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Par de buracos negros mais perto da Terra é descoberto; por que importa?

Os buracos negros supermassivos mais perto da Terra são descobertos; entenda - ESO/Voggel et al.; ESO/VST ATLAS
Os buracos negros supermassivos mais perto da Terra são descobertos; entenda Imagem: ESO/Voggel et al.; ESO/VST ATLAS

Aurélio Araújo*

Colaboração para Tilt, em São Paulo

01/12/2021 16h47Atualizada em 01/12/2021 20h51

Astrônomos divulgaram ter encontrado o par de buracos negros supermassivos mais próximo da Terra de que se tem notícia. Eles também são bem próximos entre si, o que indica que irão se chocar, se tornando um único grande buraco negro no futuro.

Os buracos negros foram detectados na galáxia NGC 7727, na constelação de Aquário, a apenas 89 milhões de anos-luz da Terra. Antes deles, os dois mais próximos da Terra conhecidos pela humanidade estava a 470 milhões de anos-luz de distância daqui. As descobertas foram publicadas no jornal científico Astronomy & Astrophysics.

Ano-luz é uma medida de distância astronômica, que reflete a distância que a luz percorre no vácuo durante um ano. A conversão dessa medida em quilômetros é pouco prática, uma vez que cada ano-luz equivale a cerca de 9,4 trilhões de quilômetros. Então, trata-se de uma unidade capaz de medir distâncias espaciais bastante expressivas.

Os dois buracos negros foram analisados por uma equipe de cientistas de várias partes do planeta. A proximidade dos dois também foi destacada pelos pesquisadores. Eles estão separados por apenas 1.600 anos-luz, a menor distância já descoberta pela astronomia.

"É a primeira vez que encontramos dois buracos negros supermassivos que estejam tão perto um do outro, menos que a metade da distância de separação do recorde anterior", afirmou a astrônoma Karina Voggel, da Universidade de Estrasburgo, na França, que foi a liderou os estudos.

A descoberta foi realizada com o VLT, sigla em inglês para "telescópio muito grande", que na verdade é uma série de vários telescópios pertencentes ao ESO (Observatório Europeu do Sul, em tradução direta), instalados no deserto do Atacama, no Chile.

Por que isso importa

Quase toda galáxia possui em seu centro um buraco negro supermassivo. Eles são núcleos ao redor dos quais todos os outros fenômenos ocorrem. Quando se encontra um par deles, isso indica que a galáxia na qual os buracos estão localizados foi formada por outras duas.

Ou seja, com a descoberta, os cientistas confirmaram algo que já se suspeitava: a galáxia NGC 7727 é na verdade produto da fusão de outras duas galáxias.

Além disso, saber que há um par de buracos tão próximo da Terra permite que astrônomos possam agora estudar as interações entre eles de forma mais aprofundada. Isso vai nos ajudar a esclarecer o que acontece nos estágios finais da aproximação entre eles.

Buracos negros supermassivos têm uma massa milhões e milhões de vezes superior à do Sol. Então, quando há um par deles, podemos aprender como eles chegam a ter esse tamanho, já que a fusão entre dois deles é um dos caminhos que os faz adquirirem tanta massa.

"As últimas 24 horas foram absolutamente loucas, mas como o melhor tipo de loucura. Nunca imaginei o nível de interesse que recebi em nossa descoberta de buracos negros supermassivos duplo", compartilhou a astrônoma Karina Voggel, em seu perfil no Twitter.

Como a descoberta foi feita

Há tempos, astrônomos buscavam um par de buracos negros supermassivos na galáxia NGC 7727. As características dela apontavam para o produto de uma fusão entre outras duas galáxias, ocorrida no passado.

Porém, é difícil detectar buracos negros, a não ser que eles estejam ativamente acumulando material, já que isso faz com que a área ao redor deles brilhe devido à radiação. A NGC 7727 não possuía esse visual brilhante.

Mas, já que trata-se de uma galáxia tão próxima da Terra, os cientistas puderam coletar dados de movimentação das estrelas no centro dela, com base na forma como suas luzes mudavam conforme elas giravam. Foi isso que, no fim das contas, provou que não havia um único buraco negro supermassivo em seu centro, mas dois.

Um desses buracos negros é bastante impressionante, com uma massa cerca de 154 milhões de vezes superior à do Sol. O outro é um pouco mais modesto, com massa apenas 6,3 milhões de vezes maior que a solar. O curioso é que é justamente o menor dos buracos negros é o ativo entre os dois.

"Nossa descoberta significa que pode haver muitas outras dessas relíquias de fusão entre galáxias no espaço, e elas podem conter vários outros buracos negros supermassivos escondidos, esperando serem encontrados", afirmou Voggel. Ela projeta que o número de buracos negros desse tipo mapeados pela astronomia pode subir em até 30%.

*Com informações do site Science Alert e do ESO (Observatório Europeu do Sul)