Topo

Wally Funk, com 82 anos, se torna a pessoa mais velha a ir ao espaço

Renata Baptista

De Tilt, em São Paulo*

20/07/2021 13h47Atualizada em 20/07/2021 15h29

Foi uma espera longa (cerca de 60 anos), mas a aviadora Wally Funk conseguiu, finalmente, realizar o sonho de ir ao espaço. A viagem aconteceu nesta terça-feira (20) em companhia de Jeff Bezos, fundador da Amazon. Aos 82 anos, ela se tornou a pessoa com mais idade a realizar o feito.

Seu entusiasmo era contagiante, e ela demonstrou uma energia inesgotável durante os treinamentos e o primeiro voo tripulado da Blue Origin, empresa de Bezos.

Além dela e do bilionário, participaram da viagem ao espaço Mark Bezos (irmão mais novo) e o jovem Oliver Daemen, de 18 anos — primeiro cliente pagante da Blue Origin, e que se tornou também a pessoa mais nova a ir ao espaço.

Na coletiva após o lançamento, Wally, ao receber seu pin de astronauta, foi muito aplaudida e disparou: "Há mais por vir!". "Nós nos divertimos muito. Quero voltar lá — e logo", afirmou.

"A sua próxima parada é a Lua, Wally", disse Bezos. E ela prontamente respondeu: "Sim, senhor!".

A conquista de Wally marca os avanços em direção a um futuro em que viajar para o espaço será possível para qualquer pessoa, independentemente da idade.

Pioneirismo

Em seu histórico pessoal e profissional, Mary Wallace "Wally" Funk precisou ser persistente. Ela teve sua primeira aula de voo aos 9 anos de idade. Ainda que na escola tenha sido proibida de estudar mecânica — que era uma disciplina reservada aos meninos —, ela obteve uma licença de piloto e se formou na Universidade Estadual de Oklahoma, conhecida por seu programa de aviação.

Wally se tornou a primeira mulher investigadora de segurança aérea para o Conselho Nacional de Segurança de Transporte dos Estados Unidos (NTSB, na sigla em inglês) e a primeira a ser inspetora da Administração Federal de Aviação (FAA) no país. Foram mais de 19,6 mil horas de voo acumulados e mais de 3 mil pessoas que ela ensinou a voar.

Mercury 13

No início dos anos 1960, quando os Estados Unidos se preparavam para enviar o primeiro americano ao espaço, a Nasa selecionou apenas homens para testes como parte do programa Mercury.

Um médico envolvido no desenvolvimento desses testes, William Randolph Lovelace, decidiu realizá-los com mulheres em sua clínica particular, para ver se elas também eram capazes de passar. Treze foram escolhidas, dando ao programa o apelido de "Mercury 13". Wally Funk era a mais jovem entre elas.

Segundo seu depoimento, elas eram testadas ao extremo. Chegaram a injetar água em seus ouvidos para deixá-la tonta. Apesar da dor, o objetivo de chegar ao espaço lhe dava forças, disse.

Em outro teste, ela foi trancada em um tanque à prova de som, cheio de água na temperatura exata de seu corpo, para que ela não sentisse nada, no escuro. Ela ficou de costas, flutuando na água, e quebrou o recorde, ao permanecer por 10 horas e 35 minutos. Na ocasião, disseram a ela que ela tinha feito o trabalho "melhor e mais rapidamente do que qualquer um dos homens".

No entanto, o programa foi descartado depois de ser rejeitado pela Nasa, e apenas em 1983 a primeira mulher americana, Sally Ride, foi ao espaço — o que segundo Wally, a deixou "muito orgulhosa".

Mas o sonho de Wally persistia. Ela se inscreveu para se tornar astronauta pela Nasa quatro vezes — e foi rejeitada em todas elas por não ser formada em engenharia e não ter concluído o programa de voo em um caça militar, o que era impossível para uma mulher naquela época.

No final dos anos 1990, ela anunciou sua intenção de se tornar a primeira turista espacial dos Estados Unidos. A viagem planejada para 2005 não aconteceu. Em 2010, ela pagou US$ 200 mil por uma passagem para o programa Virgin Galactic do bilionário britânico Richard Branson, que realizou seu primeiro voo de passageiros neste mês. Mas foi apenas agora que ela conseguiu viajar, como "convidada de honra" de Bezos.

Por cerca de três minutos, ela e seus três companheiros de voo - Jeff Bezos, Mark Bezos e Oliver Daemen - ficaram no espaço. Na beira dele, na verdade, uma vez que segundo a transmissão da Blue Origin o foguete chegou a 107 km de altitude, passando então a Linha de Kárman — uma convenção que fica a 100 km acima do nível do mar, e que seria o limite entre a atmosfera e o espaço. A viagem, no total, durou cerca de dez minutos.

"Tudo é escuro daqui"

Das janelas que ocupavam, os tripulantes da cápsula puderam admirar a curvatura do Planeta Azul e a intensa cor preta do universo. "Tudo é escuro daqui", disse Funk, de acordo com o áudio da cápsula.

Após alguns minutos sem gravidade, a cápsula desceu em queda livre antes de lançar três paraquedas gigantes e um retropropulsor para pousar suavemente no deserto. Os quatro passageiros saíram da cápsula e foram recebidos com aplausos pela equipe da Blue Origin.

*Com informações da BBC e da AFP