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Efeito Einstein: acreditamos mais em besteira se for 'dita' por cientistas

Mesmo sem compreender, pessoas creem por confiar na posição de quem emite a informação Imagem: iStock

Aurélio Araújo

Colaboração com Tilt, de São Paulo

14/02/2022 17h36

As pessoas tendem a acreditar mais em frases aparentemente sem sentido se elas forem atribuídas a cientistas. É isso que concluiu um novo estudo publicado pela revista Nature, feito com 10 mil participantes em 24 países ao redor do mundo.

Segundo os pesquisadores, essa conclusão pode estar ligada ao "efeito Einstein", um fenômeno que mostra que fontes de informação consideradas confiáveis recebem mais crédito que outras pela posição social que elas ocupam.

Para realizar o estudo, os cientistas criaram frases sem pé nem cabeça utilizando uma espécie de "gerador de lero-lero" online: o site "New Age Bullshit Generator", que as presenteou com frases como "a descontinuidade é a antítese da inspiração" e "a complexidade do presente parece demandar uma revelação das nossas esperanças, se queremos sobreviver".

Na prática, o site cria frases aparentemente profundas — mas que, quando analisadas de perto, nada querem dizer de verdade. Essas criações foram apresentadas aos participantes do estudo, sendo atribuídas ora a cientistas, ora a gurus espirituais.

O resultado encontrado apontou na direção do "efeito Einstein": as pessoas acham essas afirmações mais dignas de confiança se elas vêm de cientistas. 76% dos participantes classificaram as frases como confiáveis quando elas eram atribuídas a pesquisadores, contra 55% que as achavam críveis quando eram atribuídas a gurus.

Religiosidade

O estudo, que envolveu pesquisadores da área de psicologia de diversas universidades, também questionou as pessoas sobre o quanto elas se consideravam religiosas.

Com essa informação, foi possível constatar que pessoas religiosas ainda assim deram mais credibilidade aos cientistas do que aos gurus espirituais. Entretanto, isso ocorreu numa proporção menor do que aquela constatada entre as pessoas que não se consideram religiosas.

Essa comparação também mostrou que, entre os religiosos, há mais confiança em gurus do que na amostra de participantes não religiosos.

A escolha pelo termo "guru espiritual" foi feita para que a autoridade escolhida na comparação de confiança com os cientistas não fosse uma liderança ligada a alguma religião específica, já que o estudo foi realizado em diferentes países, com diferentes sociedades e religiões.

Embora haja variação de confiança no que dizem cientistas e gurus em cada um dos países que fizeram parte da pesquisa, os autores afirmam que, em algum ponto do passado, os cientistas superaram lideranças religiosas como principais fontes de informação — ao menos, na explicação de fenômenos do mundo físico.

O "efeito Einstein"

Na versão final do estudo, os pesquisadores fizeram observações sobre a questão histórica do chamado "efeito Einstein".

"De uma perspectiva evolutiva, a deferência a autoridades confiáveis, como professores, médicos e cientistas, é uma estratégia adaptativa que permite o aprendizado cultural e a transmissão de conhecimento eficazes. De fato, se uma fonte é considerada uma expert confiável, as pessoas tendem a crer nela, mesmo sem entendê-las totalmente", diz o estudo.

Por um lado, é como se as pessoas confiassem aos cientistas o entendimento de assuntos que elas consideram muito complexos. Como eles são vistos como pessoas com inteligência acima da média, merecem o benefício da dúvida, mesmo que o que estejam dizendo seja algo sem sentido aparente.

Por outro lado, os pesquisadores afirmam que as pessoas tendem a acreditar em frases incompreensíveis justamente por sua incompreensibilidade, o que, segundo eles, pode ser notado no discurso de alguns gurus espirituais.

Nesse sentido, alguns fatores individuais e culturais fazem a diferença: as pessoas tendem a confiar mais naqueles que estejam alinhados com sua própria ideologia política e sua visão de mundo.

"Na ausência de meios para avaliar racionalmente uma afirmação e uma fonte confiável de informações, as pessoas provavelmente inferem credibilidade com base em crenças sobre o grupo ao qual a fonte pertence (por exemplo, 'conservadores', 'cientistas')", escrevem os pesquisadores.

"Nesse processo, similaridades entre a visão de mundo de uma pessoa e a visão de mundo de uma fonte podem servir como uma procuração para que aquela seja considerada uma fonte benevolente e confiável."

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