Topo

Brasileiro cria medidor de vitamina D no corpo que funciona com aplicativo

iStock
Imagem: iStock

Rosália Vasconcelos

Colaboração para Tilt, do Recife

21/01/2022 04h00

A pandemia da covid-19 trouxe à discussão a importância da vitamina D para além da saúde dos ossos. Os níveis desse componente estão diretamente relacionados ao funcionamento do sistema imunológico. Quem precisa regulá-la no corpo geralmente recorre aos suplementos criados em laboratório. Mas uma tecnologia patenteada por um pesquisador brasileiro tem chances de reduzir a necessidade de administração por via oral.

O professor Petrus Santa Cruz, doutor do departamento de química fundamental da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), criou um dispositivo que afere o nível da vitamina no corpo a partir da coleta de dados de exposição ao Sol da pessoa e de um aplicativo para celular.

A ideia de Petrus surgiu há 20 anos, quando ele desenvolveu em laboratório um nanodosímetro molecular — um dosímetro é usado para medir a exposição de um indivíduo à radiação. Dez anos depois, ele aperfeiçoou sua criação ao conseguir uma versão imprimível para medir esse dado.

Nela, uma impressora tipo "jato de tinta" consegue produzir uma molécula em formato de fita que guarda na memória o quanto de radiação ultravioleta solar a pessoa recebeu em um determinado período de tempo ou momento do dia.

Essa invenção ficou em análise pelo INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual) por anos. Só recentemente, o órgão patenteou o equipamento chamado: "Dosímetro Imprimível para Radiação Ultravioleta" — curiosamente isso ocorreu em plena pandemia, onde muitas pessoas deixaram de se expor ao Sol devido ao confinamento, algo que reduz a produção de vitamina D pelo organismo.

O pesquisador acredita que, no futuro pós-pandemia, esse dispositivo deve ajudar as pessoas a controlar sua produção cutânea de vitamina D. "A pandemia da covid-19 nos obrigou ao confinamento, o que reduziu nossa exposição ao Sol. Depois, vamos precisar corrigir essa deficiência de vitamina D, inclusive para evitar que ela afete nosso sistema imunológico e abra espaço para doenças oportunistas", afirma Santa Cruz.

Como o equipamento funciona

Petrus explica que a fita com a parte ativa do nanodosímetro pode ser usada na camiseta, por exemplo. A partir daí ela começa a coletar dados de exposição à radiação ultravioleta solar. Um aplicativo instalado no celular converte essa dose na quantidade acumulada de vitamina D produzida no período e exibe os resultados.

"Nesta etapa estamos trabalhando com mais de um tipo de opção de uso. A princípio as fitas podem ser fixadas na roupa e o tempo de saturação dependerá da dose recebida no período, tipicamente uma ou duas semanas, mas esses detalhes ainda podem mudar", diz Santa Cruz a Tilt.

Para fazer o cálculo, o software leva em consideração dados registrados anteriormente, como o tipo de pele da pessoa, idade, sexo e o tipo de roupa que está usando (para calcular a fração de pele exposta ao Sol).

"O indivíduo pode então comparar a dose de vitamina D produzida pela sua exposição ao Sol no período e comparar com a dose prescrita pelo médico", afirma o pesquisador.

Outra função da tecnologia é evitar exposições excessivas ao Sol, ajudando a evitar o risco de câncer de pele. "O smartphone recebe o sinal de um leitor da fita ativa, que deixará de emitir o sinal visual (luminescência) após se atingir a produção de uma determinada dose da vitamina D", acrescenta.

Mais tecnologia em saúde

Segundo Petrus, o nanodosímetro imprimível nessa aplicação pode contribuir ainda com um terceiro eixo, que é a produção de uma base de dados com informações sobre deficiência da vitamina D separadas por regiões do país. Esse banco de dados poderia contribuir para definições de políticas públicas.

As informações conseguem ser alimentadas em tempo real à medida que as pessoas usam o dispositivo. De acordo com o pesquisador, atualmente não há informações desta natureza no DataSUS, por exemplo. Por isso, depois que o sistema estiver validado, ficará disponível para as bases de dados do SUS.

Nesse momento, segundo Petrus, a empresa Outlier Tecnologia é parceira no projeto em que o Grupo LandFoton (DQF) atua, em conjunto com o Grupo Core, do Centro de Informática da UFPE (CIn). O projeto faz parte do Programa SibratecNano (Finep), sendo gerenciado administrativamente pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da UFPE (Fade).