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Por que esta imagem é considerada a mais importante do Universo

Imagem do Campo Profundo de Hubble é considerada a mais importante da Astronomia - R. Williams (STScI)/The Hubble
Imagem do Campo Profundo de Hubble é considerada a mais importante da Astronomia Imagem: R. Williams (STScI)/The Hubble

Abinoan Santiago

Colaboração para Tilt, em Florianópolis

07/10/2021 04h00

Lançado em 1990, o Telescópio Espacial Hubble, da Nasa, conseguiu a façanha de capturar uma imagem considerada a mais importante da história da Astronomia: a foto de um "vazio" de uma área do Universo. A afirmação de que o registro é o mais relevante do campo é do físico norte-americano Ethan Siegel. Mas será mesmo?

Para pesquisadores brasileiros, sim. A imagem em questão foi registrada em dezembro de 1995. Ela quebrou um paradigma no campo da Astronomia, pois revelou a existência de galáxias até então não descobertas a olho nu ou por qualquer outro telescópio já criado por cientistas.

A captura se tornou um grande salto científico porque mostrou de maneira visível e de forma detalhada que nem sempre um "nada" no universo registrado por um telescópio, por câmeras fotográficas ou até mesmo em um simples olhar para o céu, pode ser considerado um mero espaço vazio.

Os bastidores da foto

Depois de lançar o Hubble no espaço, em 1990, e atualizá-lo anos depois, pesquisadores da Nasa observaram uma pequena área "vazia" em formato de "L" no céu do hemisfério Norte por onze dias.

Depois de estudarem as imagens, os cientistas se surpreenderam ao descobrirem nada menos que três mil galáxias no mesmo perímetro onde não se conseguia enxergar qualquer corpo espacial.

Hubble foi lançado em 1990 - Divulgação/Nasa - Divulgação/Nasa
Hubble foi lançado em 1990
Imagem: Divulgação/Nasa

"Se tirássemos uma foto com uma exposição clássica de alguns minutos, como se faz com telescópio, não se via nada. O Hubble passou por uma atualização e foi observada por dez dias essa região do céu. Quando se fez a análise, o que se viu foi uma região com simplesmente três mil galáxias", explica o professor Rafael Riffel, do departamento de astronomia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

"Isso mostrou que o Universo era muito mais vasto do que poderíamos imaginar", acrescenta.

O registro da imagem icônica é do astrônomo Robert Willians, então diretor do projeto espacial que gerenciava o telescópio.

Para se ter noção de quão vasto pode ser o Universo a partir da foto, a câmera do telescópio se concentrou em um perímetro equivalente ao tamanho de uma moeda, área chamada de "Campo Profundo de Hubble", na constelação Ursa Maior.

Embora os pesquisadores pudessem simplesmente não encontrar nenhum corpo no espaço na região analisada, a aposta de continuar explorando o local tornou possível a observação de objetos antes considerados inimagináveis de serem verificados pela Astronomia, reforçando a ideia de que somos apenas um pontinho na imensidão do Universo.

"Até então, o campo não tinha grandes levantamentos e essas imagens revelaram que o Universo é muito mais vasto do que se apresenta em primeira instância de observação. Onde parece não ter nada, na verdade, tem muitos objetos", ressalta Riffer.

Galáxias evoluem

Além do ineditismo do registro pela proximidade das novas galáxias que o telescópio alcançou, a imagem revelou como um sistema galáctico evolui, segundo o professor Domingos Soares, do departamento de física da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

A existência de galáxias em espaços "vazios" foi ratificada no chamado "Campo Ultra Profundo de Hubble", que entre 2003 e 2004, capturou dez mil galáxias em outra área, na constelação Fornalha.

"Isso é uma prova de que existem muitas galáxias no Universo. Além disso, acrescentou dados para entender melhor como elas evoluem. Quanto mais longe está a galáxia [na foto], mais ela é antiga", explica.

Galáxias irregulares são verificadas por Hubble - R. Williams (STScI)/The Hubble - R. Williams (STScI)/The Hubble
Galáxias irregulares são verificadas por Hubble
Imagem: R. Williams (STScI)/The Hubble

"Quando é observado da Terra, não tem nada, mas quando Hubble entra em ação, aparecem milhares de galáxias. Então, realmente foi uma observação muito importante. Para mim, é uma das mais incríveis da área", afirma Soares sobre a relevância da imagem.

"Agora, o telescópio fez tanta coisa sensacional, cada pesquisador poderá falar algo", acrescenta.

Para o físico Marcos Danhoni Neves, da UEM (Universidade Estadual de Maringá), a principal contribuição foi poder abrir caminhos para analisar a evolução galáctica, porque mostrou galáxias jovens, sugerindo o processo evolutivo do sistema.

O pesquisador acredita que o registro é até mesmo mais relevante do que outras imagens já reveladas por cientistas ao longo do tempo, como a do buraco negro, de 2019, pois, ao sugerir a evolução das galáxias, mostra a relação com a famosa teoria do Big Bang.

"A foto é o princípio de um ícone que vai nos surpreender ainda mais no futuro pelo telescópio James Webb", afirmou, em referência ao satélite previsto para ser lançado em dezembro de 2021 e que pretende ser mais potente que o Hubble.