Topo

Por que o Google abriu 'guerra' contra um dos apps mais antigos da Apple

No centro da disputa: dois protocolos de mensagem que não conversam entre si - picturejohn/iStock
No centro da disputa: dois protocolos de mensagem que não conversam entre si Imagem: picturejohn/iStock

Colaboração para Tilt, do Recife

10/08/2022 14h11

Geralmente com relações cordiais (ou até indiferentes um ao outro), Google e Apple iniciaram uma nova 'guerra' nos últimos dias. O motivo? O jeito como você manda suas mensagens.

Desde sempre, a Apple se recusa a adotar o padrão RCS (Rich Communication Services) em seu aplicativo de mensagens de texto iMessage. O RCS é o protocolo mais moderno e mais utilizado no mundo, inclusive pelo Chat (ou Mensagens, no Brasil), o app de mensagens do Google.

O problema é que o iMessage e o Chat não conversam (literalmente). O iPhone ainda usa o padrão SMS, que não é tão compatível com o RCS. Então, pode haver problemas quando a comunicação envolve áudio, imagens e vídeos em alta qualidade ou mesmo certos emojis.

Alegando que os usuários de Android têm um problema de experiência quando precisam se comunicar com alguém que usa iOS, o Google iniciou uma vasta campanha com a tag #GetTheMessage ("Receba a mensagem", mas também uma expressão que significa entender alguma coisa, "cair a ficha").

Uma das ações é um novo site, que problematiza o SMS e reúne mensagens de usuários frustrados com a empresa da maçã. A página usa matérias de sites especializados para defender a evolução do padrão de comunicação e a ampla aceitação do protocolo RCS.

Um dos argumentos é que o SMS é uma tecnologia dos anos 1990. O RCS foi criado em 2019.

Na plataforma, há ainda botões com links para que os usuários possam publicar tweets com mensagens prontas, direcionadas à Apple. Todo o conteúdo estimula a viralização da hashtag #GetTheMessage, especialmente no Twitter e no TikTok, que têm alto engajamento.

Campanha Google contra Apple devido a sistema de mensagens - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

"Não é sobre a cor das bolhas [os balões de fala na interface dos apps de mensagem]. São os vídeos borrados, bate-papos em grupo bugados, recibos de leitura e indicadores de digitação ausentes, sem mensagens de texto por Wi-Fi e muito mais. Esses problemas existem porque a Apple se recusa a adotar padrões modernos de mensagens de texto quando pessoas com iPhones e telefones Android enviam mensagens de texto umas para as outras", alerta um texto do site da campanha.

Outro problema apontado pelo Google seria a perda da proteção da criptografia de ponta a ponta, o que compromete a privacidade dos usuários de ambos sistemas.

Segundo o Google, a Apple poderia adotar o padrão RCS para conversas realizadas em celulares com sistemas operacionais distintos, o que não afetaria as mensagens de texto entre os dispositivos da Apple.

Golpe estratégico?

A campanha do Google contra a Apple engrossou consideravelmente desde a Conferência Anual dos Desenvolvedores da companhia, realizada em maio, e continuou nos últimos meses nas redes sociais. Analistas acreditam que a 'guerra' também é uma maneira de afetar o lançamento do iOS 16, em setembro.

Na nova versão, a Apple promete adicionar a capacidade de editar e cancelar o envio de mensagens enviadas por seu serviço iMessage, entre outras possíveis melhorias.

Embora o serviço de mensagens do Google tenha atualmente meio bilhão de usuários ativos mensais, a estratégia da big tech divide opiniões, já que o iMessage possui alguns dos recursos apresentados pelo protocolo RCS.

Sites especializados como Cnet e The Verge apontam que essa pode ser uma estratégia do Google para encontrar seu espaço após várias tentativas fracassadas de oferecer um serviço de aplicativo de bate-papo, como o Hangout, por exemplo, e o antigo chat agregado ao Gmail.

Se a Apple adotar o RCS, a experiência do usuário em relação ao Mensagens pode melhorar drasticamente, podendo o app ser um substituto à altura de outros mensageiros, como o Signal e o WhatsApp.

Até o momento, a Apple não se pronunciou publicamente sobre o assunto.