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Pijama ou cobertor? O que te esquenta mais no inverno, segundo a ciência

E aí? Sem pijama e com muito cobertor, vale? - EyeEm/Getty Images
E aí? Sem pijama e com muito cobertor, vale? Imagem: EyeEm/Getty Images

Rodrigo Lara

Colaboração para Tilt

25/06/2021 04h00

Você capricha no pijama para dormir quentinho ou prefere investir num cobertor de respeito? Dependendo da escolha, as noites de frio podem ser mais ou menos confortáveis. Não é verdade que tanto o pijama quanto o cobertor (ou uma combinação dos dois) te esquentam da mesma maneira.

Para ficar o mais quente possível, use uma combinação de pijama e cobertor.

Para ter conforto térmico (ou seja, usar uma quantidade normal de roupas sem sentir frio ou calor demais), opte pelo cobertor.

A explicação para isso está na área da física chamada termodinâmica, que estuda as causas e efeitos de eventos como trocas de calor, variações de temperatura e transformação de energia.

A combinação de pijama e cobertor funciona melhor para aquecer, porque coloca mais superfícies intermediárias entre o seu corpo e o ambiente, diminuindo drasticamente a perda de calor.

Mais quente, porém, não quer dizer mais confortável. Quando a temperatura do "sistema" corpo-agasalho-cobertor aumenta muito, é preciso "ligar" o mecanismo de resfriamento do corpo: o suor. Neste caso, há a sensação de desconforto.

Tirar o cobertor após suar, fará você sentir mais frio de novo, porque a água é um excelente condutor térmico.

Pronto, começou um processo de cobre e descobre extremamente irritante.

O que diz a ciência

O corpo humano funciona, basicamente, como uma usina transformadora de energia. Pijama e cobertor funcionam como barreiras que limitam a perda de calor do seu corpo.

"Quando comemos algo, estamos consumindo uma fonte de energia. O nosso corpo a converte em trabalho, que pode ser desde o ato de caminhar até as funções mais básicas do corpo. Uma boa parte dessa energia, que pode chegar a até 70%, acaba sendo desperdiçada na forma de calor", explica Adriano Alencar, professor de Física do Corpo Humano na USP (Universidade de São Paulo).

Há diferentes meios pelos quais o corpo perde calor:

  • Transpiração: o processo de evaporação da água através da pele. Em exercícios intensos, o corpo perde 85% do seu calor pela transpiração;
  • Condução: quando se perde calor por contato com objetos ou substâncias. Em temperaturas do ar abaixo dos 20ºC, o corpo perde cerca de 2% de sua temperatura por meio da condução pelo ar. Outro caso ocorre na água --que, aliás, conduz calor muito melhor do que o ar;
  • Convecção: é a resposta ao movimento natural do ar quente tentando subir e roubando calor do corpo. Normalmente o corpo perde de 10 a 15% de sua temperatura dessa forma;
  • Radiação: é a principal forma, especialmente quando a temperatura do ar está abaixo de 20 ºC. Isso se dá pela emissão de radiação infravermelha, que é responsável por 65% da perda de calor do corpo.

Essa perda de calor não é algo ruim: é fundamental para que o corpo funcione corretamente. A nossa anatomia é "desenhada" para maximizar a eliminação de calor para o ambiente.

"O corpo humano está normalmente acima da temperatura ambiente e isso, por si só, já faz com que ele perca calor todo o tempo. Essa perda de calor também é fundamental para garantir que o corpo se mantenha dentro de um intervalo bem restrito de temperaturas, algo exigido para a manutenção da nossa vida", explica Leandro Russovski Tessler, professor de Física da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Pijamas e cobertores limitam a perda de calor do corpo ao interromper os processos de evaporação, radiação, condução e convecção.

Para isso, utilizam materiais que são maus condutores térmicos, como lã e tecidos sintéticos.

Ao manterem o ar quente próximo do corpo, o processo de convecção também é afetado.

Paralelamente, ter uma superfície intermediária entre você e o ambiente também diminui a eficiência do processo de radiação.

Muitas vezes é mais confortável dormir com poucas camadas de roupa (ou até mesmo sem) e debaixo de um bom cobertor. Assim, você garante que a temperatura do "sistema" fique agradável, sem impedir que o corpo realize a troca natural de calor.

Aquelas mantas forradas com alumínio, usadas em operações de resgate, usam o metal como um condutor térmico e retentor da radiação emitida pelo corpo. Isso funciona bem em situações de frio extremo.

Você pode experimentar em casa: deixe um pedaço de papel alumínio com o lado reflexivo voltado para a sua pele, por alguns minutos, sobre a sua mão. A região deve ficar mais quente do que o resto do corpo.

Choque térmico?

Há muita gente que evita isso com medo de um "choque térmico" na hora que sair das cobertas. Aqui, o risco é só em casos muito extremos.

"O simples ato de pisar no chão gelado ao levantar dificilmente provocará dano ao organismo, salvo quando há exposição de grande área corporal", diz Fábio André Santos Pampolha, médico de família e comunidade do Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim (Cejam).

De acordo com Pampolha, diante de uma variação brusca e extrema de temperatura, o corpo reage alterando o calibre dos vasos sanguíneos. "Isso pode ocasionar desde um leve mal-estar até quadros graves de arritmias cardíacas, alterações pulmonares e metabólicas", explica.

Ainda que isso seja improvável de acontecer na sua casa, uma boa opção —inclusive em termos de conforto— para quem quer aposentar o pijama nas noites frias é manter uma roupa por perto para vestir assim que você sair da cama.