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Quantidade de pessoas faz internet piorar; veja ranking de bairros em SP

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Imagem: iStock

Rosália Vasconcelos

Colaboração para Tilt

19/06/2021 04h00

Os bairros mais pobres da cidade de São Paulo são também os que têm menos estrutura para conexão à internet. É o que prova um levantamento realizado pela Consultoria Teleco neste ano. Os dados mostram que a desigualdade de acesso é maior nas zonas leste e e sul da cidade, onde estão concentradas as famílias de baixa renda.

Menos de 40% dos moradores de distritos como Parque do Carmo e Cidades Tiradentes, por exemplo, ganham mais de um salário mínimo e meio. Estes também estão entre os locais com maior carência de antenas de telefonia móvel, com níveis de conexão abaixo do crítico, de acordo com o estudo, que mapeou a distribuição de infraestrutura para telecomunicações no município.

Distritos com piores conexões de internet:

  • Iguatemi
  • Cidade Tiradentes
  • José Bonifácio
  • Vila Jacuí
  • Jardim Helena
  • Lajeado
  • Brasilândia
  • Parque do Carmo
  • Sapopemba
  • Grajaú

Segundo o levantamento, realizado a pedido da Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações (Abrintel), alguns dos bairros mais pobres chegam a ter menos de 25 infraestruturas para internet móvel instaladas em todo o território. Nos distritos de maior densidade populacional, a conexão é praticamente nula ou "residual", quando a pessoa até conecta mas não consegue navegar.

Acesso à internet acompanha renda

Atualmente, São Paulo possui 7,5 mil estações de telecomunicações das 103 mil instaladas em todo o país. Sendo que a maioria se concentra nos bairros mais ricos da capital paulista, como Vila Mariana e Pinheiros.

São áreas com maior quantidade de antenas, mais infraestrutura por quilometro quadrado e, portanto, com menos pessoas atendidas por uma mesma estrutura. Os distritos melhores atendidos possuem mais de 100 infraestruturas em seus territórios, quatro vezes mais do que as regiões mais pobres.

Distritos com melhores conexões de internet:

  • Barra Funda
  • Pinheiros
  • Itaim Bibi
  • Moema
  • Morumbi
  • Jardim Paulista
  • Campo Belo
  • Brás
  • Santo Amaro

Ainda assim, mesmo nos bairros com melhores conexões, a infraestrutura está longe de ser a ideal. De acordo com o documento, a taxa média de São Paulo é de aproximadamente 1,6 mil habitantes por estação. Para chegar ao nível do que os especialistas consideram interessante, seriam necessárias ao menos 13,2 mil estações, ou seja, praticamente duplicar o número de estações na cidade.

"Além de duplicar, essas estações precisariam estar melhor distribuídas no território para oferecer um serviço de qualidade em todas as localidades, dinamizar a economia digital, ajudar a reduzir a desigualdade social e viabilizar uma cidade conectada", afirma o presidente da Abrintel, Luciano Stutz.

Como o estudo foi realizado

Eduardo Tude, da Consultoria Teleco, explica que o levantamento utilizou dados da Anatel que contabiliza a quantidade de infraestrutura existente em São Paulo, por distrito. Em seguida, foi dividido o número de estações pela área geográfica de cada região. As informações foram cruzadas com informações de população e de renda do último Censo Demográfico, de 2015. O levantamento levou um mês para ser elaborado.

"Quando dividimos a quantidade de habitantes de cada bairro por número de infraestrutura, tivemos a noção de uso. Foi quando chegamos a resultados críticos, com 10 mil pessoas utilizando uma única infraestrutura, como em Iguatemi (o distrito com pior qualidade de conexão, segundo o ranking)", ressalta Stutz.

Para ter uma análise mais próxima da realidade, também foi preciso observar o contexto de cada distrito. A Barra Funda, por exemplo, que é considerado o mais conectado do ranking, tem menos infraestrutura do que Itaim Bibi e Pinheiros. Mas tem uma taxa de conexão boa porque é um bairro mais industrial do que comercial e residencial. Logo, tem uma baixa densidade populacional.

Urbanização desordenada e lei antiga

De maneira geral, as periferias de grandes cidades apresentam problemas de conectividade: são muito populosas e as coberturas de internet móvel não conseguem dar conta da demanda. Mas em São Paulo a situação se agrava porque a legislação municipal que regulamenta a instalação das estações de telecomunicações (Lei 13.756/2004) está defasada.

Com uma urbanização jovem, desordenada e ruas estreitas, as periferias de São Paulo não conseguem se adequar às exigências da lei para a instalação das infraestruturas. "É preciso lembrar que as periferias da capital paulista não estão desassistidas de internet por falta de interesse do setor, pelo fato de serem famílias de baixa renda. Pelo contrário. A Prefeitura tem dois mil pedidos represados para a instalação de infraestruturas primárias (grandes torres e postes) em áreas periféricas de São Paulo", defende Luciano Stutz.

De acordo com a Abrintel, as empresas detentoras de torres no Brasil afiliadas à entidade têm planos de investimentos próximos aos R$ 6 bilhões, apenas para a implantação do 5G no país.

Excluídos digitais

A educação é a área mais impactada pela conexão ineficiente. Mas há uma economia na periferia que está cada vez mais dependente dos recursos digitais e que podem salvar muitas famílias de baixa renda no pós pandemia.

A associação Telcomp, que representa empresas do setor de menor porte, mais atuantes em periferias e pequenos municípios, diz que a falta de uma conexão de qualidade significa negar mínimas oportunidades a uma população que já é carente de serviços essenciais.

"A internet já deveria ser um bem comum, como água", ressalta o presidente da entidade, Luiz Henrique Barbosa.

Se não houver uma melhor distribuição da conectividade e, portanto, das infraestruturas, a tendência é aumentar ainda mais o abismo social dentro de uma mesma cidade, completa Eduardo Tude, da Teleco.

Segundo a Prefeitura de São Paulo, algumas medidas estão sendo tomadas para amenizar a falta de conectividade nas periferias. Uma delas é o programa Wi-Fi Livre SP, que oferece pontos gratuitos de acesso à internet. De acordo com a Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia, hoje existem 1088 pontos e a meta é chegar a 20 mil até 2024, priorizando as regiões periféricas.