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Caso Clarinha: como a tecnologia ajuda a achar a identidade de uma pessoa

Letícia Naísa

De Tilt, em São Paulo

06/08/2021 10h00Atualizada em 06/08/2021 18h59

A união da análise prosopográfica com análise genética pode trazer uma reviravolta no caso Clarinha, uma mulher de cerca de 40 anos que está há 20 anos internada em estado vegetativo no Hospital Militar de Vitória (ES).

A prosopográfica é uma espécie de tecnologia de reconhecimento facial que compara informações do rosto com dados de pessoas desaparecidas. A técnica apontou a possibilidade de a mulher internada ser Cecília, uma criança mineira desaparecida no Espírito Santo — um dos mais antigos investigados pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) —, mas um exame comparativo de DNA descartou a hipótese.

"Juntamente com uma empresa especializada em reconhecimento facial do Paraná, a equipe observou que haveria compatibilidade com Cecília S. J. Farias, uma criança desaparecida em fevereiro de 1976, na cidade de Guarapari [ES], quando tinha 1 ano e 9 meses", escreveu o MPES (Ministério Público do Espírito Santo), que busca a identidade da mulher internada, em nota enviada a Tilt.

A análise começou em agosto de 2019 e foi concluída em abril de 2021. Primeiro, especialistas do Laboratório de Arte da Polícia Civil de SP fizeram uma reconstituição do rosto de Clarinha a partir de fotos dela com os olhos fechados no hospital.

As imagens foram usadas na investigação e levaram ao caso da menina Cecília. Diante da suspeita, os peritos enviaram então um pedido para a Delegacia de Desaparecidos de Belo Horizonte (MG) para que fosse realizada uma comparação do perfil genético de Clarinha com o perfil genético dos pais de Cecília.

A análise foi feita pela primeira vez em 2015. Na época, os resultados apontaram incompatibilidade entre as amostras genéticas de Clarinha e dos pais de Clarice. Com o avanço das técnicas de perfil genético, um novo teste foi realizado. "Os perfis do casal de Minas Gerais e da paciente foram novamente comparados e o resultado previamente apresentado pela Rede Integrada de Perfis Genéticos foi confirmado (exclusão de maternidade e paternidade)", informa a PCMG em nota enviada a Tilt.

Nos últimos anos, o DNA de Clarinha foi comparado ao de pelo menos oito famílias que buscam familiares desaparecidos, mas nenhum apresentou compatibilidade.

O uso de dados de DNA para identificar pessoas desaparecidas ainda é incipiente no Brasil. A técnica consiste em buscar marcadores genéticos semelhantes entre possíveis parentes.

Em junho deste ano, o Governo Federal fez uma campanha para coletar material biológico de familiares de pessoas desaparecidas para que possam ajudar a encontrar respostas a quem espera. Além do DNA de parentes, o Ministério da Justiça aceitou material genético também dos próprio desaparecidos, que podem ser encontrados em itens de uso pessoal, como escovas de dentes ou escova de cabelos.

O DNAs coletados são cadastrados em um Banco Nacional de Perfis Genéticos. Neste banco, as amostras são comparadas com outras já registradas de pessoas mortas não identificada ou pessoas de identidades desconhecidas.

Atropelamento

Clarinha se tornou Clarinha após sofrer um acidente em junho de 2000 no centro de Vitória. Ela foi atropelada por um ônibus e socorrida por uma ambulância, que a levou ao Hospital São Lucas. Um ano depois, ela foi transferida para o Hospital da Polícia Militar, onde está até hoje. Clarinha foi resgatada sem documentos e tinha suas digitais desgastadas. Ela recebeu o nome da equipe médica local.

Em todos esses anos, nenhum parente ou amigo de Clarinha apareceu em busca de notícias. O Hospital foi quem acionou o MPES para pedir apoio na identificação da paciente. Diversas tentativas foram feitas para identificar Clarinha e encontrar seus parentes.

Em 2016, uma reportagem do "Fantástico", da Rede Globo, fez com que 102 pessoas procurassem o MPES na tentativa de identificá-la. Depois de uma triagem, 18 pessoas foram apontadas como possíveis familiares da mulher, mas os exames de DNA se mostraram incompatíveis.

Desaparecimento

A menina Cecília de 1 ano e 9 meses desapareceu em fevereiro de 1976. A família de Belo Horizonte passava férias em Guarapari e estava hospedada em um chalé dentro de um condomínio fechado. Cecília desapareceu um dia após a chegada da família à cidade.

O casal tinha quatro filhos, Cecília era a caçula. Ela sumiu enquanto brincava de bola com um dos irmãos.

A mãe de Cecília morreu em maio de 2021 sem nunca mais ter notícias da filha desaparecida. O pai está com Alzheimer. Os irmãos ainda aguardam os resultados do exame de compatibilidade de DNA com Clarinha.