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Deepfakes já circulam nas eleições: saiba o que são e como identificá-los

Vídeo manipulado com fala falsa de Renata Vasconcellos no JN sobre a pesquisa Ipec Imagem: Reprodução/YouTube

Abinoan Santiago

Colaboração para Tilt, em Florianópolis

18/08/2022 13h09Atualizada em 19/08/2022 08h19

A guerra das fakes news com uso de deepfakes já começou na disputa eleitoral de 2022. Desde ontem circula nas redes sociais uma montagem em vídeo da apresentadora do Jornal Nacional, Renata Vasconcellos, anunciando uma pesquisa falsa de intenções de votos na qual o presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece em primeiro.

O trecho usa parte da edição de 15 de agosto do telejornal da Globo, segundo a colunista do UOL Cristina Tardáguila. Essa é a primeira vez que um deepfake de cunho eleitoral ganha notoriedade na disputa ao Planalto, mas um dos candidatos à presidência, Ciro Gomes (PDT), já havia usado do mesmo artifício para criticar Bolsonaro. O pedetista, contudo, não propagou notícia falsa, mas apenas ironizou o mandatário sobre os escândalos no MEC (Ministério da Educação).

Os deepfakes não são novidades nas eleições em outros países. Nos Estados Unidos, o último pleito presidencial teve presença marcada dessa modalidade de propagar notícias falsas. A tendência é de que o Brasil também enfrente o problema em 2022, segundo Nina da Hora, pesquisadora e cientista em computação.

"Hoje, com a facilidade de criação de deepfakes e seu compartilhamento nas redes sociais, que atualmente são os principais meios de compartilhamento de notícias, é perigoso que campanhas políticas as utilizem para deslegitimar as eleições e os candidatos", disse Nina, ao UOL, antes do início do período eleitoral.

Para entender melhor o que é esse tipo de tecnologia, Tilt explica o que são os deepfakes e como identificá-los.

O que é deepfake?

O termo surgiu pela primeira vez em dezembro de 2017, quando um usuário do Reddit com esse nome começou a postar vídeos falsos de celebridades famosas fazendo sexo, como Emma Watson e Emma Stone. Com auxílio de ferramentas de inteligência artificial, ele colocava o rosto de quem quisesse em cenas já existentes.

Muitos materiais deepfake são criados a partir de programas de código aberto — de livre uso por qualquer pessoa — voltados ao aprendizado de máquina. O programador fornece centenas de fotos e vídeos das pessoas envolvidas que são automaticamente processados em rede. Desse modo, o computador aprende como é determinado rosto, como ele se mexe e como ele reage a luz e à sombra.

O software precisa aprender essas características do rosto do vídeo original e do rosto que deseja ser implantado, pois só assim o programa pode encontrar um ponto comum entre as duas faces. Feito isso, o sistema realiza uma espécie de truque em que a imagem do rosto da pessoa B é colocada no corpo da pessoa A.

Usos e riscos do deepfake

No Brasil, o exemplo mais famoso é o trabalho de Bruno Sartori, que se tornou conhecido em 2019 nas redes sociais ao criar vídeos de paródias com o presidente Jair Bolsonaro. Mas enquanto as produções de Sartori ainda podem ser identificadas como falsas com certa facilidade, a possibilidade do uso dessa tecnologia no cinema já foi levantada por um grande estúdio.

Em 2019, em entrevista ao canal do YouTube do site E-farsas, Bruno Sartori falou sobre a técnica. "Há cerca de um ano, eu precisava treinar um rosto por cerca de 30 dias. Hoje, a tecnologia já evoluiu e com cerca de três a quatro dias, eu consigo ter o mesmo resultado", afirmou o jornalista.

Efeitos especiais de computador para criar rostos e cenas no audiovisual já não são novidade. Por exemplo, o ator James Dean, morto em 1955, foi recriado digitalmente para estrelar o filme "Finding Jack" em 2020.

O problema está na facilidade em que o deepfake pode ser produzido atualmente. Comparado ao que era antes, qualquer um com acesso a algoritmos, conhecimento de aprendizado de máquina e um bom processador gráfico pode criar um vídeo falso bastante convincente. Até mesmo um app chinês para celular chamado Zao já começou a experimentar com a técnica.

Além disso, o deepfake tem sido utilizado em pornografia de vingança (do inglês, revenge porn). Uma preocupação atual é no crescimento desse tipo de material como arma política. Nos Estados Unidos, um vídeo do ex-presidente Barack Obama proferindo xingamentos contra o então presidente Donald Trump viralizou em 2018. Há também vídeos falsos de Trump falando sobre como algoritmos o ajudaram a chegar à Casa Branca.

Como reconhecer deepfakes?

Algumas dicas ajudam a reconhecer se o vídeo que você está assistindo possui manipulação deepfake ou não.

  1. Atenção a movimentos esquisitos e também ao tamanho desproporcional do rosto;
  2. Vídeos com imagens ruins enganam com mais facilidade;
  3. Caso o vídeo tenha áudio, atenção a sincronia do som com a boca;
  4. É mais fácil perceber manipulação em vídeos assistidos em tela cheia e em melhor qualidade;
  5. Pesquise a procedência da informação passada no vídeo. Se a informação não saiu em veículos confiáveis, certamente é falsa.
*Com informações de Juliana Arreguy, do UOL; e Vinícius Oliveira e Ellen Alves, em colaboração para Tilt.

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