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O que acontece com as redes sociais de quem morreu?

Redes sociais em celular na mão de usuário - iStock
Redes sociais em celular na mão de usuário Imagem: iStock

Letícia Naísa*

De Tilt, em São Paulo

06/11/2021 11h20

Tem um ditado que diz que a única certeza na vida é a morte. Às vezes, acontece de forma inesperada e trágica, como o acidente de avião que matou a cantora Marília Mendonça, 26, e mais quatro pessoas que a acompanhavam em um voo de Goiânia (GO) para Caratinga (MG). Com a vida acontecendo de forma cada vez mais virtual, quando o corpo físico se vai, o que acontece com a persona virtual?

Ainda estamos longe de conseguir fazer o download de nossas mentes, como sugere o seriado "Years and Years", mas cada rede social tem uma forma de lidar com os dados que ficaram de quem morreu.

No caso de Marília Mendonça, suas contas nas redes sociais não eram geridas apenas por ela mesma, mas também por profissionais de confiança dela, pessoas que têm acesso a informações de login e podem tomar decisões sobre os perfis da cantora em seu nome.

Para quem não compartilha a senha com mais ninguém, há outros caminhos para lidar com os perfis que ficarão depois da morte.

Facebook e Instagram

Sendo da mesma empresa, a Meta, as duas redes sociais aplicam a mesma política em caso de morte de um usuário. O perfil pode ser transformado em um memorial e a empresa evita que publicações apareçam no feed dos seguidores.

Uma conta transformada em memorial recebe um selo "Em memória de" ao lado do nome no perfil. As postagens permanecem com as mesmas configurações de privacidade do perfil em vida, ou seja, o que foi postado como público, continua visível, e o que foi postado como privado para amigos, aparece apenas para estes.

É possível reportar a morte de uma pessoa por meio de um formulário, tanto no Facebook quanto no Instagram, e solicitar a transformação do perfil em memorial ou a exclusão da conta. É preciso, no entanto, comprovar a morte do dono do perfil por meio de documentos, o solicitante deve comprovar alguma ligação de parentesco com a pessoa que morreu.

Em vida, qualquer pessoa pode adicionar um "contato herdeiro" para a conta do Facebook na aba de configurações. Em caso de falecimento, este contato pode decidir se quer transformar o perfil em memorial ou excluir a conta permanentemente. O contato herdeiro não tem acesso total à conta, não recebe as informações de login do usuário nem acesso às mensagens, apenas decide o que deve acontecer com o perfil do falecido.

É preciso ter mais de 18 anos para selecionar um contato herdeiro para sua conta no Facebook.

Twitter

Em caso de morte de um usuário, o Twitter pode trabalhar com uma pessoa autorizada a agir em nome do Estado (sim, o governo) ou com um familiar imediato confirmado para desativar uma conta. Solicitações podem ser feitas por um formulário.

Depois de receber a solicitação, o Twitter enviará um e-mail com instruções e pedindo mais detalhes, incluindo dados sobre a pessoa falecida, uma cópia de sua identidade e uma cópia da certidão de óbito, para evitar denúncias falsas ou não autorizadas.

A empresa afirma não fornecer informações de acesso à conta a ninguém, independentemente do grau de relacionamento com o falecido.

O Twitter removerá as imagens de pessoas falecidas em determinadas circunstâncias, em "respeito" ao desejo dos entes próximos. Familiares imediatos e outras pessoas autorizadas podem solicitar a remoção de imagens ou vídeos de pessoas falecidas, desde a ocasião em que ocorre uma lesão grave até os momentos antes ou depois do falecimento, enviando uma solicitação com o formulário de privacidade do Twitter.

Contas inativas poderão ser permanentemente removidas por motivo de inatividade prolongada. Para manter uma conta ativa, o usuário deve se certificar de entrar e tuitar a cada seis meses.

Google

Assim como o Facebook, o Google permite cadastrar usuários de confiança para fazer download dos dados da conta. Também é possível configurar um período de espera para considerar uma conta como inativa, que varia de 3 a 12 meses. Um mês antes deste período terminar, a empresa tenta entrar em contato com o dono da conta por outros meios, como um email alternativo ou telefone.

Caso não consiga falar com o responsável pela conta, começa entrar em contato com os herdeiros. Você pode cadastrar até 10 contatos de emergência para serem notificados sobre a sua conta inativa. A empresa avisa que foi instruída a entrar em contato pelo próprio usuário depois de um período sem usar a conta. Caso a pessoa opte por compartilhar os dados, o contato de emergência pode fazer o download do que foi autorizado ser compartilhado.

Qualquer pessoa pode decidir também se a conta deve ser excluída após tanto tempo de inatividade. Mas, se o falecido não tiver tomado nenhuma providência em vida sobre a conta do Google, os familiares e/ou representantes podem solicitar receber os dados de quem morreu respondendo um formulário, que inclui, além de dados básicos, a digitalização de informações como documento de identidade e certificado de óbito.

Apple

Para o iCloud, serviço de armazenamento de dados em nuvem da Apple, os termos dizem assim: "a menos que exigido por lei, você concorda que a sua conta não é passível de transferência e que quaisquer direitos ao seu ID Apple ou conteúdo dentro da sua conta terminam com a sua morte. Após o recebimento de cópia de uma certidão de óbito, a sua conta poderá ser encerrada e todo o conteúdo dentro da mesma será apagado".

Em 2012, rolou um boato de que o ator Bruce Willis processaria a Apple para conseguir o direito de deixar sua coleção de músicas digitais para as filhas quando morrer. No entanto, a história foi desmentida por sua mulher no Twitter.

Nos termos adotados pelos serviços da Apple, incluindo compras de apps e de conteúdo na loja virtual iTunes, está escrito que "você concorda em não modificar, alugar, locar, emprestar, vender, ou distribuir os serviços ou conteúdo de qualquer forma, e não explorará os serviços de qualquer forma não expressamente autorizada".

Em resumo, tudo que você comprou na Apple é só seu e apenas seu, não podendo ser transferível após sua morte.

WhatsApp

Neste caso é diferente, pois trata-se de um aplicativo de mensagens privadas protegidas por criptografia.

Como o WhatsApp diz não armazenar nenhum conteúdo compartilhado dos usuários —sejam mensagens, áudios, fotos ou vídeos — a família só consegue recuperar esse conteúdo se tiver o número do celular e a senha (ou se a conta não estiver protegida por senha).

A melhor maneira de desativar uma conta é entrar no aparelho do usuário e clicar em "Apagar Minha Conta", nas configurações. A empresa também diz que contas inativas há muito tempo são desativadas pelo aplicativo depois de alguns meses (a empresa não especificou quantos).

*Com matéria de Márcio Padrão