Nasa divulga primeiras imagens através das nuvens de Vênus; veja
Pela primeira vez, uma sonda da Nasa fotografou a superfície de Vênus em luz visível — ou seja, como o olho humano enxergaria. A missão Parker nos revelou imagens nunca antes vistas do relevo de nosso vizinho, que podem ajudar a explicar como ele se tornou tão inóspito à vida.
Até então, as fotos espaciais da superfície do planeta foram tiradas em frequências ultravioleta ou infravermelha. Isso porque há uma densa camada de nuvens ao seu redor, que nos impede de enxergar diretamente o que há embaixo dela.
Em 2020 e 2021, a Parker Solar Probe — em sua jornada até o Sol — fez dois sobrevoos em Vênus. Ela apontou as câmeras do moderno instrumento WISPR (Wide-Field Imager) para o lado escuro do planeta (que está oposto ao Sol), e conseguiu obter as imagens inéditas, em comprimentos do espectro de luz visível.
A Nasa combinou os registros em um vídeo:
Não exatamente é o tipo de fotografia que imaginamos. Através das nuvens, é possível apenas enxergar um brilho que emana da superfície do planeta - áreas mais claras são mais baixas; mais escuras são mais altas -, mostrando o relevo do planeta, como planícies, planaltos e áreas continentais.
Apenas ondas visíveis mais longas — que beiram o infravermelho, no limite do olho humano — conseguem ultrapassar. São, na verdade, emissões termais, que revelam variações de temperatura. Vênus é tão quente que brilha; mesmo durante a noite fica em torno dos 460°C.
"É tão quente que a superfície rochosa de Vênus fica visivelmente brilhante, como um pedaço de ferro retirado de uma forja", disse Brian Wood, físico do Laboratório de Pesquisa Naval em Washington, DC, e autor principal de um estudo publicado esta semana na revista Geophysical Research Letters.
No lado claro do planeta, não seria possível registrar essas variações de brilho — pois as nuvens espessas refletem 90% da luz do Sol e ofuscam o que vem da superfície. Nas imagens, também vemos um anel luminoso ao redor do planeta, chamado de "airglow" — um halo de oxigênio na atmosfera.
Gêmeo inóspito
Vênus, Terra e Marte, planetas rochosos, se formaram na mesma época, mas hoje são muito diferentes. Vênus era um planeta gêmeo da Terra — mas se tornou um local hostil para qualquer forma de vida, com altíssimas temperaturas, pressão esmagadora e acidez corrosiva; enquanto aqui se tornou um oásis.
As novas imagens, combinadas com os registros de radar anteriores, estão ajudando os cientistas a entender este processo de evolução e também a estudar a geologia e a composição de nosso vizinho — quando aquecidos, minerais brilham em comprimentos de onda únicos. Suspeita-se que atividade vulcânica passada tenha sido responsável por uma atmosfera tão espessa.
O WISPR mostrou a região continental Aphrodite Terra, o planalto Tellus Regio e as planícies Aino Planitia. Como as áreas de maior altitude são cerca de 30°C mais frias do que as mais baixas, elas aparecem como manchas escuras em meio às planícies mais brilhantes.
"Vênus é o terceiro objeto mais brilhante no nosso céu, mas até recentemente não tínhamos muitas informações sobre como era a superfície, porque nossa visão dela é bloqueada por uma atmosfera espessa", disse Wood. "Agora, finalmente estamos vendo a superfície em comprimentos de onda visíveis pela primeira vez do espaço."
O instrumento, na verdade, foi desenvolvido para captar detalhes dos ventos solares que fluem do Sol. E os cientistas queriam aproveitar para medir a velocidade das nuvens de Vênus, já que a Parker passaria pelo planeta, a caminho de nossa estrela. Mas o WISPR conseguiu ver além das nuvens.
As únicas imagens de Vênus feitas do solo em luz visível (preto e branco) datam de 1975, quando a sonda soviética Venera 9 pousou lá — ficou operacional por 53 minutos na superfície, até perder contato devido às altíssimas temperaturas.
Até o final desta década, novas missões tentarão desvendar os mistérios de nosso vizinho, como DAVINCI e VERITAS — ambas da NASA — e EnVision, da Agência Espacial Europeia (ESA).
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