Topo

De ring light a acetona: conheça o motorista de Uber que oferece mimos

Paulo Sousa (foto) começou a trabalhar como motorista de Uber em 2017 - Arquivo pessoal
Paulo Sousa (foto) começou a trabalhar como motorista de Uber em 2017 Imagem: Arquivo pessoal

Priscila Carvalho

Colaboração para Tilt, no Rio de Janeiro

13/10/2021 04h00

Desde sua entrada na Uber, em 2017, o motorista Paulo Victor Araújo de Sousa, 36, viu que poderia ser diferente de outros motoristas do aplicativo. Com nota máxima na plataforma, o carioca já tem mais quase seis mil corridas para conta e no começo do ano passado resolveu ir além e inovar.

Por causa da baixa procura de passageiros devido à pandemia de covid-19, ele decidiu dar uma "recauchutada" em seu veículo e oferecer itens diferenciados para quem entrasse no automóvel. Muito além do álcool em gel, o motorista teve um insight, junto com sua esposa, e colocou ring lights, acetona, base de unha, lixa, balas, máscaras descartáveis e outros itens que fazem parte da lista infinita de comodidades.

"A questão era ser um diferencial, já que ninguém teve essa ideia. Era para chamar atenção", conta a Tilt.

Na época, sua esposa começou a pensar que os itens no carro deveriam ser voltados às mulheres, já que muitas se maquiam no carro, retocam o batom e têm outros cuidados de beleza. Além desses itens, Paulo também oferece sinal de wi-fi e carregadores para pessoas não ficarem sem bateria durante a viagem.

A ideia deu tão certo que uma passageira, ao fazer uma viagem com Paulo, postou vídeos mostrando o interior do carro e a postagem viralizou no TikTok. Hoje, a publicação já tem mais de 11 milhões de visualizações. "Ela disse que ia ajudar a alavancar, filmou e postou. O vídeo deu uma viralizada, mas ela não me marcou", conta rindo.

Serviço exemplar

Ao falar dos mimos oferecidos aos clientes, o motorista se orgulha e diz que não é todo mundo que disponibiliza esse agrado ao passageiro. Infelizmente, segundo ele, muitos motoristas de app não são "motoristas e não profissionais".

Quando ele e sua esposa tiveram a ideia de acrescentar coisas no interior do veículo, Paulo teve um gasto de quase mil reais. O carioca conta que precisou acreditar que iria dar certo. E deu. "Não dá para ser rico, mas dá dá para manter um bom padrão de vida. Hoje, com um emprego de carteira assinada, não conseguiria ter esse custo", ressalta.

Comentários positivos para o motorista de Uber Paulo Souza - Reprodução - Reprodução
Comentários sobre o motorista deixados no app de transporte
Imagem: Reprodução

Para Paulo, o horário escolhido para trabalhar (das quatro da manhã às duas da tarde) também ajuda a ser reconhecido pelos clientes. Nesse período, a maioria das corridas são de pessoas que estão indo para o trabalho, indo em direção ao aeroporto e sempre transitando pelas áreas nobres dos bairros do Rio de Janeiro.

Além dos bônus oferecidos a todos que embarcam nas corridas, ele brinca que sempre está com um sorriso e simpatia, mesmo dirigindo muitas horas por dia.

Cosméticos já "salvaram" passageiras

Há quase um ano e meio trabalhando com esses produtos de beleza, Paulo conta que já se deparou com muitas histórias engraçadas e com finais felizes. Uma vez estava levando uma passageira, que seguia para uma entrevista de emprego, e tinha esquecido de fazer a unha.

Ele diz que ela acordou atrasada e pôde arrumá-las dentro do veículo graças aos produtos oferecidos pelo motorista. Na hora, o motorista relembra que a moça disse "que tudo que ela precisava estava no carro". Ela pegou o cartão com o número comercial dele e depois de algum tempo agradeceu, informando que havia sido contratada para a vaga de trabalho.

O motorista não imaginava que teria um feedback tão positivo e com uma boa repercussão depois dessas mudanças implementadas. E isso é sentido diariamente nos comentários dados a ele na plataforma. "O comentário geral é sempre de bem educado", conta.

Do Uber para YouTube

É raro alguém entrar no carro do motorista e não se encantar com a vasta oferta de produtos dadas por ele. Devido ao grande sucesso, muitos começaram sugerir que ele deveria divulgar ainda mais o seu trabalho e criar conteúdo para internet.

No primeiro momento, ele não ligou muito para a ideia, mas depois se rendeu aos pedidos. "Muitos falavam que eu tinha um trabalho legal, mas eu não tenho paciência", diz.

Por enquanto, ele está experimentando o que a rede pode oferecer e afirma que não tem muita pretensão de seguir com a carreira de criador de conteúdo. "Ainda estou meio discreto."

Sonho é lecionar

Seguindo uma jornada dupla diariamente, Paulo conta que não pretende ficar a vida toda como motorista de aplicativo.

Atualmente, ele trancou o curso Letras na faculdade, mas deseja lecionar no futuro. Por causa da pandemia e das aulas online, ele não quis continuar com a graduação, mas deseja retornar em breve." Os aplicativos hoje funcionam como um estágio e ter contato com as pessoas me auxilia muito", conta.

Filhos de pais analfabetos, ele conta que seu maior sonho é poder ensinar pessoas a ler e escrever. Ainda faltam dois períodos para encerrar a graduação, mas Paulo espera, ansiosamente, para se formar. "Vai ser uma grande vitória."