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Mistura quente: a ciência por trás dos coquetéis molotov usados na Ucrânia

1 mar. 2022 - Civis ucranianos lançam coquetéis molotov em treinamento, na cidade de Zhytomyr - Viacheslav Ratynskyi/Reuters
1 mar. 2022 - Civis ucranianos lançam coquetéis molotov em treinamento, na cidade de Zhytomyr Imagem: Viacheslav Ratynskyi/Reuters

Rodrigo Lara

Colaboração para Tilt, de São Paulo

07/03/2022 13h45

Quem está acompanhando a guerra iniciada após a invasão da Rússia na Ucrânia certamente viu declarações do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, dizendo para a população resistir ao ataque e "fazer coquetéis molotov". Até uma fábrica de cerveja está sendo usada pelos ucranianos para aumentar a produção da arma improvisada.

O uso do coquetel molotov em conflitos não é nenhuma novidade. Ele consiste em uma garrafa capaz de incendiar uma área após impacto. Mas você sabe como ela funciona? E as substâncias químicas envolvidas no processo?

Como surgiu?

O coquetel molotov ganhou esse nome em uma "homenagem" ao diplomata soviético Vyacheslav Mikhailovich Molotov. Quando a então União Soviética invadiu a Finlândia em 1939, Molotov disse que o país não estava bombardeando os finlandeses, mas sim fornecendo alimentos.

Como resposta à declaração, a população da Finlândia passou a chamar as bombas soviéticas de "cestos de pães de Molotov" e seus artefatos artesanais incendiários de "Coquetéis Molotov".

Do que é feito?

De forma geral, a versão mais comum desse dispositivo incendiário tem nas reações químicas o seu segredo. A arma se utiliza de um combustível líquido, como gasolina ou álcool. A mistura pode conter um óleo viscoso, como lubrificante automotivo, cuja função é aderir sobre os alvos.

A garrafa é fechada e utiliza-se um pano como pavio, geralmente embebido na mistura contida no interior das garrafas.

Uma vez que o pavio está aceso e a garrafa é arremessada, a chama do pavio incendeia o líquido espalhado após o vidro se quebrar. Se a mistura contiver um óleo viscoso, o líquido inflamado ficará aderido ao alvo, aumentando o dano causado.

Dúvidas comuns

O coquetel molotov é explosivo?

Não. Ao sofrer um impacto e estourar, o que ocorre é a dispersão do líquido do interior da garrafa e sua ignição, processo químico que inflama materiais combustíveis. Isso pode lembrar uma explosão, mas não deve ser considerado como tal já que não há o impacto típico de explosões.

Há mais de um tipo de coquetel molotov?

Sim. Há outros métodos construtivos que chegam a dispensar o pavio aceso. Dependendo das substâncias químicas de seu interior, o impacto pode causar reações que culminam na ignição dos líquidos inflamáveis.

Por que uma fábrica de cervejas era usada como local de produção do artefato na Ucrânia?

O mais provável é que essa tenha sido uma forma de aproveitar o estoque de garrafas do local. Isso porque em nenhum momento do processo produtivo da cerveja há a presença de líquidos inflamáveis, o que inviabilizaria o uso da estrutura para preencher as garrafas em si.

Fonte: Hector Alexandre Chaves Gil, doutor e professor de Química do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT)