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Existe água na superfície da Lua, confirmam cientistas chineses

Sonda chinesa Chang"e-5 em solo lunar - Divulgação/CNSACLEP
Sonda chinesa Chang'e-5 em solo lunar Imagem: Divulgação/CNSACLEP

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt, em São Paulo

11/01/2022 17h38

Cientistas afirmam ter encontrado água, em forma líquida, na superfície lunar. A descoberta foi anunciada após análise de amostras de rochas e poeira, coletadas pela sonda chinesa Chang'e-5.

É a primeira vez que água é detectada fisicamente na Lua, neste estado, a partir de amostras de solo. Até então, diversos estudos já haviam indicado sua presença — porém, todos baseados em medições remotas ou observações orbitais.

A missão Chang'e-5 foi lançada em novembro de 2020. Menos de um mês depois, uma cápsula trazendo 1,7 kg de material do nosso satélite natural pousou no deserto da Mongólia. Operações similares a esta não eram realizadas desde a missão soviética Luna 24, em 1976.

A carga foi enviada à China, para análises de laboratório. Mais de um ano depois, um estudo, publicado recentemente na revista Science Advances, confirma que água líquida foi encontrada na proporção de 120 ppm (partes por milhão) no solo, e de 180 ppm nas rochas — estas, muito mais secas que as da Terra.

De acordo com os pesquisadores, foram os ventos solares que contribuíram para a maior parte da umidade do solo lunar, ao carregar hidrogênio até lá. A água adicional das rochas pode ter origem no interior do próprio satélite, em camadas basálticas mais profundas.

O estudo revela que a Lua ficou mais seca a partir de certo período, provavelmente pela perda de gases de seu reservatório mantélico.

Rochas preciosas

Estudo do material lunar coletado pela sonda chinesa - Divulgação/Lin Honglei - Divulgação/Lin Honglei
Estudo do material lunar coletado pela sonda chinesa
Imagem: Divulgação/Lin Honglei

Antes da Chang'e-5, aproximadamente 400 kg de material da superfície lunar haviam sido coletados pelos astronautas das missões Apollo, da Nasa, e pelas sondas robóticas Luna, da União Soviética. Entretanto, todas essas amostras eram de rochas e solos muito antigos, formados há mais de três bilhões de anos.

A missão chinesa mirou uma região vulcânica elevada, chamada Mons Rümker, com uma idade estimada entre 1,2 e 1,3 bilhões de anos — uma das mais recentes áreas basálticas da Lua. As amostras podem nos oferecer informações adicionais sobre a composição e o processo de formação de nosso satélite.

As análises também ajudarão os cientistas a calibrarem o "cronômetro" utilizado para calcular a idade das superfícies dos planetas rochosos do Sistema Solar. Em geral, isso é feito contando crateras — quanto mais crateras, mais velho —, mas há variáveis.

Futuras missões

A presença confirmada de água pode ser chave para futuras missões e até mesmo o estabelecimento de uma base lunar habitada. Através da água (H2O), é possível extrair oxigênio (O2) para nossa sobrevivência e também hidrogênio (H2) para combustível de naves espaciais — agindo como uma espécie de futuro "pit-stop" no caminho para Marte, por exemplo.

No entanto, não é apenas a China que tem planos envolvendo o satélite. Meio século depois da viagem que nos levou pela primeira vez à Lua, em 1969, ela está novamente em voga pela Nasa . Na era moderna da exploração espacial, a agência estadunidense quer que o homem — incluindo a primeira mulher — caminhe de novo em sua superfície, até 2025, com o programa Artemis.

Para este ano, estão previstas diversas missões com sondas não tripuladas: pelo menos três dos Estados Unidos, uma do Reino Unido, uma do Japão e uma da Rússia. Os chineses continuarão seus experimentos com a Chang'e-6 e Chang'e-7.