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Quer ser famoso? Entenda por que algoritmo do TikTok é muito bom para isso

Artem Podrez/Pexels
Imagem: Artem Podrez/Pexels

Silvana Salles

Colaboração para Tilt

18/04/2021 04h00

Assim como nas outras redes sociais, o TikTok usa algoritmos para definir o que você verá. Mas por que será que tem tiktoker colecionando milhões de likes da noite para o dia no app chinês e o mesmo não acontece nas outras plataformas?

Especialistas e produtores de conteúdo consideram que a aba principal da plataforma é seu principal trunfo. A revista MIT Technology Review, a mais antiga publicação especializada em tecnologia no mundo, incluiu o algoritmo de recomendação da aba "Para Você" na sua lista anual de principais tecnologias disruptivas.

O curioso é que o algoritmo não tem nenhuma grande novidade técnica. Assim como em outras redes sociais, as recomendações do TikTok vêm do histórico de uso das pessoas que assistiram a conteúdo, curtiram ou comentaram algumas das mesmas coisas que você.

"O que tem (de novidade) é que eles usaram [os algoritmos] de uma maneira que ninguém tinha usado antes, com muito mais sinais", explica Altigran Soares da Silva, professor do Instituto de Computação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

Esses sinais incluem elementos como legendas, sons e hashtags, além do histórico de interação na plataforma. Com mais elementos, fica muito mais fácil captar qual é a intenção do espectador.

"Tem um princípio interessante, que é o seguinte: não importa muito se o seu algoritmo é bom ou ruim, mas se você tiver muitos dados, ele vai funcionar muito bem. Isso foi descrito inclusive por pesquisadores do Google, há muitos anos. Explica também o sucesso do algoritmo do TikTok", diz Altigran.

Por que desconhecidos viralizam?

As recomendações muito mais precisas justificam o sucesso da plataforma. Mas o que pode explicar pessoas com poucos seguidores viralizarem de repente? A resposta tem a ver com o "viés" de recomendações da plataforma, que é diferente do das outras redes sociais.

No geral, quanto mais popular uma pessoa é nas redes sociais, mais o algoritmo tende a concentrar as recomendações em torno dela. Assim, quanto mais seguidores a pessoa tiver, mais ela influenciará as sugestões de páginas e perfis que o público verá no feed.

O tiktoker Raphael Vicente - Acervo pessoal - Acervo pessoal
O tiktoker Raphael Vicente
Imagem: Acervo pessoal

"[Nesse modelo] Poucas pessoas vão dominar a rede em pouco tempo, e esse é um dos grandes desafios que a gente tem hoje em dia para resolver em sistemas de recomendação na internet e muita gente está procurando maneiras de quebrar isso", explica o professor da UFAM.

É ai que o TikTok se difere em relação às demais plataformas. Para minimizar o viés, o app chinês intencionalmente lança, de tempos em tempos, no feed das pessoas um vídeo que não tem nada a ver com o que ela costuma seguir. Segundo a informação da própria plataforma, o objetivo é diversificar o que as pessoas assistem.

Mais uma vez, não se trata de uma novidade técnica, pois já era uma solução usada pelo ecommerce, principalmente para vender produtos encalhados no estoque. A inovação está em usar esse recurso massivamente, numa escala sem precedentes.

Segundo o professor da UFAM, essa foi a solução da plataforma para tentar prevenir fenômenos como as câmaras de eco, que estimulam a radicalização dos usuários nas redes sociais. "Você acaba somente lendo e assistindo o que você tem lido e assistido ultimamente. Acaba entrando num buraco de coelho", diz o professor.

O carioca Raphael Vicente, 20, tiktoker com mais de 1,3 milhão de seguidores, tem pouco tempo de carreira no app: passou a postar conteúdo logo que a febre dos "challenges" (as dancinhas que inundam a rede social) começou, no começo de 2020.

"Eu não vou mentir, antes eu julgava as pessoas que usavam. É que tinha uns vídeos lá meio doidos. Eu falava assim: ai, gente, eu não vou usar isso, não! Até que um dia eu me rendi", confessa o jovem, que se tornou influenciador digital graças ao sucesso e a distribuição dos vídeos de humor que grava com a família.

O alcance obtido no TikTok, depois de sete anos produzindo conteúdo para a internet (primeiro no Vine, depois no YouTube), surpreendeu Vicente. "Esses dias eu vi que um vídeo meu, que é um vídeo que fala sobre superstições, atingiu um nível de likes que eu nunca imaginei que eu ia ter na minha vida. Ele tem 1,5 milhão de likes. É um número surreal", diz.

Carol Candido, produtora de conteúdo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Carol Candido, produtora de conteúdo
Imagem: Arquivo pessoal

A tradutora literária e produtora de conteúdo Carol Candido, 32 anos, mora em Portugal há três anos e profissionalizou suas redes sociais durante a pandemia. Agora, ela divide seu tempo entre os trabalhos de tradução, a produção de vídeos para as redes e o mestrado na Universidade de Lisboa.

Para relaxar, entra no TikTok e assiste aos vídeos tanto da aba que reúne as pessoas que segue, quanto da aba das recomendações. Carol relata, na prática, o efeito do que o professor da UFAM explica tecnicamente.

"O algoritmo do TikTok é muito inteligente, nesse sentido. Ele vê com o que eu interajo e me entrega muito mais daquilo. Quando eu estou na 'For You', como ele sabe que eu gosto muito de vídeo de comédia, de culinária, ele me entrega essas coisas. Então, às vezes sem perceber eu passo horas ali", conta a tradutora.

Não precisa investir tanto dinheiro

O resultado é a percepção de que a plataforma abre as portas para pessoas que ainda não se profissionalizaram, como observa Carol Candido. "Eu acho que o TikTok dá mais possibilidade para as pessoas, de serem um pouco mais naturais também, sem ser aquela vida blogueirinha perfeitinha do Instagram", diz ela.

"O Tiktok te viraliza sem você precisar investir um dinheiro ali. Ele te viraliza por seu conteúdo ser bom, ele não olha o que você investiu para o vídeo crescer. Eu acho que realmente abre mais oportunidades para todo mundo, de todos os níveis sociais", acrescenta Raphael Vicente, sendo ele mesmo exemplo disso.

Morador do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, Raphael atualmente faz parte do time de influenciadores digitais do estúdio Play9 e tem visto sua vida mudar graças aos vídeos que viralizaram.

"Eu estava um tempão sem produzir nada e acho que o TikTok me abriu a porta para voltar. O que foi bom, até porque eu estava há três anos já sem emprego", diz Raphael.

Hoje, ele se sustenta e ajuda a família só com o dinheiro que recebe pelos vídeos. "Tenho gente que me segue do mundo todo, de canto que eu nunca ouvi nem falar. Fora que eu já recebi apoio de gente muito grande. A Tatá Werneck, o Hugo Gloss já postou um vídeo meu, a Cardi B já compartilhou um vídeo meu", conta.