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Petrópolis: imagens de satélite mostram antes e depois da tragédia

Felipe Mendes

Colaboração para Tilt, em São Paulo

17/02/2022 21h16Atualizada em 18/02/2022 15h42

As fortes chuvas que atingiram Petrópolis (RJ) nesta semana, e que já deixaram ao menos 120 mortos, modificaram completamente a região. Imagens cedidas com exclusividade a Tilt pelo MapBiomas, projeto que estuda as transformações do solo no Brasil, mostram o rastro de destruição deixado pela lama.

Nas fotos, produzidas pela empresa de monitoramento geoespacial SCCON, é possível verificar como eram alguns bairros antes da tempestade e como ficaram após a tragédia, que além das vítimas deixou mais de 370 pessoas desabrigadas, de acordo com o governo do estado. Até a noite de hoje, 116 ainda estão desaparecidas

A lama e a força das águas destruíram imóveis e afetou a infraestrutura de estradas e antenas de transmissão. Choveu em poucas horas o equivalente às chuvas de mais de um mês.

A tragédia foi agravada pelo fato de que esse volume todo de chuva se concentrou em uma área específica, segundo Francisco de Assis, meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). "Se afastando dez, vinte quilômetros da serra, não caiu quase nada de chuva", disse a Tilt, classificando a situação como "anômala".

Satélites ajudam no monitoramento de Petrópolis

Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, conta a Tilt que, diante do impacto das chuvas em Petrópolis, foi solicitado a empresa SCCON que um satélite fosse posicionado exclusivamente sobre a região para que fosse possível identificar o rastro da lama. Ela se prontificou a atender ao pedido diante do interesse público nos registros.

As imagens foram feitas a partir do satélite Skysat, da multinacional Planet, dona da maior constelação de satélites em atividade atualmente, e representada no Brasil pela SCCON. "Temos uma parceria, um trabalho em conjunto [com a empresa], que fazemos com alertas de desmatamento, usando imagens com 3 metros de resolução [espacial]", explica Azevedo — o que representa registros de alta resolução de grandes áreas da Terra.

Foi por conta desse equipamento direcionado que as imagens puderam ser feitas.

Além do Skysat, existem outros satélites que são utilizados por monitoramento contínuo de territórios. Contudo, esse tipo de tecnologia enfrenta um problema difícil de ser resolvido: as nuvens. Isso porque eles fazem uma rota e passa pelos locais em um horário específico do dia. Se estiver nublado, fica impossível fazer qualquer observação.

"Se tiver com nuvem no momento em que o satélite passar, ele vai encontrar áreas que não são possíveis de registrar. Foi o que aconteceu quando olhamos imagens de Petrópolis na terça-feira, quarta-feira e hoje, todas com muita nuvem. Então precisamos posicionar um satélite específico para conseguir uma janela e captar as imagens", explica.

Dois dias após a tragédia, a Defesa Civil e os Bombeiros seguem em busca de vítimas e pessoas desaparecidas em meio aos escombros.

Segundo o coordenador do MapBiomas, unidades da Defesa Civil e prefeituras de cidades podem ter acesso a todos os dados produzidos pelo MapBiomas, caso queiram utilizar para auxiliar nas buscas.

Tilt entrou em contato com a Defesa Civil que está atuando em Petrópolis para saber quais tecnologias estão sendo utilizadas para a busca de vítimas. A resposta do órgão foi apenas que "no momento toda a equipe técnica e operacional está centrada nas buscas e salvamento".

É possível usar imagens de satélites para evitar tragédias?

O coordenador do MapBiomas afirma que existe um conjunto de imagens que podem ser utilizadas para observar o relevo e antever possíveis tragédias. De acordo com ele, a Polícia Federal tem um acordo de compra de determinados registros e disponibiliza para que órgãos públicos possam utilizar.

Além disso, o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) realiza monitoramentos para tentar antever problemas.

De acordo com Tasso Azevedo, existem ainda instrumentos que podem ser utilizados para análise de risco. Para isso são usados satélites com resolução de 30 metros e de 10 metros, capazes de mostrar o uso da terra e os tipos de solo.

"É possível cruzar esses dados com os de relevo, por exemplo, para identificar e classificar como áreas de risco. Estamos fazendo um exercício nesse momento para identificar áreas de maior risco de queda de barreiras de acordo com o relevo, cruzando com se temos uma área vegetada ou não, por exemplo", conclui Azevedo.

*Colaborou Aurélio Araújo