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Estratégia para evitar tédio: como TikTok faz você gastar horas no app

Getty Images
Imagem: Getty Images

De Tilt, em São Paulo

06/12/2021 15h26

Uma das principais características do TikTok é fazer com que as pessoas passem um bom tempo no app — assim como outras redes sociais. Um documento obtido pelo New York Times dá alguns detalhes de como a plataforma de vídeos curtos consegue isso. De acordo com o jornal norte-americano, um dos "segredos" é ler a preferência das pessoas e mesclar com conteúdos variados, para evitar o tédio.

As principais métricas usadas pela rede social para ter mais usuários ativos diariamente são "retenção" (se uma pessoa volta a usar o app) e "time spent" (tempo gasto no TikTok). Basicamente, o app quer que as pessoas fiquem o mais tempo possível e voltem a acessar o aplicativo, numa experiência que o jornal descreve como um "vício".

O documento descreve também que itens como curtidas e comentários auxiliam no mecanismo de recomendação do TikTok.

"Se uma pessoa curte um tipo de vídeo, e o app continua a mostrar o mesmo tipo de conteúdo, ela rapidamente vai ficar entediada e fechar o app. Neste caso, o valor total criado pelo usuário [para o cálculo do algoritmo] é menor comparado quando ele assiste a um vídeo em específico, pois repetitividade leva ao tédio", diz a reportagem.

Se por um lado pessoas têm acesso a vídeos que mais interessam a elas, o documento obtido pelo NYT pontua ainda que a rede passou a exibir mais conteúdos definidos como "tristes". O problema é que vídeos com esta temática acabam aumentando a promoção de automutilação ou até mesmo suicídio, sobretudo em internautas mais jovens.

"É uma ideia maluca deixar o algoritmo do TikTok conduzir a vida de nossas crianças", disse Guillaume Chaslot, fundador da Algo Transparency (entidade que estuda o sistema de recomendação do YouTube), em entrevista ao New York Times.

Segundo ele, em poucas horas, o algoritmo do TikTok já consegue saber o gosto musical, por qual tipo de pessoa o usuário sente atração física, se está deprimido, tem propensão a usar drogas e outras informações sensíveis.

"Há um alto risco de que estas informações sejam usadas 'contra' a pessoa. Isso pode potencialmente ser usado para atingir grupos específicos ou torná-los mais viciados na plataforma", completou.

TikTok ainda tem "laços" com a China

Em 2020, o então presidente dos EUA, Donald Trump, queria proibir o TikTok por suspeita de ligação com o Estado chinês — caso que incluía acusações de trocas indevidas de dados de internautas com o governo chinês.

Para remover os laços com o país asiático, a ByteDance, dona do TiktTok, disse que venderia a plataforma para algum grupo estrangeiro. Na época, houve propostas da Oracle e do Walmart. No entanto, a administração do atual presidente dos EUA, Joe Biden, paralisou a operação.

O documento interno do TikTok, de acordo com a reportagem, foi assinado por um engenheiro chinês que também trabalha para o app de notícia Toutiao, outro controlado pela ByteDance, o que poderia sugerir que as plataformas compartilham informações.

Em resposta, o TikTok disse, em comunicado ao jornal norte-americano, que há similaridades nos códigos do Toutiao e do TikTok, mas eles funcionam separadamente, em servidores diferentes e que os códigos compartilhados não incluem dados de usuários.