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Quem é a chefe de moderação do Twitter que pode ser o primeiro alvo de Musk

Vijaya Gadde, diretora de políticas e segurança jurídica do Twitter, considerada a principal moderadora de conteúdo na plataforma - Divulgação/Planet
Vijaya Gadde, diretora de políticas e segurança jurídica do Twitter, considerada a principal moderadora de conteúdo na plataforma Imagem: Divulgação/Planet

Ellen Alves

Colaboração para Tilt*, do Rio de Janeiro

29/04/2022 09h52

Quando alguém no Twitter discorda das regras ou políticas de conteúdo da rede, quase sempre recorre à mesma estratégia: envia um tweet a Jack Dorsey — o co-fundador e ex-diretor-presidente do Twitter. Mas o nome responsável por criar e fazer cumprir as regras da rede social é outro: Vijaya Gabdde, diretora de políticas e segurança jurídica da companhia

Gadde é "a executiva de tecnologia mais poderosa da qual você nunca ouviu falar", descreve o site Politico. Em 2014, ela foi apresentada pela Fortune como a mulher mais poderosa da equipe executiva do Twitter. A revista InStyle a incluiu m "The Badass 50", uma lista anual de mulheres que mudam o mundo. "Vijaya define a palavra", twittou a diretora de marketing do Twitter, Leslie Berland.

Entre outros momentos marcantes em sua trajetória, Gadde conseguiu proibir anúncios políticos na plataforma e liderou o banimento do ex-presidente Donald Trump após o ataque ao Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021.

Mas a maré pode ter mudado.

Com a aquisição da empresa por Elon Musk, um notório crítico da moderação nas mídias sociais, a permanência de Gadde no cargo ainda é uma incógnita. Os dois inclusive já tiveram alguns desentendimentos, quando o bilionário sul-africano ainda era apenas um usuário na plataforma.

A rusga com Musk

Gadde enfrentou uma onda de críticas em 2020, depois que o Twitter bloqueou o compartilhamento de um artigo do New York Post sobre Hunter Biden, filho do então candidato a presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. A alegação era de que a fonte da reportagem não era segura, e portanto o conteúdo poderia ser considerado desinformação.

"Não importa o que façamos, fomos acusados de parcialidade", disse ela ao Bloomberg News na época. "Deixar conteúdo, retirar conteúdo — isso se tornou um ruído permanente".

O assunto voltou à tona na última terça (26), quando Musk respondeu ao podcaster Saagar Enjeti na rede social. Enjeti classificou Gadde como "a maior defensora da censura no Twitter" e relembrou que ela havia "censurado a matéria sobre o laptop de Hunter Biden".

Musk respondeu que "suspender a conta do Twitter de uma grande organização jornalistica por publicar uma história verídica foi obviamente incrivelmente inapropriado".

O comentário reacendeu os rumores de que, caso a aquisição do Twitter seja aprovada pelas autoridades dos EUA, Musk não manterá a executiva no cargo.

O choro

Logo depois do anúncio de que o Twitter havia aceitado a proposta de Musk, na última segunda-feira (25), Gadde convocou uma reunião virtual com suas equipes das áreas políticas e jurídicas. Segundo o Politico, ela teria reconhecido que há grandes incertezas sobre como será a empresa sob a liderança do bilionário.

Vários veículos da imprensa afirmaram que Gadde foi às lágrimas durante a reunião. O porta-voz do Twitter, Trenton Kennedy, limitou-se a afirmar que Gadde ficou emocionada ao discutir o impacto de sua equipe e o orgulho que sente por eles.

"Acho que todos no Twitter, independentemente de como se sintam com as notícias, estão se sentindo reflexivos e emocionais", disse um funcionário do Twitter ao Politico.

"Passamos por muita coisa nos últimos dois anos e isso gerou muita reflexão. Acho que foi mais um reconhecimento da incerteza que todos estão sentindo agora."

Encontrando sua voz

Vijaya Gabbe nasceu na Índia e se mudou para os Estados Unidos aos três anos de idade. Formada pela Universidade de Cornell e pela Faculdade de Direito da Universidade de Nova York, Gadde passou quase uma década em um escritório de advocacia do Vale do Silício trabalhando com startups de tecnologia antes de ingressar na empresa de mídia social em 2011.

Naquela época, a internet era um lugar diferente. Muitos políticos ainda estavam apenas se familiarizando com a plataforma. Trump usava seu Twitter para compartilhar anúncios sobre suas aparições na TV. A conta presidencial oficial, @POTUS, não existiria até 2015, sob o mandato do então presidente Barack Obama.

Quando Gadde assumiu o cargo de conselheira geral em 2013, o serviço de mídia social tinha uma mentalidade onde tudo era permitido. Um ano antes, um dos gerentes de produto do Twitter no Reino Unido disse que o Twitter se via como "a ala da liberdade de expressão do partido da liberdade de expressão", um rótulo posteriormente repetido pelo então CEO Dick Costolo.

"Acho que foi isso que me atraiu para o Twitter — essa plataforma que te dá voz, te dá uma comunidade e te dá poder", disse em entrevista àFortune. "Eu era a única criança indiana durante a maior parte da minha educação até ir para a faculdade. Você se sente sem voz."

Gadde versus Trump

Gadde é vista internamente como a "autoridade moral" do Twitter e a encarregada de lidar com questões delicadas como intimidação e assédio.

Em sua liderança, políticas contra discurso de ódio, desinformação e até publicidade política foram cuidadosamente elaboradas. Para isso, o Twitter contratou um time de pesquisadores para estudar a saúde do discurso na rede social.

Mas à medida que o papel do Twitter na política global cresceu, também aumentou a visibilidade de Gadde.

Talvez nenhum usuário tenha apresentado maior dificuldade na moderação de conteúdo para Gadde e sua equipe do que Trump. No período em que esteve presente na rede social, o ex-usuário da plataforma, era responsável por tweets que muitas vezes ultrapassavam as regras da comunidade.

Os tweets de Trump eram tópico frequente de conversa entre os funcionários, e o cargo de Gadde significava que ela tinha o trabalho único de punir o usuário mais famoso do mundo - como, de fato, aconteceu.

"Minha equipe tem a responsabilidade de fazer isso com cada indivíduo que usa o Twitter, seja o presidente de um país, um ativista ou alguém que não conhecemos", disse ela. "Eu honestamente faço o meu melhor para tratar a todos com o mesmo grau de respeito".

Gadde também liderou a criação das sinalizações que são incluídas em tweets considerados "enganosos", com um link "saiba mais" remetendo a informações mais detalhadas sobre o assunto comentado.

Segundo ela, foi uma maneira de informar publicamente que o usuário viola as regras, mas ao mesmo tempo reconhecer que o que foi dito é relevante demais para ser retirado do ar. "É preservar um registro do que é dito de interesse público", explicou Gadde.

Líder inspiradora

Enquanto nada está definido, Gadde pelo menos conta com o aparente apoio de sua equipe. Vários funcionários aproveitaram o momento de instabilidade para reforçar o valor da executiva.

"Se você procurar a palavra 'inspirador' no dicionário, encontrará uma foto de @vijaya", twittou o associado sênior de políticas públicas Kennedy O'Brien.

"Grata como sempre por sua liderança @vijaya - não poderia ser mais sortuda", twittou Camino Rojo, chefe de políticas públicas, governo e filantropia da Espanha no Twitter.