento do filme "Gente Grande (2010)", quando o personagem Eric Lamonsoff (Kevin James) entra numa piscina infantil apenas para fazer xixi e acaba "dedurado" por um reagente que detecta a urina na água.

Afinal, "detector de xixi" funciona?

Para a frustração de muitos (e alegria de outros), não existe qualquer produto químico no mercado capaz de dedurar quem faz xixi na água, segundo o professor doutor Eduardo Bessa Azevedo, pesquisador do Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Ambientais do Instituto de Química da Unesp (Universidade Estadual Paulista).

"Isso é fake. É uma lenda para a criança não fazer coisa errada na piscina. Às vezes, os parques colocam a placa dizendo que tem o reagente, mas é para inibir as pessoas. Não existe nada que detecte a urina na água", assegura.

A química avançou, mas ainda não foi capaz o suficiente de fazer isso. Uma eventual detecção na urina é mais complexa do que parece.

O primeiro ponto, segundo o professor, é a incapacidade de se prever qual componente da urina que o produto irá reagir para dar colocação na água, pois não se sabe o que poderá ter no xixi do banhista.

Outro problema está na mistura com o cloro. Mesmo que químicos pudessem adivinhar o que vem no xixi das pessoas, a mistura da urina com o cloro existente na piscina mudaria sua estrutura química e passaria a ser desconhecida para o eventual produto.

"Quando a pessoa urina na água, o cloro imediatamente já começa a reagir com as substâncias. Então, aquela substância na qual eu planejei para ser detectada, imediatamente deixou de existir ao entrar em contato com a água", detalha Azevedo.

Existem várias substâncias diferentes na urina e vários níveis de cloro em cada piscina. Ou seja, os desenvolvedores de um possível produto não conseguiriam descobrir o que identificar, acrescenta o pesquisador.

Fazer xixi na piscina faz mal

Por mais que não exista um "dedurador de xixi", não custa lembrar que urinar na piscina não é recomendável. Além de ser considerada falta de educação, a prática pode trazer danos à saúde.

O xixi em si não causa dano à saúde e há até quem beba como terapia alternativa. Mas é quando as substâncias dela se misturam com o cloro que o problema começa, principalmente quando existe um grande acúmulo de urina com a água, podendo gerar de irritação nos olhos, ouvidos e pele, e até a sintomas mais graves, como intoxicação e problemas respiratórios e cardíacos nas pessoas que tiverem contato com a água contaminada.