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No Congresso, big techs falam pouco e chefe do Twitter até ironiza na rede

A partir da esquerda: Jack Dorsey (Twitter), Sundar Pichai (Google) e Mark Zuckerberg (Facebook) durante depoimento no Congresso dos EUA nesta quinta (25) - Montagem com imagem de Reprodução/ YouTube e Kathryn Trowbridge/Pixabay
A partir da esquerda: Jack Dorsey (Twitter), Sundar Pichai (Google) e Mark Zuckerberg (Facebook) durante depoimento no Congresso dos EUA nesta quinta (25) Imagem: Montagem com imagem de Reprodução/ YouTube e Kathryn Trowbridge/Pixabay

Lucas Santana

Colaboração para Tilt

25/03/2021 19h10Atualizada em 26/03/2021 14h44

Os executivos-chefes do Google, Facebook e Twitter foram sabatinados nesta quinta (25) por representantes do Congresso dos EUA sobre a disseminação de mentiras e desinformação nas suas plataformas. A sabatina, intitulada "O papel das redes sociais na distribuição de desinformação e extremismo", faz parte de uma série de conversas dos congressistas com os executivos do Comitê de Energia e Comércio no Congresso americano. Essa é a primeira reunião do comitê após os ataques de extremistas ao Capitólio, em janeiro.

Sundar Pichai (Google), Mark Zuckerberg (Facebook) e Jack Dorsey (Twitter) responderam por várias horas perguntas incisivas dos congressistas americanos. Cada parlamentar tinha direito a cinco minutos para fazer perguntas. E teve de tudo: questionamentos sobre a facilidade de espalhar fake news nas redes sociais, os efeitos do uso das plataformas sobre a saúde mental de crianças e adultos, a influência sobre a polarização da sociedade, o incentivo de conteúdos extremistas, de supremacistas e, claro, os episódios do ataque ao Capitólio em janeiro, em Washington, e o consequente banimento do ex-presidente Donald Trump do Twitter.

Com o tempo curto, os executivos tentaram escapar diversas vezes de respostas concretas, explicando como suas empresas e políticas internas funcionam, o que irritou alguns parlamentares. "Vocês não conseguem responder uma pergunta simples como sim ou não", declarou a democrata Anna Eshoo.

O executivo do Twitter, Jack Dorsey, ironizou o comentário da parlamentar em sua conta no Twitter com uma enquete.

Logo no início, parlamentares questionaram os executivos sobre a facilidade de encontrar informações distorcidas sobre vacinas neste momento crítico da pandemia de covid-19 nos EUA e no mundo. "Vocês podem consertar isso, mas escolheram não fazer. Vocês preferem engajamento e lucro ao invés de saúde e segurança dos seus usuários", disse o democrata Mike Doyle.

Censura nas redes sociais

Impactados pela radicalização de parte do partido durante a era Trump, congressistas republicanos relataram seus receios aos executivos sobre censura de conteúdos nas redes. "Me preocupa muito as decisões que vocês tomam de administrar suas empresas de modo parcial, vago, com pouca responsabilidade", afirmou o parlamentar republicano Bob Latta.

Jack Dorsey foi perguntado sobre a decisão do Twitter de bloquear a conta do jornal New York Post após a publicação de uma reportagem sobre Hunter Biden, filho do atual presidente dos EUA. O bloqueio da conta de Trump após o episódio no Capitólio também foi abordado.

O executivo respondeu que sua plataforma não tem uma política específica sobre desinformação, mas que foca suas ações de moderação de conteúdo em integridade civil, manipulação e saúde pública. Sobre Trump, Dorsey afirmou que aprovou pessoalmente o banimento do ex-presidente norte-americano.

Crianças nas redes sociais

Temas como os efeitos das redes sociais sobre a saúde mental de crianças e adolescentes surgiram algumas vezes. "Quanto você ganha com a reprodução de publicidade infantil para crianças abaixo de 13 anos?", perguntou a democrata Anna Eshoo. Zuckerberg se conteve em responder que suas redes sociais não permitem que crianças usem a plataforma.

"O que está deixando nossas crianças tão profundamente deprimidas? Por que crianças, inclusive no ensino médio, se sentem tão vazias e vulneráveis? Alguns estudos apontam que muito tempo na frente das telas e nas redes sociais levam a sensações de solidão e desespero", disse a republicana Cathy McMorris aos executivos.

"Uso o YouTube para assistir conteúdos educacionais. Meus filhos têm 5 e 6 anos, e quando assistimos vídeos na plataforma, estou supervisionando o que eles assistem", afirmou Zuckerberg.

Em sua vez, o republicano Bill Johnson comparou o uso de redes sociais por menores de 13 anos como colocar um cigarro na mão de uma criança.

Ataques ao Capitólio e extremismo político

Perguntados se as redes sociais eram responsáveis por espalhar teorias da conspiração e a radicalizar pessoas em movimentos políticos, como a hashtag #StopTheSteal, ligadas aos ataques ao Capitólio, Pichai, do Google, lembrou que não há respostas simples, mas que a empresa tem se esforçado para implementar medidas para combater a desinformação nas eleições.

Zuckerberg não soube responder sim ou não, mas afirmou que o Facebook está trabalhando para combater fake news, que os ataques ao Capitólio são resultado do mau uso das redes e ainda defendeu a empresa.

"A responsabilidade pelos ataques ao Capitólio é de pessoas que partiram para a ação e cometeram crimes. Também de pessoas que compartilharam esse tipo de conteúdo, incluindo o presidente. Nossos algoritmos são criados para aumentar interações sociais significativas", afirmou o executivo.

Em resposta aos congressistas, o executivo disse ainda que não são apenas as bolhas das redes sociais que polarizam a sociedade, e que pesquisas apontam que a polarização existia muito antes do surgimento das redes sociais. "A divisão que vemos hoje é resultado dos ambientes político e midiático, que seguem separando os americanos", disse Zuckerberg.

Dorsey, do Twitter, respondeu que sim, mas que há um um ecossistema muito maior para levar em consideração. "Não é apenas sobre as plataformas que usamos", afirmou.

Modelo de negócio

Parlamentares questionaram os executivos sobre a forma como as empresas ganham dinheiro, em especial em relação aos algoritmos que buscam engajamento das pessoas a qualquer custo, inclusive a partir de conteúdos mentirosos. Mark Zuckerberg foi categórico e negou que suas empresas lucram com desinformação.

Todos foram perguntados se o Congresso deveria responsabilizá-los pela forma como conduzem seus negócios. Zuckerberg disse que se responsabiliza diante das autoridades e do público. Pichai, do Google, seguiu o mesmo raciocínio. "Sim, estou aqui hoje e sou responsável", afirmou. Jack, do Twitter, se conteve em responder um simples "sim".