Topo

Pressionada, NSO pode ser vendida e acabar com o programa espião Pegasus

Prédio que abriga o grupo israelense NSO, dono do sistema Pegasus, em Herzliya, perto de Tel Aviv - Jack Guez/AFP
Prédio que abriga o grupo israelense NSO, dono do sistema Pegasus, em Herzliya, perto de Tel Aviv Imagem: Jack Guez/AFP

Felipe Mendes

Colaboração para Tilt, em São Paulo

14/12/2021 18h16

A empresa israelense NSO Group corre o risco de não pagar suas dívidas e estuda alternativas, que incluem sua venda e o encerramento do programa espião Pegasus como ele é conhecido hoje. As informações são da Bloomberg.

De acordo com a publicação, várias conversas vêm sendo realizadas com fundos de investimento para um movimento que inclui sua venda definitiva, além da possibilidade de refinanciar o que ela deve. Calcula-se que a dívida gire em torno de US$ 450 milhões (R$ 2,56 bilhões, aproximadamente).

Segundo a reportagem, os possíveis novos proprietários da NSO podem ser dois fundos norte-americanos, que injetariam cerca de US$ 200 milhões (aproximadamente R$ 1,13 bilhão, na cotação atual) para modificar o Pegasus e usar o know-how (conhecimento sobre ele) para criar serviços de segurança cibernética estritamente defensivos.

Além disso, talvez, desenvolver uma tecnologia de drones da empresa israelense, afirmou uma fonte à Bloomberg.

Pegasus e suas polêmicas

O programa Pegasus tem criado polêmica ao redor do mundo devido sua capacidade de espionagem.

De acordo com denúncias recentes, centenas de jornalistas, políticos, ativistas dos direitos humanos, empresários e advogados de diferentes nacionalidades podem estar na lista de espionagem de governos de ao menos dez países que utilizam o programa—o Brasil, pelo menos oficialmente, não possui contratos com a fabricante do sistema.

A NSO Group chegou a afirmar que vende a tecnologia para agências de segurança pública e governamentais para prevenir o crime e o terrorismo, além de ressaltar que encerrou contratos com clientes que abusam dela.

Apesar disso, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos colocou a empresa em uma lista de companhias proibidas de receber exportações no país, citando o desenvolvimento e fornecimento de programas maliciosos e ferramentas de hacking (invasão de sistemas). A NSO tenta reverter a decisão.

Um relatório divulgado recentemente pela Reuters afirmou que o Pegasus foi utilizado para atingir pelo menos nove funcionários do Departamento de Estado dos EUA. Em novembro, um porta-voz da empresa disse que suas "tecnologias apoiam os interesses e políticas de segurança nacional dos EUA".

Segundo a Bloomberg, as restrições dos Estados Unidos pressionaram ainda mais a NSO, que precisa pagar uma dívida milionária. A agência de classificação de risco Moody's revelou que a empresa israelense está sob risco de inadimplência e reduziu sua classificação em dois níveis, deixando-a oito níveis abaixo do grau de investimento.

Outro ponto negativo para a NSO é que o fechamento do Pegasus a deixaria muito menor e potencialmente menos valiosa, já que o programa é responsável por metade de sua receita.

A empresa espera registrar cerca de US$ 230 milhões em vendas este ano.

A NSO Group não quis comentar sobre as negociações e nem sobre um possível fechamento do programa Pegasus, de acordo com a reportagem.