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Após registrar 'terremoto', sonda da Nasa se prepara para morrer em Marte

Imagem: Nasa/JPL

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt

17/05/2022 18h42

A sonda InSight Mars Lander, em Marte desde 2018, está no final de sua vida: em alguns meses, ela deve se desligar, por falta de energia. Mas, mesmo nos últimos suspiros, continua fornecendo valiosas informações sobre os processos geológicos e sísmicos no planeta vermelho. A Nasa falou mais sobre as descobertas e o futuro da missão, em uma live na tarde desta terça-feira (17).

A equipe estima que a sonda, hoje coberta por poeira laranja marciana, deve continuar realizando operações científicas até meados julho, e gradualmente encerrar todas as atividades até o final deste ano. Inclusive, seu braço robótico será colocado em "posição de aposentadoria".

"Um dos legados do InSight é que ele realmente prova o uso da técnica da sismologia para a ciência planetária", disse Bruce Banerdt, pesquisador principal do projeto no Jet Propulsion Laboratory (JPL), da Nasa. "Conseguimos mapear o interior de Marte pela primeira vez na história."

Martemotos

No último dia 4 de maio, a InSight detectou um "martemoto" de magnitude 5 — equivalente a um terremoto mediano aqui na Terra, mas o maior tremor já registrado em outro planeta. "Estávamos esperando pelo 'grandão'", disse Banerdt. "Ele certamente fornecerá uma visão do planeta como nenhuma outra. Cientistas analisarão estes dados para aprender coisas novas sobre Marte pelos próximos anos."

A sonda pousou em Marte em novembro de 2018, equipada com um sismógrafo supersensível, para estudar a estrutura e as atividades que emanam do interior do planeta. Desde então, detectou mais de 1.300 tremores. O antigo recorde era de um tremor de magnitude 4,2 —cerca de dez vezes mais fraco—, em agosto de 2021.

Mas estas descobertas têm um preço: após três anos e meio em um local tão árido e hostil, há muita poeira acumulada nos paneis solares fotovoltaicos, que geram energia para seu funcionamento. Diferentemente das sondas Perseverance e Curiosity, que são rovers (robôzinhos com rodas, que se movem pela superfície), a InSight é um lander (estacionário).

Sem se mover, e captando cada vez menos luz solar, ele está se degradando. No início, o InSight operava por cerca de 5.000 watts/hora por "sol" (um dia de Marte). Hoje, este número caiu para cerca de 500 Wh. A vice-gerente de projeto Kathya Zamora Garcia exemplificou: é uma redução equivalente a um forno elétrico ligado na Terra passar de 1h40 funcionando para apenas 10 minutos.

A equipe do JPL conseguiu melhorar um pouco a situação com uma manobra arriscada: pegando um punhado de partículas grossas de solo marciano, com o braço, e jogando contra a poeira. Isso foi feito com sucesso seis vezes, de acordo com Garcia.

Mas foi possível limpar apenas marginalmente os painéis —o desligamento ainda é irreversível, a não ser que aconteça um milagre, como uma ventania muito forte. Da mesma forma, uma tempestade de poeira pode antecipar ainda mais o destino fatal do lander.

Sismógrafo da sonda Mars InSight Lander Imagem: Nasa/JPL

Legado

Mesmo com este desfecho, que já era previsto, a missão é um sucesso, superando as expectativas da Nasa e rendendo diversas descobertas e pesquisas em fase de publicação.

Estudos deste tipo são essenciais para compreendermos a estrutura e a evolução de planetas rochosos como a Terra, Marte e Vênus. Marte não tem placas tectônicas como a Terra, então os eventos sísmicos acontecem no manto —a região derretida abaixo da crosta. Os sismógrafos também conseguem registrar movimentos causados por impactos.

A InSight nos forneceu nossa melhor visão dos sistemas geológico e sísmico do planeta vermelho: revelou a grossura e composição da crosta, detalhes do manto e do núcleo. E há um enorme volume de dados a serem analisados pelos cientistas, com segredos marcianos, por muitos anos após sua "morte".

"O legado destas medições e descobertas da InSight durará muito, muito tempo", disse Lori Glaze, diretora da Divisão de Ciência Planetária da Nasa. "Eles são únicos e especiais. Fizemos avanços incríveis em nossa compreensão do interior de Marte, que provavelmente não serão melhorados por décadas."

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