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Taxa, "simulador de incesto" e mais: bastidores da treta entre Apple e Epic

"Fortnite" está no centro da disputa judicial entre as empresas - Divulgação
"Fortnite" está no centro da disputa judicial entre as empresas Imagem: Divulgação

Lucas Santana

Colaboração para Tilt

28/05/2021 12h45

A batalha na justiça entre a Apple e a Epic Games, produtora do "Fortnite", um dos games mais populares do planeta, ganhou novos capítulos nesta semana em meio a um pé de guerra que se arrasta desde 2020, quando a maçã decidiu banir o jogo de sua loja de aplicativos App Store.

O julgamento do processo começou no dia 3 de maio. Na segunda-feira (24), a juíza Yvonne González Rogers, do Tribunal Distrital dos Estados Unidos, ouviu os argumentos finais no caso para analisar as bases de sua futura decisão, que deve ocorrer até o final do mês.

Se sair vencedora, a Epic pode mudar para sempre o modelo de negócios de plataformas de games em todo o mundo.

Para entender melhor os detalhes dessa batalha judicial, Tilt preparou uma lista com os principais eventos que levaram a isso e algumas curiosidades dos bastidores disso tudo.

1 - Como tudo começou

A Apple cobra uma taxa sobre transações financeiras de todos os aplicativos disponíveis na App Store. No caso, 30%. Essa política não é uma exclusividade da empresa: Google, Playstation, Microsoft e outras companhias donas de plataformas de jogos cobram taxa semelhante das produtoras que utilizam seu serviço para vender seus games.

O "Fortnite" é um jogo gratuito para download. Contudo, é comum a venda de itens, vidas, roupas e demais acessórios digitais dentro do game, o que garante rendimentos à produtora. Com a taxação da Apple, esse comércio de itens gera um custo maior para Epic Games, que precisa pagar 30% sobre todas as micro transações dentro do game à empresa chefiada pelo presidente-executivo Tim Cook.

2 - Epic pediu solução

Já bastante descontente com a taxa da App Store, em meados de 2020, o diretor-executivo da Epic, Tim Sweeney, pediu publicamente aos executivos da Apple uma solução alternativa que garantisse uma forma de pagamento mais justa para sua empresa e seus consumidores. Mas a insatisfação já vinha de anos anteriores (veja mais a seguir).

3 - Epic avisou que driblaria o sistema

Sem uma resposta oficial, Sweeney escreveu um email para Cook e outros executivos da Apple revelando sua intenção de driblar o sistema de taxação da App Store: uma nova atualização do "Fortnite" permitiria pagamentos diretos para a Epic Games, com preços mais convidativos.

4 - Apple bane o jogo

Depois da atualização, em agosto de 2020, a Apple decidiu banir o jogo da sua plataforma de aplicativos. Somente os usuários que já tinham o app instalado em seus aparelhos foram poupados do bloqueio. O Google, que também cobra a mesma taxa de 30%, decidiu retirar o "Fortnite" de sua plataforma, a Play Store, por conta da mesma atualização.

5 - Epic acusa Apple de monopólio

A Epic, então, iniciou o processo judicial contra a Apple, questionando o banimento do aplicativo, a cobrança dos 30% sobre as transações financeiras e uma possível formação de monopólio por meio da App Store.

6 - Publicidade para cutucar Apple

Em óbvia provocação, a Epic Games também divulgou uma campanha em que coloca os avatares de seu "Fortnite" como personagens do famoso comercial "1984", da Apple, lutando contra um sistema opressor e vigilante que controla a todos. Ao final, exibe a tag #FreeFortnite.

7 - "É esse cara?", disse Cook sobre Sweeney em 2015

Antes de tornar o descontentamento público, Tim Sweeney chegou a enviar um email a Tim Cook em 2015 sugerindo gentilmente que o iOS aceitasse outras lojas de games além da App Store, de acordo com informações do site americano Slate. Na época, a Epic e a Apple tinham uma boa relação. Sweeney até participou de um evento de desenvolvedores da empresa. Cook teria lido o e-mail e perguntado aos seus colegas da Apple: "é esse cara que estava nos nossos ensaios para o evento?".

