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Governo quer gastar R$ 645 mil em dois drones; por que eles são tão caros?

Drone da marca Matrice - Reprodução
Drone da marca Matrice Imagem: Reprodução

Abinoan Santiago

Colaboração para Tilt, em Florianópolis

21/10/2021 15h54

O GSI (Gabinete de Segurança Institucional) anunciou licitação para a compra de dois drones que serão usados na segurança do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A previsão de gasto no orçamento é de até R$ 322.945 em cada um dos dispositivos, totalizando R$ 645.890 aos cofres públicos. Mas por que eles são tão caros?

Especialistas ouvidos por Tilt explicaram que os valores dependem da intenção do uso, mas drones usados para segurança pública costumam ter preços bem elevados.

Como é drone que o Governo Federal deseja

Os drones a serem comprados são descritos como "aeronaves não tripuladas e remotamente pilotadas, tipo MULTI-ROTOR, com capacidade de decolagem na vertical e acessórios".

O GSI pede que os equipamentos tenham, ao todo, 38 especificações e acessórios, veja abaixo as exigências previstas no edital de licitação:

  • Autonomia mínima de 40 minutos em condições climáticas típicas do clima de Brasília, com vento de no máximo de 15 km/h;
  • Peso de até 7,5 kg pronto para voar, sem carga adicional;
  • Alcançar a altitude de 3 mil metros acima do nível do solo;
  • Três tipos de câmeras (ampla, com zoom e termográfica), sensor telemétrico e seis baterias.

O equipamento descrito é compatível com o modelo vendido pela marca Matrice, que custa até R$ 75 mil, diz o presidente da empresa TJ Drones, Telmo Jardim, que realiza cursos para quem deseja pilotar drones.

Segundo ele, que é instrutor para forças de segurança do Rio de Janeiro, são os acessórios pedidos que encarecem o drone. "Essa aeronave [do edital] completa sai por mais de R$ 200 mil", calcula.

Jardim cita a bateria e a qualidade das câmeras como os principais acessórios que encarecem qualquer drone, seja para uso profissional ou para hobby. Para o drone da presidência, estão previstas seis baterias com autonomia de 40 minutos de voo —maior tempo existente hoje no mercado. Cada uma dessas pode custar até R$ 10 mil.

As câmeras também possuem tecnologia de ponta: visão noturna, câmera térmica, voo automatizado, resistência à chuva e potência de motores.

Segundo o piloto Fernando Nunes, que usa drone para fazer imagens do meio ambiente, em Florianópolis, há câmeras com sensores térmicos de até R$ 65 mil. "O tempo de voo e a qualidade das imagens são o que mais afeta no preço final", ressalta.

"São dezenas de outros componentes e sistemas que nem se comparam aos drones mais populares. Drones para a área de segurança precisam ter mais tecnologia embarcada e ser muito mais resistentes. No Canadá, por exemplo, as polícias usam drones de até 150 mil dólares [R$ 845 mil]", diz Lincoln Kadota, presidente da ABM (Associação Brasileira de Multirrotores).

Esses tipos de equipamento costumam ser usados para vigilância de áreas ou inspeções, como as agropecuárias.

"Para essa categoria, o preço está condizente com o que é oferecido no mercado", afirma o especialista, que ressaltou ainda que a alta do dólar pesa bastante para o preço final do equipamento, já que os componentes são importados.