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Proibir uniformes verdes no futebol faz sentido? Segundo a ciência, sim

Clube italiano Lazio usou um uniforme verde na última temporada; a partir do ano que vem, será proibido Imagem: Alessandro Sabattini/Getty Images

Lucas Carvalho

De Tilt, em São Paulo

29/07/2021 04h00Atualizada em 02/08/2021 13h13

A notícia de que o campeonato italiano de futebol proibiu uniformes verdes a partir da temporada 2022/2023 pegou os fãs do esporte de surpresa. A justificativa é de que roupas da mesma cor do gramado podem dificultar a visão do árbitro e do público, além de atrapalhar as transmissões televisivas. Mas será que isso faz algum sentido?

De acordo com a ciência, sim. A cor verde é uma das mais "enganosas" para o olho humano e é a mais fácil de causar confusões. Para entender o que acontece, primeiro precisamos entender como nós enxergamos as cores do universo.

As cores que vemos pela TV e no mundo real são, na verdade, frequências diferentes de uma mesma radiação eletromagnética. Todas as cores que o olho humano consegue enxergar compõem, juntas, uma pequena fatia desse espectro, que é o chamado "espectro visível".

Esse espectro é composto por sete cores principais (ou seis, se você for do time que acha que ciano é um tom de azul, e não uma cor), do vermelho até o violeta, incluindo seus diversos tons. A radiação com frequência mais alta que o violeta é chamada de "ultra-violeta", e é invisível aos olhos. Frequências mais baixas que a do vermelho são chamadas de "infravermelho", e também são invisíveis.

Cada cor na parte visível do espectro ocupa uma pequena faixa desse campo eletromagnético. A cor vermelha, por exemplo, só é visível quando a luz que chega aos nossos olhos viaja numa onda de 620 a 750 nanômetros de comprimento. É como se o campo de cores visíveis fosse uma rodovia, e cada cor viaja na sua própria faixa.

Diagrama do espectro visível da luz Imagem: Wikimedia Commons

As faixas das pontas (violeta, de um lado, e vermelho, do outro) são as mais largas, enquanto as do meio vão ficando mais finas. O verde está bem no meio desse espectro, e por isso ocupa uma faixa mais curta.

"O espectro dele é menor, por isso o verde tem uma menor quantidade de tonalidades", explica Reinaldo Borges, professor nos cursos de engenharia da Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista). A escassez de tonalidades faz com que seja mais difícil para o olho humano enxergar a diferença entre um verde escuro e um verde claro, por exemplo.

O problema não é tão sentido por quem assiste ao futebol pela TV e pode configurar manualmente os níveis de contraste e nitidez das telas. Porém, para quem vê no estádio e até dentro de campo, pode fazer a diferença na hora de identificar um lance delicado como um impedimento ou um pênalti.

"Isso era um problema maior antigamente, quando tínhamos televisores com capacidade de transmissão de menor qualidade visual. Hoje em dia a transmissão pode ser em HD, 4K. Ainda assim, pode acontecer alguma interferência", diz Carlos Debiasi, professor do curso de Cinema e Audiovisual da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

Outro impeditivo para a cor verde tem a ver com publicidade digital. O verde é usado numa técnica chamada chroma-key, em que toda a área verde de uma imagem pode ser substituída digitalmente por outra imagem, permitindo criar fundos falsos ou outras firulas de edição de imagem.

Aquelas placas publicitárias que ficam na beirada do gramado ou atrás de um atleta quando ele dá entrevista em jogos da Europa podem usar essa técnica para exibir patrocinadores diferentes de acordo com o país e emissora que transmite a partida, por exemplo.

"Se tem o verde do cara lá [na frente da placa publicitária vestido com a roupa verde], de repente a publicidade pode se sobrepor à imagem do jogador e ele desaparece", explica Vivaldo José Breternitz, professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.

Existe o risco de essa moda se espalhar pelo mundo e times tradicionais brasileiros serem proibidos de usar verde? Pouco provável.

Na Itália, apenas um time da primeira divisão vai ter que se adaptar e o verde nem é a principal cor do seu escudo. "Mas do ponto de vista da física, é uma boa decisão", comenta Borges.

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