8 - Epic reclama de jogo não ser 1º nos resultados de buscas

Como Tim Sweeney parece gostar de uma briga por email, a confusão não parou por aí. Em 2018, o executivo da Epic enviou outra mensagem à Apple, desta vez furioso pelo fato do jogo não aparecer nos primeiros resultados de uma busca por "Fortnite" na App Store. Assim como o Google, a loja de apps da Apple exibe aplicativos patrocinados entre os primeiros resultados. Sweeney escreveu que estava muito frustrado por descobrir essa informação.

9 - Fogo cruzado

Outras gigantes da indústria de dispositivos móveis, como Spotify e Tinder, também demonstraram insatisfação com a forma de taxação da Apple e demais plataformas.

10 - Epic: Taxa não afeta só "Fortnite"

O julgamento começou nos primeiros dias de maio deste ano. Para ganhar legitimidade e apoio, a Epic tentou incorporar outros aplicativos presentes na App Store na sua ação contra a Apple, alegando que a taxa não afeta apenas o "Fortnite". A Apple, em resposta, tentou reduzir o escopo do processo a aplicativos de jogos.

11 - É um jogo ou não é?

Durante o julgamento, outro embate: foi levantado a questão de o "Fortnite" ser ou não um jogo de videogame. "O 'Fortnite' pode parecer muito um jogo, no entanto, ele é mais do que isso, é um metaverso", disse Matthew Weissinger, vice-presidente de marketing da Epic Games.

A produtora ainda defendeu a sua própria plataforma de compra de jogos, a Epic Games Store. Lá, é possível encontrar outras lojas de games, como a plataforma itch.io, de jogos alternativos.

12 - O "simulador de incesto"

A Apple rebateu dizendo que lojas como essa contém todo tipo de jogos, muitos deles fora dos padrões de qualidade e de conteúdo da companhia, como o jogo "Sisterly Lust", basicamente um simulador de namoro em que o personagem principal se envolve em relações sexuais explícitas com sua mãe e irmãs.

13 - Tim Cook no tribunal

O julgamento avançou e, pela primeira vez na história, o diretor-executivo da Apple, Tim Cook, foi a um tribunal para prestar seu depoimento sobre o caso. Segundo a BBC, ele teve dificuldades de explicar o modelo de negócio da App Store e mesmo se a plataforma era lucrativa.

Contudo, Cook revelou que boa parte do dinheiro que entra na loja de aplicativos vem do sistema de taxação que a Epic questiona. O site TechCrunch classificou sua participação no tribunal como "mediana, ignorante e cuidadosamente direcionada".

14 - Até a Netflix foi envolvida

Embora muito dura com as irritações da Epic, a Apple avaliou seriamente mudar seu sistema para a Netflix, como foi revelado no tribunal. Em 2018, uma queda brusca no número de assinantes do streaming no iOS acendeu um alerta na Netflix sobre a segurança dos dados de seus usuários na plataforma, o que levou a companhia a avaliar um sistema de assinaturas fora da App Store. Uma negociação entre a Apple e a gigante do streaming quase levou Tim Cook a abrir uma exceção para a Netflix.

15 - Apple se defendeu falando de números

Em uma de suas últimas cartadas no tribunal, a Apple mostrou que a Epic Games paga menos para a companhia do que paga para outras plataformas concorrentes. Em 2017, o "Fortnite" rendeu US$ 237 milhões para a App Store, enquanto pagou US$ 245 milhões à Microsoft e US$ 251 milhões para a Sony no mesmo período.

A Epic retrucou dizendo que as fabricantes do PlayStation e do X-Box vendem seus consoles no mercado com subsídios, enquanto a Apple ganha rios de dinheiro com os iPhones e o iPads.

A Apple e a Epic Games não precisarão esperar muito para encerrar essa briga, pois a decisão da Justiça da Califórnia deve sair nos próximos dias. Vamos aguardar.