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App que monitora covid poupou vidas no Reino Unido; Brasil ignorou medida

App NHS Covid reúne rastreamento de contato e informações sobre covid-19 - Unsplash
App NHS Covid reúne rastreamento de contato e informações sobre covid-19 Imagem: Unsplash

Aurélio Araújo

Colaboração para Tilt

16/05/2021 04h00

Um novo estudo sugere que o uso de sistemas de rastreamento de contato ajudou a salvar milhares de vidas no Reino Unido. Publicado pela revista "Nature", o levantamento diz que quase 9.000 pessoas foram salvas na Inglaterra e no País de Gales graças ao app NHS Covid-19, que usa um sistema de notificação de exposição à doença desenvolvido por Apple e Google. O Brasil tem uma solução semelhante com o app Coronavírus-SUS, mas que não teve muito sucesso por falta de explicação e divulgação da ferramenta.

A pesquisa mostra que o app do NHS, o sistema de saúde público britânico, pode ter salvado a vida de entre 4.200 a 8.700 pessoas - o Reino Unido registra mais de 128 mil mortes pela covid-19 até o momento. Segundo o estudo, cada aumento de ponto percentual no uso do aplicativo resultava em uma redução de 0,79% dos casos.

"Nossa análise sugere que um grande número de casos da covid-19 foi evitado por rastreamento de contato através do aplicativo NHS, variando de aproximadamente 100 mil a 900 mil, dependendo dos detalhes metodológicos", acrescenta o estudo.

Os pesquisadores avaliaram o uso do app entre setembro e dezembro de 2020. Ao todo, 16,5 milhões de pessoas instalaram a aplicação (o equivalente a 28% da população do Reino Unido), e foram enviadas 1,7 milhão de notificações de exposição.

Integração com testes

O estudo sugere que a integração dos aplicativos com os testes da covid-19 foram importantes para controlar a disseminação da doença. Isso porque "os testes ordenados por meio do aplicativo acionam ações automaticamente, sem exigir que o usuário insira o resultado no app", o que acelera o rastreamento de contato.

Além disso, o estudo teoriza sobre como a funcionalidade dos aplicativos contribuíram para sua eficácia. O levantamento sugere que quem instalou o aplicativo costuma manter o distanciamento social acima do que teria feito caso não possuísse a aplicação, já que estaria ciente de que "ele monitora a distância e pode aconselhar a quarentena posteriormente".

"O uso de smartphones já é global e, portanto, os aplicativos de rastreamento de contato que preservam a privacidade devem ser integrados ao kit de ferramentas de saúde pública", conclui o estudo.

No Brasil, app fracassou por falta de uso

Muita gente nem ficou sabendo, mas em março de 2020 o governo divulgou o aplicativo Coronavírus-SUS, que depois passou a ter a função de rastreamento de contato. O funcionamento era semelhante ao app do NHS, ou seja, daria para saber quando alguém doente chegou perto de você usando o recurso de Bluetooth dos celulares.

Contudo, esse app nacional "flopou" basicamente porque ninguém explicou como a ferramenta funciona e por não haver uma campanha mostrando os benefícios da aplicação.

O Coronavírus-SUS passou a usar a tecnologia da Apple e da Google em agosto do ano passado. Sua divulgação foi feita prioritariamente pela imprensa e no canal do YouTube do Ministério da Saúde, que registrou menos de 10 mil visualizações na época.

A pouca divulgação pode ter refletido na adesão mínima dos brasileiros ao recurso. Até abril deste ano, o Coronavírus-SUS teve 61,5 milhões de downloads, segundo dados do Ministério da Saúde a Tilt. Mas eram apenas 2,3 milhões de usuários ativos até fevereiro de 2021, ou seja, menos de 1% da população brasileira.

Contudo, Claudio Miceli, professor de engenharia de sistemas e computação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), não credita o fracasso do Coronavírus-SUS apenas à falta de divulgação. Ele afirma que o rastreamento de contato esbarra em uma questão técnica que incomoda o brasileiro: a bateria do smartphone.

"De modo geral, o brasileiro não costuma deixar o Bluetooth ligado, pois gasta bateria. O app faz sentido do ponto de vista tecnológico, mas na prática, talvez, não fosse o suficiente para o Brasil", explicou.

Outro ponto levantado por ele é que todo brasileiro tem smartphone e o app do SUS tem compatibilidade limitada —para usá-lo, é necessário ter um iPhone com no mínimo iOS 13 ou um celular com sistema Android 6.0 ou superior.