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'Supertênis': como a ciência ajudou atletas a conquistarem pódio olímpico

Queniano Eliud Kipchoge, durante maratona masculina das Olimpíadas de Tóquio - REUTERS/Kim Hong-Ji
Queniano Eliud Kipchoge, durante maratona masculina das Olimpíadas de Tóquio Imagem: REUTERS/Kim Hong-Ji

Letícia Naísa

De Tilt, em São Paulo

14/08/2021 17h08Atualizada em 18/08/2021 19h35

As Olimpíadas de Tóquio 2020 foram as mais tecnológicas das últimas edições. Com câmeras, pistolas eletrônicas, touchpads nas piscinas e várias outras engenhocas, o Japão se mostrou vanguardista na adoção de tecnologia. Mas uma delas pode ter dado um empurrãozinho para o caminho até o pódio: os tênis.

O modelo Vaporfly, da Nike, conquistou 64% dos pódios que disputou no atletismo. De 33 atletas usando o "supertênis", 21 levaram medalhas para casa.

O Vaporfly teve a sua estreia nas Olimpíadas do Rio em 2016 e já mostrou ser uma grande promessa, os três medalhistas homens usaram o modelo que ainda era um protótipo. Em 2019, o maratonista queniano Eliud Kipchoge, agora bicampeão olímpico, estabeleceu o recorde da maratona, concluindo o percurso em 1h 59min 40s, em Viena (Áustria). Ele se tornou o primeiro a correr uma maratona em menos de 2h, apesar do recorde não ser considerado oficial. Em seus pés, o AlphaFly, uma versão ainda mais sofisticada do Vaporfly.

O lançamento oficial do modelo da Nike aconteceu em 2017, quando o tênis recebeu duas versões com os nomes de "Nike Vaporfly 4%" e "ZoomX Vaporfly Next%". Estudos da marca e pesquisas independentes da Universidade do Colorado apontaram que atletas usando o modelo da Nike correm com eficiência 4% maior do que usando um tênis comum e 2 a 3% maior do que usando um similar da concorrência.

Qual o segredo?

O trunfo do "supertênis" está na sola, que é composta por duas camadas: uma de espuma feita de amida em bloco de poliéter (comercialmente conhecida como Pebax), um material extremamente leve e resistente, e uma feita com uma placa de fibra de carbono. O design do Vaporfly minimiza a perda de energia do corredor.

Normalmente, os tênis de corrida são feitos de uma forma que possam proteger as pernas do atleta e são feitos para impulsionar o corredor para frente. As entressolas dos tênis atuam como molas, comprimindo com o pouso e estocando energia do impulso e devolvendo-a ao corredor quando ele levanta os pés.

Nos modelos comuns, boa parte dessa energia se dissipa em forma de calor. A vantagem do Vaporfly é que ele dissipa menos menos calor, ou seja, tem menos perda energética e oferece melhor rendimento ao atleta.

Doping tecnológico

O uso do "supertênis" nas provas de atletismo tem sido questionado por atletas patrocinados por outras marcas. A World Athletics (associação internacional de atletismo) não apontou irregularidades nos modelos Vaporfly.

Atualmente, as regras dizem que os tênis de corrida não podem oferecer vantagem ou assistência injusta e precisam ser "razoavelmente acessíveis" a todos os competidores. Mas a associação não deixa muito claras as especificações dessas regras.

A situação é muito parecida com o que aconteceu nas Olimpíadas de Pequim em 2008. Na época, nadadores bateram recordes usando um traje tecnológico da Speedo. Para tornar a competição justa, ou o nadador precisava ter um traje desses ou não poderia participar. Em 2009, os trajes foram banidos das competições.

Entre os atletas, as opiniões divergem. Usain Bolt é contra. Já Geoffrey Kamworor, vecedor da Maratona de Nova York, é a favor. "Se você estiver preparado e tiver treinado bastante, você pode correr com qualquer sapato", defende.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que dizia uma versão anterior deste texto, no 4º parágrafo, os tênis da Nike não fazem atletas correrem 4% mais rápido, mas sim com 4% mais eficiência energética. O erro foi corrigido.