Topo

'Twitter abrirá portões do inferno': ativistas reagem à anistia de perfis

Bilionário Elon Musk anunciou que vai reativar contas banidas, após consulta na internet - Theo Wargo/WireImage via Getty Images
Bilionário Elon Musk anunciou que vai reativar contas banidas, após consulta na internet Imagem: Theo Wargo/WireImage via Getty Images

Colaboração para Tilt

25/11/2022 12h11

O anúncio do restabelecimento de contas suspensas no Twitter deixou ativistas preocupados. O processo deve começar na próxima semana, segundo Elon Musk, novo dono da rede social.

Ele tomou a decisão após fazer uma enquete feita no próprio Twitter, onde 72,4% votaram a favor. Na publicação, Musk diz que não serão restabelecidas contas que "infringiram a lei ou tenham enviado spam de forma escandalosa".

"O povo falou. A anistia começa na próxima semana", tuitou Musk. E complementou com a frase em latim "Vox Populi, Vox Dei", que significa "A voz do povo é a voz de Deus".

O anúncio não foi bem recebido por ativistas. Alejandra Caraballo, instrutora clínica da Harvard Law's Cyberlaw Clinic (Clínica de Direito Cibernético de Harvard), disse ao Washington Post que a ação é "existencialmente perigosa" para comunidades marginalizadas.

"É como abrir os portões do inferno em termos de estragos que isso vai causar. As pessoas que se envolveram em assédio direcionado direto podem voltar e se envolver em doxing (prática de revelar dados privados de uma pessoa ou empresa na internet), assédio direcionado, bullying cruel, apelos à violência, celebração da violência. Eu não posso nem começar a afirmar o quão perigoso isso será."

Angelo Carusone, presidente do grupo norte-americano Media Matters, que monitora a "desinformação conservadora", disse também ao The Guardian que reverter as suspensões pode transformar o Twitter em um "motor de radicalização".

Já Hopewell Chin'ono, um premiado jornalista do Zimbábue, classificou a mudança, em uma publicação no Twitter, como "um grande desastre", especialmente na África. Por lá, contas patrocinadas pelo Estado foram suspensas por colocar em perigo ativistas de direitos humanos e jornalistas.

"Você terá permitido que pessoas vis coloquem nossas vidas em perigo como jornalistas! Você terá sangue em suas mãos @elonmusk", disse o jornalista.

Grupos como o Center for Countering Digital Hate relataram um aumento no racismo no Twitter desde que Musk assumiu. Além disso, pesquisas indicam que ele falhou em agir em "99% do abuso racista" de jogadores de futebol na preparação para a Copa do Catar.

Imran Ahmed, CEO da ONG Center for Countering Digital Hate, disse ao The Guardian que os únicos beneficiados serão os "superpropagadores" de ódio, abuso e assédio.

Problemas com anunciantes

Ahmed reforçou que anunciantes terão que se posicionar a respeito dessa mudança. "A escolha nunca foi tão difícil: ficar por perto e apoiar Elon Musk, ou proteger suas marcas e garantir que seu dinheiro em marketing não seja usado para permitir a disseminação de ódio, abuso e desinformação."

Segundo o site Axios, muitas empresas diminuíram ou pausaram suas compras na plataforma ou saíram completamente. Várias marcas importantes, incluindo Volkswagen, General Motors e General Mills, anunciaram que vão suspender o investimento em publicidade no Twitter desde sua compra por Musk.

Musk culpou "grupos ativistas que pressionam os anunciantes" pela "queda maciça na receita" do Twitter este mês.

Ele alega ainda que os anunciantes que prometeram se manter na rede social sob a condição de criação de um conselho de moderação "quebraram o acordo" ao retirar seus investimentos.

Quem deve ficar de fora

Embora Musk ainda não tenha indicado quais usuários banidos podem ser afetados pela anistia planejada, na semana passada ele descartou categoricamente o restabelecimento da conta no Twitter do teórico da conspiração de extrema-direita Alex Jones.

Jones é um locutor de extrema-direita denunciado há anos por pais de vítimas do massacre da escola Sandy Hook em Newton (Connecticut) por afirmar que o ataque foi uma montagem orquestrada por opositores das armas de fogo.