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Chega de vista grossa: Netflix resolveu cobrar quem compartilha senha

Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Barbara Mannara

Colaboração para Tilt*, do Rio de Janeiro

18/03/2022 10h23

Se você é o "agregado" que usa a senha da Netflix do amigo, já pode ir se preparando. A gigante do streaming anunciou na última quarta-feira (16) que vai começar a aplicar taxas extras para quem compartilhar a assinatura da conta.

A boa notícia é que isso não vai rolar no Brasil logo de cara. A medida será alvo de testes no Chile, Costa Rica e Peru. A cobrança só ocorrerá no caso de as pessoas não morarem na mesma residência.

Quanto isso custa no bolso?

Dependendo do país, a taxa fica entre US$ 2,12 (R$ 10,68) e US$ 3 (R$ 15,11) extras. a mais. A cobrança está prevista para ser aplicada ao longo das próximas semanas nos países de testes, com o lançamento da função de "Membro Extra".

O "Membro Extra" legaliza o compartilhamento da conta entre pessoas que não moram na mesma casa. Com ele, a Netflix permite que os usuários dos planos do tipo padrão e premium possam pagar essa cota extra para adicionar até duas contas de acesso externo.

É praticamente uma cobrança de ponto extra, que era muito comum em operadoras de TV a cabo.

Como o sistema deve dedurar usuários extras

A Netflix ainda não deu detalhes exatos. No entanto, é possível que a companhia aposte em inteligência artificial de uma empresa chamada Synamedia.

A plataforma criada por eles é capaz de descobrir quando o acesso de uma determinada conta está sendo feito por pessoas diferentes. Principalmente em locais afastados da residência de origem da assinatura ou simultaneamente em vários dispositivos.

Segundo a Synamedia, o recurso está em teste em algumas empresas de TV paga. Mas ainda não há confirmações de que a Netflix usará exatamente essa tecnologia.

Netflix está fechando o cerco

Para entender melhor, a Netflix permite criar diferentes perfis na mesma assinatura. Além disso, é possível acessar seu conteúdo por meio de diversos dispositivos simultâneos, usando a conta premium ou standard.

É justamente esta ação que permitia que amigos e familiares compartilhassem a mesma assinatura, o que deixa o preço mais barato na hora de rachar a conta. A Netflix ainda "flexibiliza" esse esquema irregular, permitindo criar mais perfis do que o limite de acessos simultâneos.

"Essas funcionalidades extremamente populares também criaram uma certa confusão sobre quando e como a Netflix pode ser compartilhada", comentou Chengyi Long, diretor de inovação de produtos da Netflix, em entrevista á Variety.

Por exemplo:

Se o usuário optar assinar o plano "Padrão", que custa R$ 39,90, ele pode acessar os vídeos em Full HD (1080p) e assistir simultaneamente em apenas dois dispositivos (seja ele tablet, celular ou TV).

No entanto, a Netflix permite que sejam criados cinco perfis dentro dessa mesma conta, mesmo que as pessoas não morem na mesma casa. E tudo funciona de forma independente: favoritados, lista do que está assistindo e até padrões de conteúdo do usuário. Para acessar atualmente, basta ter as informações de login e senha. E o sistema não identifica se as pessoas estão na mesma localidade ou não.

Vale lembrar que essa ação fica fora das normas do streaming. E no site da Netflix tem um comunicado sobre o assunto: "Somente as pessoas que moram com você podem usar sua conta. Assista em 4 aparelhos ao mesmo tempo com o plano Premium, em 2 aparelhos com o plano Padrão e em 1 com o plano Básico".

O motivo da mudança

Em abril de 2021 a Netflix chegou a comentar sobre o compartilhamento ilícito de senhas. Mas deu a entender que o processo não seria rigoroso. Na época, Reed Hastings, co-CEO e cofundador da Netflix, chegou a comentar que "nunca lançaríamos algo que parecesse 'apertar os parafusos'" para as pessoas que gostam do serviço", em nota para o site Variety. Mas pelo jeito, o jogo virou.

Um dos motivos poderia ser uma tentativa da Netflix de recuperar espaço no mercado e aumentar faturamento, sobretudo com a presença de novos concorrentes, como o Disney+. Dessa forma, limitar o acesso nas assinaturas poderia resolver duas questões de uma vez.

A primeira seria limitar o compartilhamento não autorizado de senha, que, pelo jeito, tem se mostrado um calcanhar de Aquiles para a gigante do streaming.

E a segunda seria, possivelmente, um novo planejamento financeiro. Visto que a empresa tem enfrentado um mercado robusto de concorrentes e as ações da Netflix caíram 41% este ano, o que pode ser uma preocupação para os investidores.

Com essa medida, a Netflix poderia conquistar novos assinantes - que anteriormente ficavam de parasita da conta alheia - e permitir um compartilhamento "oficial" da assinatura, lucrando em cima da taxa extra.

Chengyi, em seu comunicado mais recente, ressaltou que essa medida seria uma forma de garantir investimentos para os novos conteúdos da marca. "As contas são compartilhadas por diferentes residências, o que afeta nossa capacidade de investir em séries e filmes de qualidade para os nossos assinantes", contou.

A nova cobrança é um teste limitado por enquanto. Mas a Netflix já afirmou estar testando nesses três mercados para entender melhor como funciona antes de lançar para o restante do mundo.

Até onde sabemos, a Netflix não colocou ainda o Brasil na lista divulgada. Mas já vale ficar em alerta e se preparar para pagar o novo boleto da assinatura da Netflix.

*Com informações da Variety