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A gente vai ter o Brasil do 3G, 4G e 5G, diz especialista sobre banda larga

Colaboração para Tilt, no Rio

08/11/2021 10h54Atualizada em 09/11/2021 19h07

O leilão do 5G foi o tema do UOL Debate de hoje, que reuniu três especialistas sobre o universo digital no Brasil. A oferta de frequências do setor feita pelo governo na última semana para as operadoras de telefonia foi comemorada pelo trio. Eles, no entanto, se mostram preocupados de como será a implementação da internet da quinta geração da banda larga no país.

"Um dos maiores avanços do leilão do 5G vai ser o 4G, porque incrivelmente essa tecnologia, que começou a ser implantada lá em 2013 até hoje não chegou a todos os cantos do Brasil. O leilão do 5G traz também um pouco de 4G para áreas que ainda não são atendidas por essa tecnologia", disse Rafael Coimbra, editor da MITTechReviewBR.

Um levantamento da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), divulgado em dezembro do ano passado, mostrou que mais de 20 milhões de brasileiros ainda acessam a tecnologia de terceira geração, que começou a dar passagem para o 4G em 2013.

No UOL Debate, Coimbra reforçou a necessidade das empresas conseguirem fazer os investimentos necessários. O leilão da última semana resultou em lances que somaram R$ 46,790 bilhões, que serão investidos pelas companhias para implantação da internet mais rápida no país.

O editor da MITTechReviewBR frisa que, caso esses investimentos não sejam feitos da maneira correta, o país poderá aumentar sua desigualdade digital.

A gente vai continuar tendo esses degraus digitais. A gente tem um Brasil já dividido e a gente terá o Brasil do 3G, 4G e 5G, aumentando ainda mais essa desigualdade digital
Rafael Coimbra

Para Coimbra, o maior impacto da tecnologia 5G no Brasil será sentido na indústria e no campo. Mas ele estima que a nova tecnologia estará em pleno funcionamento no país daqui a apenas 15 anos.

"A gente vai ter que ter os investimentos do 5G e depois vai ter que ter os investimentos em cima da rede 5G, porque a rede por si só não faz nada. Ela é quase que uma rodovia de dados. O que nós vamos construir em cima dessa rede vai ser a grande transformação do Brasil", afirmou o especialista.

Contrapartidas

A advogada especializada em direitos digitais e integrante da Coalizão Diretos na Rede e no Intervozes Flávia Lefèvre sentiu falta no leilão de mais contrapartidas por parte das empresas. Ela também acredita que o setor continuará muito concentrado, já que as principais frequências vão ser operadas pelas três maiores operadores do país, Claro, Vivo e Tim.

"Somos otimistas, entraram empresas novas, e esperamos que de fato elas ampliem a concorrência e o acesso, mas há ainda muito a ser feito e a Anatel poderia ter exigido mais contrapartidas", disse Lefévre.

A especialista acredita que um dos principais gargalos da internet de banda larga no país está nas escolas. Para ela, a Anatel não exigiu grandes contrapartidas das empresas para o problema.

Essas contrapartidas não estão definidas. Elas serão definidas por uma entidade que será criada ainda e que fará uma definição de programa junto com o MEC (Ministério da Educação). As contrapartidas deveriam ter sido muito mais audaciosas, porque o fosso digital que a gente tem aqui é bastante grave
Flávia Lefèvre

Fiscalização

O colunista do UOL Tilt Carlos Affonso destacou a necessidade de uma fiscalização por parte do governo para que tudo o que foi acertado no leilão saia do papel.

De acordo com cronograma estabelecido, as primeiras cidades a contar com o 5G são as com mais de 500 mil habitantes, que devem ter acesso às novas frequências até julho de 2025. As cidades menores, com mais de 30 mil habitantes, deverão oferecer a internet da quinta geração até julho de 2028.

"É importante a gente questionar não só os valores do leilão... (temos que ter) a fiscalização dessas contrapartidas e entender que o 5G depende de infraestrutura, antenas, de uma série de situações que simplesmente não vão se materializar do dia para a noite", disse Affonso.

Para o especialista, o leilão do 5G é um pontapé inicial de um longo processo que durará até o final da década.

A gente olha esse leilão por um lado com uma situação de entusiasmo porque o Brasil dá um passo importante para entrar no mundo do 5G, sabendo que essa não é uma alteração que vai simplesmente virar a chave e a gente já está automaticamente nesse mundo todo
Carlos Affonso