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Sem apoio, sem tecnologia: indústria apela por mais dinheiro para inovação

Brasil está em 57º em ranking de inovação - Fernando Zhiminaicela/ Pixabay
Brasil está em 57º em ranking de inovação Imagem: Fernando Zhiminaicela/ Pixabay

Abinoan Santiago

Colaboração para Tilt, em Florianópolis

24/11/2021 16h23

Em 57º lugar no IGP (Índice Global de Inovação) entre 132 países, o Brasil anda a passos lentos —para não dizer para trás— no desenvolvimento de tecnologias sustentáveis. E isso é reflexo da burocracia para celebrar parcerias entre universidade e o setor privado, somado aos cortes de recursos para as áreas de ciência e tecnologia, segundo pesquisadores e representantes de empresas que participaram hoje do segundo dia do evento "Ciência, Tecnologia e Inovação para Agenda 2030", transmitido por Tilt.

Ao longo de dois dias, líderes de setores empresariais, especialistas da academia, governo, organismos internacionais e sociedade civil se juntaram para discutir objetivos concretos da Agenda 2030, compromisso global promovido pela ONU (Organização das Nações Unidas) assumido por 193 países — incluindo o Brasil.

Pouco recurso público para ciência

Com investimento de pouco mais de 1% do PIB (Produto Interno Bruto) em ações para o desenvolvimento e tecnologia, o Brasil está abaixo da média de outros países, que chegam a quase 5%.

Além do pouco dinheiro disponível, a ciência tem enfrentado sucessivos cortes da verba prevista. O mais recente é o de R$ 600 milhões que seriam destinados ao MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações), agravando ainda mais um cenário de falta de investimentos desde 2016.

O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), por exemplo, em 2021 teve um orçamento de R$ 1,21 bilhão — o menor valor dos últimos 21 anos.

"[Cortar recursos] é o primeiro exemplo de obstáculo que impede o desenvolvimento tecnológico no Brasil. Não existe no setor federal e nenhum outro estado um tipo de financiamento para continuidade do setor de desenvolvimento", assegurou Pedro Wongtschowski, da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

Membro da Academia Brasileira de Ciência e professora da UnB (Universidade de Brasília), Mercedes Bustamante destacou que a queda de recursos em ciência e tecnologia interrompe uma cadeia de produção de recursos humanos capazes de criar novas tecnologias.

"O conhecimento é extremamente importante, mas estamos na direção contrária em investimentos. Boa parte da ciência brasileira está com contingenciamento de recursos, como a de bolsas. Para formar um doutor, precisa de 12 anos de formação. Toda vez que temos esse hiato de investimentos, se quebra essa cadeia de formação e demora muito tempo para retomar depois. Estamos desperdiçando potenciais em recursos naturais e humanos", frisou.

Não é só falta de dinheiro

A posição de coadjuvante do Brasil no cenário mundial também é reflexo do sistema regulatório atual que impede a agilidade e até mesmo a autorização legal para parcerias entre universidades públicas e empresas, apontaram os especialistas durante o evento.

Bernardo Gradin, fundador e presidente da GranBio, empresa do ramo de biotecnologia, explica que a falta de regulação que permita parcerias mais eficazes entre universidades e empresas impedem que ideias criadas dentro dos laboratórios das instituições se transformem em produtos ao consumidor.

"Temos muito conhecimento e somos capazes de produzir ciência de ponta, mas não conseguimos fazer a ponte da ciência para tecnologia e depois para o produto. Em regulação, estamos atrasados, sobretudo em cooperação para parceria entre universidades e empresas", comentou.

"Ainda há impedimento para que professores entrem na cadeia de produtividade, pois ainda existe o impasse se o conhecimento surgido na universidade é de domínio público ou privado", acrescentou.

Mercedes Bustamante lembra que a regulação atual da ciência brasileira não dá segurança para as universidades, que são fiscalizadas por órgãos de controle. Ela frisa que o Código de Ciência e Tecnologia, sancionado em 2016, ainda não se materializou na prática. A legislação previa mais incentivo nesse aspecto.

"O ambiente regulatório é complexo e precisa dar mais segurança para ambos os lados, tanto às instituições públicas quanto às empresas. As universidades têm uma série de processos administrativos para responder e estamos em um período em que o Código de Ciência e Tecnologia pretendia facilitar esse caminho, mas que ainda não se tornou realidade", ratificou.