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19 anos da tragédia em Alcântara: foguete brasileiro explodiu e matou 21

Lançamento do VLS-1 V02, em 1999; por falha no segundo estágio, o foguete foi destruído - AEB
Lançamento do VLS-1 V02, em 1999; por falha no segundo estágio, o foguete foi destruído Imagem: AEB

Marcella Duarte

De Tilt, em São Paulo

26/08/2022 04h00Atualizada em 27/08/2022 18h12

O dia 22 de agosto de 2003 entrou para a história do Programa Espacial Brasileiro — mas como seu mais triste episódio. Dezenove anos atrás, o foguete brasileiro VLS-1 explodiu na base de Alcântara, no Maranhão, matando 21 pessoas e atrasando nosso sonho aeroespacial.

O acidente ocorreu três dias antes do lançamento, que colocaria em órbita dois pequenos satélites para aplicações científicas: o Satec (Satélite Tecnológico), desenvolvido pelo Inpe, e o Unosat, da Universidade Norte do Paraná (Unopar).

destroços alcantara - Flávio Florido/Folhapress - Flávio Florido/Folhapress
agosto/2013: Destroços da plataforma de lançamento três dias após a explosão do foguete VLS-1 na base de Alcântara, no Maranhão
Imagem: Flávio Florido/Folhapress

Foguete brasileiro

O VLS (Veículo Lançador de Satélites) foi o resultado de 18 anos de pesquisa e desenvolvimento, em um momento que a engenharia espacial brasileira, apesar de modesta em comparação com a norte-americana ou russa, estava em plena evolução.

Era um foguete de 19,4 metros de altura e quase 50 toneladas, composto por quatro estágios. Ele era capaz de levar uma carga de até 380 kg para uma órbita a 750 km de altitude.

Nos dois lançamentos anteriores (1997 e 1999), os VLS-1 apresentaram falhas e foram destruídos. Mas havia grande expectativa para a terceira tentativa, em 2003.

O acidente

Às 13h26 daquele fatídico 22 de agosto, enquanto equipes trabalhavam na preparação do VLS-1 V03 para o lançamento que ocorreria no dia 25, um dos propulsores do primeiro estágio foi acionado indevidamente — ao que tudo indica, houve uma indução eletrostática no detonador.

Preso e dentro de um galpão, ele explodiu ao tentar subir. Em poucos segundos, tudo foi destruído: foguete, satélites, base. Um grande incêndio sucedeu a explosão. E isso custou a vida de 21 civis, nossos grandes cientistas, engenheiros, mecânicos, técnicos e até cinegrafistas.

base alcântara - Flávio Florido/Folhapress - Flávio Florido/Folhapress
agosto/2013 - O acidente, que matou 21 pessoas trabalhando na montagem do foguete, completa 19 anos
Imagem: Flávio Florido/Folhapress

Sabotagem?

Muito se especulou sobre as causas do acidente. Algumas teorias da conspiração sugeriam sabotagem de alguma das potências espaciais da época, como a Rússia. Mas essa hipótese foi totalmente descartada pela comissão criada para investigar os fatos.

A conclusão do relatório, sem apontar culpados, é que diversos fatores comprometeram a segurança da operação e culminaram na tragédia: falta de investimentos no programa, redução de pessoal, sobrecarga de trabalho, falta de procedimentos.

Futuro

Depois do acidente, uma nova e mais segura base de lançamentos foi construída, e o projeto do VLS-1 totalmente revisado. Mas acabou extinto em 2016. Foi a Índia que lançou, em 2020, o primeiro satélite 100% brasileiro de observação da Terra, o Amazônia-1.

amazonia 1 - Reprodução/YouTube/inpemct - Reprodução/YouTube/inpemct
fevereiro/2020: Lançamento do satélite Amazonia-1, do Centro Espacial Satish Dhawan, na Índia
Imagem: Reprodução/YouTube/inpemct

Até hoje, o Brasil não conseguiu levar, sozinho, um satélite para o espaço. Nosso programa aeroespacial empacou, encolheu e agora vive o atraso tecnológico. Com baixo orçamento e dependente de tecnologia estrangeira, seu foco são apenas nanossatélites, do tamanho de uma caixa de sapatos. O desenvolvimento do motor de nosso próximo foguete, o VS-50, segue a passos lentos.

Mas o governo finalmente dará uso comercial ao rebatizado Centro Espacial de Alcântara (CEA), que segue sem operações desde o acidente. Até o final de 2022, a sul-coreana Innospace deve realizar o primeiro lançamento privado no local. Assim, espera-se captar recursos para o programa espacial brasileiro.

O CEA é a base de lançamentos mais próxima da linha do Equador, o que representa uma vantagem significativa no lançamento de satélites geossíncronos — o Centro Espacial da Guiana também se beneficia da posição privilegiada.