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Carro movido a xixi? Cientistas avançam em combustível feito de amônia

Trator John Deere movido por reator de amônia, projeto da startup Amogy Imagem: Divulgação/Amogy

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt, em São Paulo

01/07/2022 11h56

Em maio, um trator de médio porte da marca John Deere funcionou por várias horas em um teste de campo na Unversidade de Stony Brrok, nos EUA. Não seria nada demais, se não fosse o combustível lá dentro.

Ele era movido por um reator compacto criado pela startup Amogy que quebra a amônia e usa o hidrogênio para gerar energia. Agora, a empresa planeja aplicar a mesma tecnologia em um trator-reboque de 18 rodas e em um navio de carga oceânico. Confira o vídeo do teste:

Amônia como combustível não é um conceito novo, mas ganhou um novo impulso nos últimos anos, a partir de novas tecnologias para torná-la viável — e a demanda por fontes de energia que não contribuem com a crise climática do planeta.

No ano passado, a Universidade de Tecnologia de Hong Kong demonstrou o primeiro veículo elétrico movido a uma célula de combustível de amônia: um carrinho de golfe. A amônia líquida é quebrada em nitrogênio e hidrogênio, com ajuda de catalisadores desenvolvidos pela Universidade de Oxford. Os pesquisadores também devem projetar um micro-ônibus e uma aeronave coma tecnologia.

Imagem: Hong Kong Polytechnik University

Na Dinamarca, a MAN Energy Solutions está desenvolvendo um motor de amônia de dois tempos, que deve começar a ser vendido já em 2024.

Por que amônia?

A amônia é uma substância que pode ser extraída da natureza, especialmente da urina de mamíferos. Mas essa não é sua única vantagem.

Na combustão, ela libera energia rapidamente e tem uma alta densidade de energia por volume — ou seja, é um combustível forte e que rende bem. Por isso, serviria até para veículos grandes e pesados, que não conseguem ser movidos apenas por energia elétrica.

Além disso, diferentemente da gasolina, diesel e etanol, não há carbono em sua fórmula. Por isso, quando queimada, ela não libera poluentes do efeito estufa, como dióxido ou monóxido de carbono.

Outro ponto positivo é que a amônia é uma substância bem conhecida, usada na indústria há mais de um século. Portanto, já sabemos como armazenar e manusear e há infraestrutura global de distribuição.

A falta de tecnologia capaz de extrair amônia de forma eficiente em espaços confinados fez com que ela nunca fosse explorada por seu potencial energético. Mas agora, com avanços industriais, a produção em larga escala finalmente parece viável.

Mas é xixi?

A amônia (NH3) é uma molécula formada por um átomo de nitrogênio e três de hidrogênio. Sua forma líquida, também conhecida como amoníaco, é transparente e com forte odor característico. Sabe aquele cheiro de xixi de gato?

Resumidamente, a ureia da nossa urina se transforma em amônia. Então, sim, nosso xixi também poderia ser utilizado para produzir energia — mas, até agora, isso é algo estritamente teórico. Do ponto de vista industrial, porém, faz muito sentido, porque é o resíduo mais gerado no planeta.

Em 2009, uma pesquisa da venezuelana Gerardine Botte mostrou como usar o processo de eletrólise para produzir hidrogênio a partir de urina humana. E a um custo muito mais barato do que extraí-lo da água (que, além de tudo, é um recurso natural mais valioso para outras funções).

Em 2017, cientistas da Universidade de West England, na Inglaterra, desenvolveram uma célula de combustível microbiana (MFC): circuitos elétricos acionados por microrganismos, como bactérias que se alimentam de urina. A ideia era que robôs e eletrodomésticos pudessem se reabastecer sozinhos. É uma tecnologia com muito potencial na perspectiva de energia limpa.

Até pesquisadores do exército dos Estados Unidos estão analisando como poderiam usar urina para alimentar dispositivos em locais remotos, incluindo células de combustível de grande escala para abastecer veículos e até bases.

* Com informações de The Next Web

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